Poesia em tempos de desassossego - Homo, Mensura, António Cabral
POESIA EM TEMPOS DE DESASSOSSEGO
HOMO, MENSURA
Eu não irei convosco, puros habitantes do sonho.
O meu lugar é aqui, entre os homens:
falo a sua linguagem, sinto as suas dores
e tenho a consciência bem agarrada
à carne e ao espírito – os dois poços
em que nasce, desagua e se debate
a impetuosa água do meu pensamento.
Que me importam inimagináveis galáxias
e os poemas apenas feitos de palavras?
Reflitam-se as galáxias em nosso espírito
e sejam carne da nossa carne.
Encham-se os poemas do sangue
que nos turva, perturba e inunda as veias.
A única poesia em que acredito é a do homem.
António Cabral,
Poemas Durienses