Palavras Soltas... - O desenvolvimento local e a animação turística
PALAVRAS SOLTAS...
O DESENVOLVIMENTO LOCAL E A ANIMAÇÃO TURÍSTICA
“[…] não é o turismo que permite o desenvolvimento,
mas o desenvolvimento […] que torna o turismo rentável”.
Ascher (1984)
Resumo
Apresenta-se o conceito de turismo sustentável e, tendo este conceito como pano de fundo, problematiza-se o papel da inovação versus tradição em termos do desenvolvimento (turístico) local.
Finalmente, releva-se o papel essencial da animação (sociocultural e turística) como filosofia/fundamento, estratégia e técnica, na tarefa da (re)construção (turística) local.
Palavras-chave: Desenvolvimento local, turismo, sustentabilidade, animação sociocultural, animação turística.
1.- O Turismo no contexto do Desenvolvimento Local
“Que o impossível se torne provável”.
Françoise Lanfant (1992)
Na Europa, a partir dos anos 50, as conquistas sociais e o aumento da renda salarial tornam possível, a uma parcela crescente da população, o uso do tempo livre em viagens de turismo.
O modelo de sociedade urbano/industrial estruturada no tripé trabalho-moradia-lazer, faz surgir, entre outras coisas, o desejo de evasão do quotidiano num número crescente de pessoas que, sujeitas ao ritmo frenético imposto pelas cidades, cada vez mais artificiais, vê na viagem uma maneira de escapar da rotina do trabalho repetitivo, de recuperar-se física e mentalmente do desgaste causado pelo meio urbano, desfrutar de momentos de liberdade, entrar em contacto com a natureza, enfim, viver novas experiências em outros territórios, que não o seu.
Neste sentido, também no turismo, como em qualquer ramo de negócios, está por trás um poderoso esquema de promoção e marketing, cujo objetivo é vender o «produto turístico», para usar uma expressão comum na linguagem dos profissionais do sector. Um produto que encarna as virtudes e os defeitos, encontrados em qualquer mercadoria com mercado de consumo garantido na era da civilização global. Os fabricantes da mercadoria «viagem» estão conscientes disso e, prometem satisfação garantida para os que a compram, utilizando um sistema de divulgação cada vez mais sofisticado, onde oferecem muito conforto, muita natureza, descontração e liberdade, enfim, lugares paradisíacos que contrastam com o espaço habitual e banal do turista. A definição de Miossec (1977), de que o espaço turístico é, antes de tudo, uma imagem, é muito bem trabalhada pelos promotores de viagens.
Imagem transformada em mercadoria pelo marketing turístico, dentro da lógica do capital e consumida pelo «homem-férias», no dizer de Krippendorf (1989). Com efeito, para compreender o turismo no contexto da sociedade global, é preciso examiná-lo não apenas como fenómeno social mas, sobretudo, como um «produto».
O conceito de produto turístico não tem uma única definição. Podem-se perceber três enfoques, segundo Ivars Baidal (2003):
- Enfoque baseado no carácter descritivo
A oferta turística é entendida como um conjunto de bens e serviços diversos que são guiados pela procura. O elo de ligação é o consumo de alojamento, restaurante, transporte, tudo unido pela comercialização de bens e serviços. Pode-se entender como um produto concreto, orientado para determinados segmentos de mercado, os produtos turísticos específicos, como o turismo cultural e religioso, turismo de saúde, desportivo, de sol e praia, de congresso, etc.
- Focalizado no processo de produção turística
É um plano ou programa de viagem de ida-e-volta que um turista realiza. Pode ser elaborado pelo próprio turista (autoconsumo) ou por um profissional sob a forma de pacote; congresso, etc.
- Enfoque que identifica a oferta turística como um produto global ou destino
Um produto turístico é uma combinação de prestação de elementos tangíveis e intangíveis que oferecem alguns benefícios ao cliente como resposta para certas expectativas e motivações. O produto aqui é concebido como uma realidade integrada que os turistas percebem e que não é composto por um único elemento mas por um conjunto. De um ponto de vista territorial, o produto turístico é o destino no seu todo, ou seja, o território. O espaço/território é, assim, a matéria-prima do turismo (Yázige, 1996).
Os componentes do produto global são os atrativos que motivam a deslocação, os serviços públicos e privados, sob um ponto de vista amplo, onde se incluem desde os hotéis e restaurantes, hospital ou o comércio, até mesmo aspetos intangíveis como a atitude da sociedade local para os turistas.
Este enfoque é complicado quando se considera que a satisfação do turista dependerá de suas próprias expectativas e sua perceção dos componentes do produto.
Percebe-se de uma maneira simplista a constituição do produto turístico sob uma visão basicamente economicista, porém, a perceção obtida pelos turistas é algo mais abrangente, acabando por interferir em todo o território como destino não só de uma forma económica, mas também nos aspetos sociais, naturais e culturais.
Quando o turista realiza a viagem, terá consumido o território turístico diretamente, sofrendo este, e tudo quanto o compõe, impactos, quer sejam eles positivos ou negativos.
Assim, quando falamos em desenvolvimento turístico, devemos entender que esta expressão não é sinónimo de desenvolvimento pois nenhuma atividade económica sectorial pode assegurar um desenvolvimento global que contemple todas as dimensões da vida social (Cruz, 2000).
O fenómeno turístico, alias como em todos os aspetos da sociedade do século XXI, está em profunda mudança. E as grandes mudanças do turismo de hoje, implicam, reforçam o aparecimento de novo(s) modelo(s) turístico(s) alternativo(s), culminando naquilo que autores (Trzyrna, 1995) classificam de lógica da sustentabilidade.
Definido como processo de mudança social e de elevação das oportunidades presentes da sociedade, sem comprometer a capacidade das gerações futuras verem atendidas as suas próprias necessidades, o desenvolvimento sustentável requer a compatibilização, no tempo e no espaço, entre crescimento, eficiência económica, conservação ambiental, qualidade de vida e equidade social.
A Cimeira do Rio (1992) colocou os princípios de um desenvolvimento sustentável.
Por outro lado, a nível dos grandes organismos internacionais, a importância do ambiente, como estratégia do desenvolvimento começa por delinear-se logo em 1972, ano em que a ONU realiza a Conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano, onde são produzidos documentos como a «Declaração sobre Ambiente Humano, um Plano de Acão», e é criado o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA).
Em 1995, a Comunidade Europeia, publica o «V Programa em direção a um Desenvolvimento Sustentável», contendo algumas medidas e ações sectoriais no sentido da sustentabilidade. No mesmo ano, a Conferência Mundial sobre Turismo realizada em Lanzarote, elabora a «Carta Mundial para o Turismo Sustentável».
Entre os princípios e objetivos enunciados na Carta, sobressaem alguns elementos chave do desenvolvimento local, entre os quais, o reconhecimento de fatores locais como o ambiente e a cultura na definição da estratégia turística, ou ainda a cooperação e coresponsabilização dos diversos intervenientes e a participação das comunidades locais na satisfação do turista.
A Conferência Mundial de Turismo Sustentável recomenda aos governos nacionais e regionais, a construção com urgência de planos de ação para um desenvolvimento sustentável aplicados ao turismo, em consonância com os princípios enunciados na Carta (Batouxas, 2001).
O conceito de turismo sustentável compreende cinco dimensões:
- sustentabilidade ecológica;
- sustentabilidade social;
- sustentabilidade cultural;
- sustentabilidade económica;
- sustentabilidade espacial.
A sustentabilidade ecológica traduz-se em proteção/ conservação da natureza e da diversidade biológica. Pressupõe o respeito pela capacidade de suporte dos ecossistemas e pelo limite de consumo dos recursos naturais. A sustentabilidade social significa a participação cidadã no processo de desenvolvimento para assegurar um padrão negociado e mais estável de crescimento, e menos desigual, em termos de renda e de qualidade de vida. Já a sustentabilidade cultural pressupõe a necessidade de se buscar soluções de âmbito local, valorizadoras das especificidades das culturas locais. A sustentabilidade económica, por sua vez, significa não só a compatibilização entre crescimento e utilização sustentável dos recursos naturais, mas ainda a internalização nos locais dos vetores de crescimento económico (Sachs, 1993).
O turismo sustentável é um instrumento de fixação das populações. Mas pensar em estratégias baseadas na sustentabilidade implica um questionamento que não tenha somente em conta o equilíbrio do crescimento turístico ou a proteção do património e das áreas naturais protegidas. Um turismo sustentado é um modelo que apela a uma lógica de autenticidade, porque integrador de sentidos múltiplos e vários agentes, sendo, para isso necessário alargar a noção de experiência turística para além do olhar do visitante e da estratégia do vendedor.
A haver uma ética na indústria turística atual, ela deverá passar por uma política que privilegie a relação:
- Dos visitantes com as comunidades locais
A indústria turística não pode privilegiar unicamente os turistas, esquecendo que os produtos culturais têm origem em atores sociais, com uma dignidade intrínseca, e uma palavra a dizer do património e dos espaços que partilham com aqueles que os visitam. A qualidade de vida das populações e o enriquecimento mútuo entre população e visitantes deve ser uma preocupação dos modelos turísticos. Nos contactos culturais está sempre presente uma possibilidade de conflito (Eller, 1999), o qual não pode ser alimentado pela indústria turística.
- Dos atores sociais com o meio ecológico e o património histórico e cultural
Não se pode continuar a desenvolver um turismo ecológico meramente com a gestão de visitantes e com a defesa do ambiente. Os atores devem assumir uma experiência de relação com o meio que visitam, em que o próprio processo turístico seja planeado como forma de o preservar e valorizar. A relação com o meio ambiente deverá resultar num sistema sócio natural criativo e em constante renovação (Bennett, 1995).
O património, por outro lado, constrói-se, «ativa-se» (Llorenç Prats, 1997:31), significando que toda a operação de construção ou de ativação patrimonial comporta em si mesma um propósito ou finalidade, uma idealização construída por uma sociedade sobre quais são os seus próprios valores culturais, revelando, por conseguinte, a sua identidade coletiva, veiculando uma consciência e um sentimento de grupo, para os próprios e para os demais, erigindo, nesse processo, fronteiras diferenciadoras que permitem manter e preservar a identidade coletiva.
O património, como interpretação do passado, é uma recriação da história, que emana visões essencialistas do passado e neutraliza as contingências históricas (Peralta, 2003).
O legado patrimonial é, assim, “um legado falsificado para fins de identificação coletiva, apesar de beber nos factos históricos e na diversidade cultural os motivos para a sua formulação” (Peralta, 2003: 86). Tem, assim, um uso de identificação simbólica.
Para além dos fins de identificação simbólica, o património serve também, intrinsecamente, os propósitos de quem ativa esses repertórios patrimoniais, ou seja, serve fins políticos, quando fornece os símbolos que “favorecem a coesão social ao mesmo tempo que legitima as instituições sociais que emanam estes mitos ma medida em que suprimem a contradição e a tensão dialéticas desfragmentadoras da realidade e a contestação” (Peralta, 2003: 86).
Por outro lado o património tem ainda um outro uso. Por via do seu aproveitamento turístico, ou uso económico, “no contexto de uma sociedade «pós-tradicional», nostálgica e carente de elementos de identificação coletiva, confere ao património uma nova vitalidade” (Peralta, 2003: 87).
A dimensão mais explicitamente utilitária do património, como é a turística, convive com as duas anteriores numa relação de complementaridade e de retroalimentação, pois os referentes simbólicos fornecem os motivos que alimentam a indústria turística e a indústria turística recria os elementos culturais e a própria história, emanando novos referentes simbólicos que dão substância à imaginação coletiva (Peralta, 2003: 86), integrando-se naquilo a que Hobsbawm designa na nova «mitologia retrospetiva» que sobre o património é erigida e acrescentando-lhes novos elementos.
Sendo a autenticidade um constructo, o património que é inventado para satisfazer a procura turística não é menos autêntico do que aquele que é resgatado de um «corpus» cultural, nem a cultura que resulta desse processo de recriação será, como refere Santana Talavera (1998: 39), uma cultura «bastarda».
Contextualizar o turismo não significa unicamente salientar a dimensão local e estabelecer as relações com os espaços envolventes, no sentido de turismo aberto. Contextualizar significa, aqui, partilhar os «textos» (estratégias e discursos) de realidades diferentes num espaço comum, de modo a que os agentes desta relação de partilha possam entender os vários sentidos presentes. Só dentro desta lógica da relação de partilha se pode compreender hoje o turismo, nas variadas dimensões de que ele se reveste.
E, assim, evitar-se aquilo que, como afirma Joaquim (2003: 5), a preservação da tradição leve, como aconteceu na última década, “ao florescimento de aldeias cenário, fantasmas, propriedade de citadinos, que nos poucos fins de semana que passam na aldeia alentejana, carregados de compras dos hipermercados da capital, se arriscam a ir aliviar o stress, para um Alentejo sem alentejanos”.
Como diz Giddens: “Uma tradição que é esvaziada de conteúdo, comercializada, torna-se uma herança ou um kitsch, um berloque sem valor que se compra na loja do aeroporto. Quando tratada pela indústria da herança, a herança é a tradição refeita em termos de espetáculo. Os edifícios reconstruídos em locais de interesse turístico podem parecer esplêndidos, e a reconstrução pode ter sido autêntica até ao mais ínfimo pormenor. Mas a herança assim protegida deixa de ser alimentada pelo sangue vital da tradição, a qual está em conexão com a experiência da vida corrente”. (Giddens: 2000: 51).
Mas aqui devemos também ter em devida conta Augusto Santos Silva quando nos alerta para o carácter dinâmico do património ao nos alertar que “o que definimos hoje como valor patrimonial não é o mesmo que definíamos noutras épocas. E o que valorizamos hoje como referência patrimonial – por exemplo um sítio monumental – é o resultado de múltiplas e, muitas vezes, contrárias intervenções humanas. Não vejo, pois, como haveremos de pensar produtivamente, em matéria de conservação e salvaguarda, se teimarmos em procurar autenticidades e primordialidades imaginárias” (citado por Santos, 2002: 348).
Conceitos como inovação e tradição, num contexto de sustentabilidade, pressupõem em primeiro lugar, espaços vividos, habitados, com estratégias realistas de desenvolvimento socioeconómico, onde a fixação de populações é o fator determinante.
Entre o liberalismo selvagem, que não reconhece valores ecológicos e culturais, e o ambientalismo radical que só reconhece florzinhas e passarinhos, o desafio para as comunidades locais que queiram apostar no turismo como uma das estratégias para o seu desenvolvimento é o de abrirem-se ao exterior, modernizando-se pela função turística e, ao mesmo tempo, implicarem-se num reinvestimento do seu passado, reestruturação do seu património, na manutenção e revitalização das suas tradições, realçando a topofilia, o elo emocional entre uma pessoa e um lugar ou envolvente física, o mesmo que dizer, o sentimento de pertença a um lugar ou região de origem, de residência, de trabalho ou de lazer.
Como afirmam Roca e Oliveira (2002: 12), ”temos todas as razões para acreditar que para além dos efeitos benéficos derivados da coesão entre as «forças» locais e , um forte sentido de topofilia entre os atores e agentes de desenvolvimento individuais e institucionais poderão favorecer a compatibilização com as «forças» globalizadas no processo de (re)valorização das identidades territoriais. Dado que a topofilia reflete bem o nível de satisfação das pessoas com os vários parâmetros da qualidade de vida sobre um dado território (de carácter ambiental, económico, cultural e político, entre outros), então será de esperar que um mais forte sentido de pertença territorial poderá ser complementar ao fortalecimento do poder de atração dos lugares e das regiões”, ou, como diz Santos (2002: 349), “importa vitalizar construções culturais dos espaços, associadas à capacidade de afirmação das singularidades locais adequadas a um nível global”.
A sustentabilidade, que alguns autores já designaram de a quadratura do círculo, ao postular a simultaneidade da rentabilidade económica, equidade social e preservação dos ecossistemas, é um desafio que as populações locais enfrentam, dispondo atualmente de um conjunto de instrumentos onde a tradição materializada pelas especificidades locais e a inovação, produto do partenariado local com os poderes públicos e a comunidade científica, se torna hoje possível, pela profunda alteração do perfil dos visitantes em curso.
2.- Animação Turística no contexto da Animação Sociocultural e do Desenvolvimento Local
“É preciso não se render a quem proclama que
sonhar é uma forma de fugir do mundo e não de recriá-lo”
Paulo Freire
O turismo insere-se no âmbito do tempo livre. Mas, como afirma Manuel Cuenca Cabeza, “se admitirmos a separação entre ócio e tempo livre, considerando que o tempo livre é simplesmente uma possibilidade ou, em todo o caso, uma condição para a prática do ócio, mas que no fundo não se pode identificar com ele, o ponto de partida [para o turismo] temo-lo agora no ócio” (Cuenca, 2006: 131).
Tradicionalmente, diz Manuel Cuenca Cabeza, “o ócio tem sido considerado um aspeto residual da vida, uma parte pouco significativa, secundário, um luxo, algo periférico”. Contudo, “atualmente, começa a ser um elemento central, qualquer coisa que pode ser experimentada pela maioria das pessoas”. (Cuenca, 2004: 336) “uma ocasião para viver experiências satisfatórias, que se transformam em âmbito de realização pessoal, identificação e integração comunitária, quando se vivem de um modo positivo” (Cuenca, 2006: 133).
A conceção que fazemos do ócio é, assim, na esteira de Cuenca Cabeza, uma conceção que parte do ócio como exercício de liberdade e, como tal, de desenvolvimento pessoal e comunitário do ser humano; de um conjunto de direitos fundamentais, incluídos na categoria jurídica dos direitos humanos e do ócio encarado como qualidade de vida, entendida como a satisfação das distintas necessidades humanas, sob parâmetros sociais e humanos equitativos e justos, numa base de igualdade, respeito e não discriminação, ou seja, “falar de ócio […] é falar da prática de um novo humanismo tornado realidade através do desporto, do turismo, da leitura, do desfrute da arte, da distração, do jogo, do encontro com a natureza, da vivência de festividades ou do exercício da solidariedade” (Cuenca, idem. 338).
Entendido desta forma, o ócio é um dos âmbitos, e objeto, da animação. Contudo, e como afirma Cuenca Cabeza, citando Maria do Cármen Vega, a diferença com o turismo está em que “as actuações da indústria do ócio [em que se incluem a recreação, turismo, desporto e cultura, entre outras] dão prioridade ao consumo de um produto, de uma actividade de ócio com a intencionalidade última de obter uma rentabilidade económica” (Cuenca, 2006: 134)
Praticar turismo é afirmar-nos como seres “modernos” através do uso de bens de consumo convertidos em signos e veículos de significação (Pereiro, 2006b).
O consumo turístico não está influenciado apenas pelo preço das suas mercadorias mas também pela construção e invenção social da sua necessidade (Pereiro, 2006b).
Neste sentido, “a relação entre turismo e animação é cada vez mais debatida. Tal discussão advém, no meu ponto de vista, de uma necessidade do mercado turístico em ocupar o tempo de estadia do turista, distender a duração da estadia e fidelizar o turista. Apostar na animação tem, portanto, um significado mercantil básico: a animação é uma estratégia de cativação turística. A animação pode aparecer numa oferta turística, como algo complementar, como mais um produto da oferta turística ou como um produto central na oferta turística que relega outros aspetos para um segundo plano” (Pereiro, 2006a: 290).
Mas, por outro lado, refere ainda este autor, “a animação turística – seja aplicada em hotéis, casas TER, por empresas específicas ou pelas comunidades recetoras de turistas – tem outra dimensão que é a possibilidade de criar um espaço de enriquecimento intercultural, entre locais e visitantes. Isto implica considerar a animação como um simples negócio turístico, no qual se procura a mera recreação e alienação, mas também como uma oportunidade de intercâmbio que contribui para o entendimento mútuo entre pessoas vindas de diferentes universos sociais e culturais (Pereiro, 2006a: 290).
Lopes (2006: 362 e 364) entende, também, a animação turística como “(…) um conjunto de técnicas orientadas para potenciar e promover um turismo que estimula as pessoas a participarem, crítica e informadamente, na descoberta dos locais, sítios e monumentos que visitam”, tendo como “pressuposto a necessidade de se criar motivação e implicar o turista numa participação cultural e social que não descure o relacionamento com o meio e com as populações visitadas”.
E refere que “o aspeto fundamental da Animação turística é a interação com as pessoas e com o meio onde se está, gerador de um potencial desenvolvimento económico, social, cultural, ambiental” (Lopes, 2006: 364-365).
“Para este autor, a animação turística tem como objetivos centrais:
- "levar as pessoas a relacionarem-se com o meio que visitam (pessoas, património natural, paisagem, crenças e tradições, património arquitetónico, associações existentes, artesanato, gastronomia, festas populares, etc.;
- substituir o ver pelo envolver, procurando uma integração ativa social e cultural;
- criar processos dinâmicos e criativos, fruto de diferentes interações, em que se articulem valências culturais, sociais e educativas;
- transformar o tempo livre em ócios criativos e rejeitar o tempo morto e a ociosidade depressiva;
- estabelecer comunicação entre a população nativa de um espaço visitado com a população visitante, através de eventos e experiências que passem por convivências, assentes em partilhas de saberes, partilhas culturais, partilhas inter e multiculturais, etc.” (Lopes, 2006: 362-363).
Para Lopes (2006) e Pereiro (2006a), a animação turística deve ser entendida primacialmente como um instrumento, uma técnica de envolver o turista, partilhando com ele, e uma estratégia de ação, projetando, junto do turismo, a sua capacidade técnica e metodológica de gerar processos participativos e criativos.
Pensamos, contudo, que a animação turística deve ter como matriz a animação sociocultural como “o conjunto de ações realizadas por indivíduos, grupos ou instituições numa comunidade (ou sector da mesma) e dentro do âmbito de um território concreto, com o objetivo principal de promover nos seus membros uma atitude de participação ativa no processo do seu próprio desenvolvimento quer social quer cultural” (Trilla, 2004: 26). Animação sociocultural que, na linha de Ucar (1992: 63-64), deve ser entendida tendo em conta os seus elementos teleológicos e metodológicos, como sejam, o desenvolvimento da conscientização e o sentido crítico; a participação; a integração social; a dinamização sociocultural; a inovação e a criação cultural; a utopia e, finalmente, a intervenção social e as técnicas. Ou ainda, partilhando da posição de Caride Gómez, quando afirma que o sentido último da animação sociocultural “é a democracia como envolvimento duradouro e estável na resolução dos problemas quotidianos, alargando a participação dos cidadãos a todos os espaços e tempos possíveis: empresas, escolas, povoações, zonas residenciais, centros cívicos, etc.”, não se devendo “hesitar em reivindicar uma reinterpretação do conceito de cultura, do papel do homem e da sua contribuição para o êxito de um desenvolvimento mais harmonioso, integrado e global” (Caride, 2004: 61).
Estamos com Xavier Puertas (2004: 32-33) quando defende que ao conceito de animação turística proposto por Trilla – que enfatiza as dimensões cultural, social, de participação e associacionismo, humanos e educativos – se deve juntar uma quinta dimensão ou grupo de finalidades, as que realçam o desenvolvimento económico da empresa, do local e da região.
A animação turística, na linha do que vimos defendendo em termos de desenvolvimento local, deve ter sempre como filosofia, fundamento da ação, a comunidade residente recetora que, no ato da relação e da partilha, se apresenta em toda a plenitude do seu ser, evidenciando e partilhando com o outro (o turista) o seu saber e saber fazer, sabendo estar, aprendendo juntos.
Assim, todo e qualquer produto turístico, simples ou compósito, como seja o território como destino, que não se impregne e comprometa com a construção de uma “identidade” e “autenticidade”, própria e específica, de cada sítio, local ou região, sujeita-se a não passar de uma simples e fugaz mercadoria, num mercado turístico global, prenhe de agressividade e cada vez mais exigente de verdadeira especificidade.
Considerações finais
Face ao que acima ficou dito, e tendo em conta as novas subjetividades e identidades que constantemente a dita pós-modernidade está criando e recriando (Giddens, Touraine), o território, que se quer também turístico, deve ser (re)construído envolvendo, e unindo, todos os «atores» que, no local, «visionam» o seu futuro, usando a inovação, aprendizagem, as redes e a governância como fatores decisivos, e em que a coesão interna de todos os elementos que o compõem, aliada a uma necessária abertura ao exterior, se assumem como determinantes para o seu sucesso.
Mas a sustentabilidade do território, que também se quer turístico, não se faz apenas com os atores locais. Faz-se, transforma-se e reconstrói-se também pela partilha e aprendizagem com os visitantes, nossos hóspedes.
Em suma, o desenvolvimento (turístico) local (re)constrói-se pelo embate quotidiano dos diferentes atores do local, movidos pelos seus interesses, e reprocessado pelas suas representações político-sociais, pelas suas empresas, planeadores e governos, tendo como referência os padrões de consumo dos atuais e novos turistas, as necessidades das populações locais, as expectativas de lucratividade e os imperativos de conservação ambiental, tendo, sempre, como pano de fundo, a qualidade de vida das populações e dos cidadãos e a sustentabilidade.
Bibliografia
AGHÓN, G. (Org.) (2001). Desarrollo económico local y descentralización en América Latina: análisis comparativo. Santiago do Chile: Cepal/Gtz.
AYDALOT, P. (1985). Economie Régionale e Urbaine, Paris: Economica. AYDALOT, P. (1986). “L’aptitude des milieux locaux à promouvir l’innovation”, in Federwisch, J., e Zoller, H. (Orgs.). Technologie Nouvelle et Ruptures Regionales. Paris: Economica.
BATOUXAS, M. (2001). Turismo Ambiente e Desenvolvimento Regional. (5de Janeiro de 2008]
BENKO, G.; LIPIETZ, A. (Org.) (1994). As Regiões Ganhadoras. Oeiras: Celta Editora.
BENKO, G. (1995). “Les théories du développement local”, in Problèmes économiques, nº 2440: 22 – 27.
BRAMANTI, A. (1999). “De l'Espace au Territoire: développement relationnel et competitivité territoriale. L'aproche du GREMI dans le debat contemporain”, in Revue D'Economie Regionale et Urbaine, 3: 429-448.
BRASIL. MINISTÉRIO DO TURISMO. SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS DE TURISMO (2006). Turismo cultural: orientações básicas. Brasilia: Ministério do Turismo.
CAMAGNI, R.; MAILLAT, D.; MATTEACCILOI, A.; PERRIN, J-C. (1999). “Le Paradigme du Milieu Inovateur dans L'Economie Spatiale Contemporaine”, in Revue D'Economie Regionale et Urbaine, nº 3, 424-428.
CARIDE, J. A. G. (2004). “Paradigmas teóricos na animação sociocultural”, in Trilla, J. (Coord.) (2004), Animação sociocultural – Teorias, programas e âmbitos. Lisboa: Instituto Piaget, 45-63.
CARIDE, J. A. G. (2007). “Por uma animação democrática numa democracia animada: sobre os velhos e os novos desafios da animação sociocultural como prática participativa”, in Peres, A. N.; Lopes, M. S. (Coord.s) (2007), Animação sociocultural – Novos desafios. Chaves: APAP, 63-75.
CAZES, G. (1989). “Les Nouvelles Colonies de Vacances. Le tourisme international à conquete du Tiers Monde”, in Col. Tourisme e Societés. Paris: Ed. L’Harmatam.
CERQUEIRA, C. E. D. (2001). As Parcerias no Desenvolvimento Local: o papel dos agentes de mediação numa abordagem territorial do desenvolvimento. Disponível <http:\\www.carloscerqueira.com/index cv.htm> [12 de Março de 2002].
CRUZ, R. A. (2000). “Turismo e o mito do desenvolvimento”, in Espaço e geografia, vol. 3: 21-312.
CUENCA, M. C. (2004). “Ócio e animação sociocultural”, in Trilla, J. (Coord.) (2004), Animação siciocultural – Teorias, programas e âmbitos. Lisboa: Instituto Piaget, 335-349.
CUENCA, M. C. (2006). “Ócio e Animação”, in Peres; A. N.; Lopes, M. S. (Coord.s) (2006), Animação, Cidadania e Participação. Chaves: APAP, 126-139.
DONAIRE, J. A. (1998). “La geografía del turismo después del fordismo: turistas en las fábricas, turistas en los centros comerciales”, in Sociedade e Território, nº 28: 55-68.
ELLER, J. (1999). From Culture to ethnicity to conflict. An Anthropological Perspective on International Ethnic Conflict. Michigan: The University of Michigan Press.
FLORIDA, R. (2000). “The Learning Economy”, in Zoltan, J. Acs (Org.). Regional Inovation, Knowledge and Global Change. Londres: Pinter.
FORTUNA, C. (1999). Identidades, Percursos, Paisagens Culturais, Estudos Sociológicos da Cultura Urbana, 1ª edição. Oeiras: Celta Editora.
GAROFOLI, G. (1992). “Endogenous Development and Southern Europe: an Introdutction”, in Garofoli, G. (Org.). Endogenous Development and Southern Europe. Aldershot, Avebury: 1-16.
GARRIGÓS, R. C. (1998). La Gestión y el Gestor del Patrimonio Cultural. Murcia: Editorial KR.
GEERTZ, C. (2000). La interpretación de las culturas. Barcelona: Gedisa.
GIDDENS, A. (2000). O mundo na era da globalização. Lisboa: Presença Editora.
HOBSBAWAN, E.; RANGER, T. (1992). The invention of tradition. Cambridge: Cambrifge University Press.
IVARS BAIDAL, J. A. (2003). “Política local y gestión de los espacios turisticos”, in Santos Solla, X. (Ed.) (2003). La Geografia y la gestion del turismo. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela, 17-56.
JOAQUIM, G. (2003). Turismo sustentável: o desafio da inovação e da tradição. <http://www. esac.pt /tern/tern/papers/3-1-Graca%20Joaquim.pdf> [20 de Dezembro de 2008]
JOHNSON, B.; LUNDVALL, B-A. (2000). Promoting Inovation Systems as Response to the Globalising Learning Economy [16 de Setembro de 2000].
KRIPPENDORF, J. (1989). Sociologia do turismo. Para uma nova compreensão do lazer e das viagens. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira.
LAFANT, M. F. (1992). “L’identité en jeu dans l’echange touristique international”, in Sociologia Urbana e Rural. Bolonha: Universidade de Bolonha, nº 38: 171-176.
LAW, C. (Ed.) (1996). Tourism in major cities. London: International Thompson Bussiness Press.
LEME, F. B. M.; NEVES, S. C. (2007). “Dos ecos do turismo aos ecos da paisagem: análises das tendências do ecoturismo e a percepção das suas paisagens”, in Pasos, Revista de Turismo y Patrimóbio Cultural, vol. 5, nº 2: 209-223.
LLORENS, F. A. (2001). Desenvolvimento económico local: caminhos e desafios para a construção de uma nova agenda política. Rio de Janeiro: BNDES.
LOPES, M. S. (2006). Animação Sociocultural em Portugal. Chaves: Intervenção.
LOWENTHAL, D. (1985). The Past is a Foreign Country. Cambridge: Cambridge University Press.
LUNDVALL, B-A. (1992). “User-producer relationships, national systems of innovation and internationalisation”, in Lundvall, B.-A (Org). National System of Inovation. Londres: Pinter Publishers.
LUNDVALL, B-A. (1996). The Social Dimension of the Learnig Economy, DRUID Working Paper, nº 96-1. [1 de Julho de 2000].
MAILLAT, D. (1995). “Territorial dynamic, innovatice milieus and regional policy”, in Entrepreneurship & Regional Development, 7: 157-165.
MAILLAT, D.; KÉBIR, L. (1999). “Learnig Region e Sistemes Territoriaux de Production”, in Revue D'Economie Regionale et Urbaine, nº 3: 429-448.
MARCHENA, M. (1992). “Un ejercicio prospective: de la industria del turismo «fordista» al ocio de producción flexible”, in Papers de Turisme, nº 15: 77 – 94.
MARSHALL, A. (1961). Principles of Economics. Londres: Macmillan.
MIOSSEC, J. M. (1977). “L’image touristique comme introduction à la geographie du tourisme”, in L’espace geographique, nº 6: 41-48.
MOREIRA, C. D. (1996). Identidade e Diferença. Os Desafios do Pluralismo Cultural. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Ciências Sociais e Humanas.
PAULA, J. (2003). Territórios, redes e desenvolvimento. [12 Fevereiro de 2008]
PARTIDÁRIO, M. (1997). “Desafios da interioridade: a riqueza ambiental e a vantagem da sustentabilidade”, in Perspectivas de Desenvolvimento do Interior. Lisboa: INCM, 59-69.
PEARCE, D.; TURNER, R. (1990). Economics of Natural Resources and the Environment. London: Harvester Wheatsheaf.
PECQUEUR, B. (1995). “Sur les determinants territoriaux de la competitivite des enterprises”, in Comunicação ao III Encontro Nacional a APDR, Porto.
PECQUEUR, B. (2000). Le dévelopment local. 2ème edition. Paris: Syros.
PEREIRO, X. P. (2006a). Tema 1: Antropologia e Turismo. [5 de Janeiro de 2008].
PERALTA, E. (2003). “O mar por tradição: o património e a construção das imagens do turismo”, in Horizontes Antropológicos, ano 9, nº 20:83-96. Porto Alegre.
PEREIRO, X. P. (2006b). “Turismo em Espaço Rural e Animação: a percepção dos alunos de RLT. Peres, A.; Lopes, M. S. Coord.s) (2006). Animação, Cidadania e Participação. Chaves: APAP, 286-294.
PERES, A. N.; LOPES, M. S. (Coord.s) (2006). Animação, Cidadania e Participação. Lisboa: APAP.
PERES, A. N.; LOPES, M. S. (Coord.s) (2007). Animação Sociocultural – Novos Desafios. Chaves: APAP.
PIORE, M.; SABEL, C. (1984). The Second Industrial Divide: Possibility and Prosperity. Nova Iorque: Basic Books.
PLANQUE, B. (1984). “Technologies Nouvelles et Reorganisation Spatiale”. Aydalot, P. (Org.), in Crise et espace. Paris: Economica: 100-104.
PRATZ, L. (1997). Antropologia e patrimonio. Barcelona: Editorial Ariel.
REIS, J. (1999), “O Rural e o Urbano: as Novas Soluções Institucionais e o Problema das Densidades dos Meios”, in Cavaco, C. (Org.). O desenvolvimento Rural: Desafio e Utopia. Lisboa: Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa.
ROCA, Z.; OLIVEIRA, J. A. (2002). A paisagem como elemento da identidade e recurso para o desenvvolvimento. 5 de Março de 2008].
SACHS, I. (1993). “Estratégias de transição para o século XXI”, in Bursztyn, M. (Org.), Para Pensar o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Brasiliense.
SANTANA, A. (1998). “Patrimonio cultural e turismo:reflexiones y dudas de un anfitrión”, in Revista Ciencia y Mar, nº 6: 37-41.
SANTOS, J. M. F. (2002). Turismo mosaico de sonhos. Incursões sociológicas pela cultura turística. Lisboa: Edições Colibri.
SANTOS, M. (1998). A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Futura.
SHIELDS, R. (1991). Places on the margin. Alternative geographies of posmodernity. London: Routledge.
SMITH, V. (Ed.) (1987). Hosts and guests. The Anthropology of Tourism. Philadelphia: University of Philadelphia.
STORPER, M. (1997). “The regional world: territorial development”, Global economy. New York: Guilford Press.
TRILLA, J. (Coord.) (2004). Animação sociocultural – teorias, programas e âmbitos. Lisboa: Instituto Piaget.
TRZYRNA, T. C. (1995). A Sustainable World. London: IUCN – The World Conservation Union.
UCAR, X. (1992). La animación sociocultural. Barcelona: Ediciones CEAC.
URRY, J. (1990). The tourist gaze. Leisure and travel in contemporary societies. London: Sage.
VÁSQUEZ BARQUERO, A. (1995). “A evolução recente da política regional: a experiência europeia”, in Notas Económicas, n 6: 24-39.
VEIGA, J. E. (2002). “A face territorial do desenvolvimento”, in Interacções, Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Campo Grande, Vol. 3, nº 5: 5-19.
VELTZ, P. (1995). Des Territoires pour Aprprendre et Innover. Paris: Editions de l’Aube.
VERA, F. (1997). Análisis territorial del turismo. Barcelona: Ariel.
VERA, F.; MONFORT, V. (1995). “Agotamiento de modelos turísticos clásicos. Una estrategia territorial para la cualifiación. La experiencia de la comunidad valenciana”, in Estudios Turísticos, nº 171.
YÁZIGE, E; CARLOS, A. F. A.; CRUZ, R. C. A. (Org.) (1996). Turismo – espaço, paisagem e cultura. São Paulo: Hucitec, 133-155.
XAVIER PUERTAS (2004). Animación en el ámbito turístico. Madrid: Editorial Sintesis.