Versejando com imagem - A saudade de um rio, de Frei Agostinho da Cruz
VERSEJANDO COM IMAGEM
A SAUDADE DE UM RIO
Que coração tão duro, seco e frio
Se poderá livrar do sentimento,
Vendo num vagaroso movimento
Fugir as claras águas deste rio?
Tamanho mal em tantos males crio,
Que não fica lugar ao pensamento
Para chorar sequer um só momento
A secura, a dureza, em que me esfrio.
A corrente das águas, branda ou tesa,
Mal pode desfazer minha secura,
Pode mal abrandar minha dureza;
A saudade d’alma branda, e pura,
Em que há-de acender minha frieza,
Consiste na divina formosura.
Frei Agostinho da Cruz
Frei Agostinho da Cruz
Desenho de Rocha Vieira
In - Cancioneiro do Rio Lima, com organização
e prefácio de António Manuel Couto Viana,
Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2001