Poesia em tempos de desassossego - Entre a sombra e o corpo, de David Mourão-Ferreira
POESIA EM TEMPOS DE DESASSOSSEGO
ENTRE A SOMBRA E O CORPO
Nada menos efémero
que uma taça e um ceptro
no deserto
Profundíssimos poços
de água vinda dos trópicos
os teus olhos
Só tu e uma serpente
me conhecem por dentro
desde sempre
Cintilação de luas
assim que te desnudas
às escuras
Uma fresta
Uma réstia
de luz que se diverte
a sorver-te
As falésias calcárias
do teu corpo
E as algas
Uma praia
David Mourão-Ferreira