Palavras Soltas... Breve abordagem ao conceito de Marketing Territorial
PALAVRAS SOLTAS...
BREVE ABORDAGEM AO CONCEITO DE MARKETING TERRITORIAL
Neste pequeno texto pretendemos fazer uma brevíssima abordagem ao conceito de marketing territorial, procurando evidenciar a sua «filosofia» enquanto instrumento de atuação em termos do desenvolvimento dos lugares, regiões e cidades.
O conceito de marketing territorial, é ainda relativamente recente. Ele é referenciado e desenvolvido de modo mais consistente nos últimos anos e, claramente, em fase de amadurecimento “numa perspetiva de integração dos recentes avanços nos campos conceptuais do marketing e da comunicação, por um lado, e da gestão do território, por outro”.
O marketing territorial seria, pois, entendido como “a análise, planificação, execução e controle de processos concebidos pelos atores de um território, de modo mais ou menos concertado e institucionalizado, que visa, por um lado, responder às necessidades e expectativas das pessoas e das entidades e, por outro, melhorar a qualidade e a competitividade global de uma cidade (e do território adjacente) no seu ambiente concorrencial”.
Assim, e na perspetiva deste conceito, marketing territorial inverte os conceitos operatórios do planeamento, centrando-o mais nos processos de comunicação e nas necessidades, nas expectativas e nos comportamentos das pessoas e organizações.
Nesta aceção, marketing territorial deve ser entendido como “uma perspetiva sistémica de análise e sistemática de ações que revaloriza a dimensão humana e analisa o território integrado numa rede de competitividades a diferentes escalas, confrontando ambientes externos e internos”.
Entendido desta forma, numa perspetiva integrada, o marketing territorial pode, em primeiro lugar, “ser uma forma de potencializar o desenvolvimento de confiança mútua, de parcerias, da participação e da cidadania, do envolvimento, da mobilização e da democracia”; concomitantemente, e em segundo lugar, releva da preocupação de se trabalhar nas questões da infraestruturação do território para satisfação das necessidades e expectativas dos residentes, turistas e investidores internos e externos.
Assim, entendemos que as Câmaras Municipais são os atores principais do desenvolvimento, ao nível local, deste sistema de gestão do território. As suas «práticas» condicionam profundamente os processos de afirmação territorial. A abertura para a gestão planeada segundo o «projeto de cidade», ou melhor, para a implementação prática de uma perspetiva de marketing territorial é um fator fundamental para a mudança das práticas e das políticas de emancipação territorial das cidades médias e dos seus territórios adjacentes.
Estamos, contudo, conscientes, e a nossa antiga experiência como autarca assim no-lo provou, que os limites para o marketing territorial se consubstanciar em emancipação efetivamente participativa e inovadora, são definidos e/ou condicionados pelas condições territoriais e pela capacidade técnica e criativa dos atores do desenvolvimento local e regional. Porque, a escassa dimensão demográfica, a insuficiente densidade da rede de atores e a cultura tradicional representam entraves à afirmação do territorial através de uma perspetiva de marketing estratégico e integrado do território.
Acima de tudo, estamos também muito conscientes que a afirmação prática de uma perspetiva de marketing territorial (estratégico) pressupõe uma mudança cultural forte, difícil de se conseguir no curto prazo.
É fundamental que os atores e agentes do desenvolvimento local e regional tomem perfeita consciência, no sentido querido e sentido, de que o “estudo da mercadotecnia territorial pretende abrir caminho para a reflexão e ação tendo em vista a tomada de decisões (...) no sentido de modificar o desenvolvimento económico e social de um território”.
Ou seja, a finalidade da mercadotecnia territorial não é apenas a «escolha» de uma imagem do lugar, substituindo-a pelas já existentes, vagas e /ou negativas, mas sim o de promover o desenvolvimento sustentável do território, melhorando a sua economia e a qualidade de vida dos seus habitantes, aumentando a eficácia e utilização dos recursos.
Em suma, o marketing e a mercadotecnia territorial devem ser entendidas como ferramentas para o desenvolvimento económico e social de um território, não mascarando os problemas, mas chegando à raiz dos mesmos, pondo em evidência o papel do planeamento estratégico – mais entendido como participação cidadã – por forma a se tentar encontrar e dar solução as necessidades sentidas.
Nestes termos, é fundamental o papel aqui desempenhado pelo planeamento estratégico para a construção do(s) lugar(es) e da(s) cidade(s). Dar ênfase á imprescindível participação pública na seleção das atuações.
E não só para a seleção das atuações, mas também para a construção da própria cidade, lugar ou região.
São, em síntese, os cidadãos quem decidem o que vai ou deve ser o seu lugar, região ou cidade do futuro e que “ao mesmo tempo também são eles que revelam às administrações públicas quais são os problemas mais graves”.