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zassu

28
Mai20

Poessia em tempos de desassossego - Uma amiga, Antero de Quental

 

POESIA EM TEMPOS DE DESASSOSSEGO

 

UMA AMIGA

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Aqueles que eu amei, não sei que vento

Os dispersou no mundo, que os não vejo...

Estendo os braços e nas trevas beijo

Visões que a noite evoca o sentimento...

 

Outros me causam mais cruel tormento

Que a saudade dos mortos... que eu invejo...

Passam por mim... mas como que têm pejo

Da minha soledade e abatimento!

 

Daquela primavera venturosa

Não resta uma flor só, uma só rosa...

Tudo o vento varreu, queimou o gelo!

 

Tu só foste fiel - tu, como dantes,

Inda volves teus olhos radiantes...

Para ver o meu mal... e escarnecê-lo!

 

Antero de Quental

26
Mai20

Poesia em tempos de desassossego - No turbilhão, Antero de Quental

 

POESIA EM TEMPOS DEE DESASSOSSEGO

 

NO TURBILHÃO

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No meu sonho desfilam as visões,

Espectros dos meus próprios pensamentos,

Como um bando levado pelos ventos,

arrebatado em vastos turbillhões...

 

Num espiral, de estranhas contorções,

E donde saem gritos e lamentos,

Vejo-os passar, em grupos nevoentos,

Distingo-lhes, a espaços, as feições...

 

Fantasmas de mim mesmo e da minha alma,

Que me fitais com formidável calma,

Levados na onda turva do escarcéu,

 

Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes?

Quem sois, visões misérrimas e atrozes?

Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!...

 

Antero de Quental

19
Mai20

Poesia em tempos de desassossego - Nihil, Antero de Quental

 

POESIA EM TEMPOS DE DESASSOSSEGO

 

NIHIL

homeless-845752_1920

Homem!

Homem! Mendigo do Infinito!

Abres a boca e estendes os teus braços

A ver se os astros caem dos espaços

A encher o vácuo imenso do  finito!

 

Porque sobes à  rocha de granito?

Porque é que dás no ar tantos abraços?

E cuidas amarrar com férreos laços

Um reflexo da sombra de um espírito?

 

Vê que o céu, por escárnio, a luz nos lança!

Que, à tua voz, a  voz da imensidão

Responde com imensa gargalhada!

 

A ideia fechou a porta à esperança

Quando lhe foi pedir agasalho e pão....

Deixou-a cara a cara com o Nada!! ..

 

Antero de Quental

10
Mai20

Poesia em tempos de desassossego - Com os mortos, Antero de Quental

 

 

POESIA EM TEMPOS DE DESASSOSSEGO

 

COM OS MORTOS

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Os que amei, onde estão? idos, dispersos,

arrastados no giro dos tufões,

Levados, como em sonho, entre visões,

Na fuga, no ruir dos universos...

 

E eu mesmo, com os pés também imersos

Na corrente e à mercê dos turbilhões,

Só vejo espuma lívida, em cachões,

E entre ela, aqui e ali, vultos submersos...

 

Mas se paro um momento, se consigo

Fechar os olhos, sinto-os a meu lado

De novo, esses que amei vivem comigo,

 

Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,

Juntos no antigo amor, no amor sagrado,

Na comunhão ideal do eterno Bem.

 

Antero de Quental, in "Sonetos"

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