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Jul17
Poesia e Arte 51
POESIA E ARTE
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
LONGO VAI O MEU CANTO
Longo vai o meu canto,
Sem eco na paisagem que atravesso.
Nele me despeço
Lentamente da vida.
De todas as riquezas que ela tem,
E ninguém
Possui senão de vista e de fugida.
Longo vai o meu canto,
Sem eco, porque nunca foi ouvido.
Nele, humano e dorido,
Protesto contra a minha condição
De mortal sem nenhuma garantia...
Longo vai o meu canto
E o desencanto
Desta longa porfia...
Coimbra, 1 de Março de 1968