Poesia e Arte 47
POESIA E ARTE
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
PENÉLOPE
Ulisses desterrado
No mar da vida,
Digo o teu nome e encho a solidão.
Mas pergunto depois ao coração
Por quanto tempo poderás ainda
Tecer e destecer a tela da saudade...
Vê se não desesperas
E me esperas
Até que eu volte, e à sombra da velhice
Te conte, envergonhado,
As indignas façanhas
Que cometi
Na pele do semideus que nunca fui
Sê tu divinas, de verdade, aí,
Nessa ilha de esperança,
Fiel ao nosso amor
De humanas criaturas.
Faz que seja bonito
O mito
Das minhas aventuras.
Coimbra, 1 de Junho de 1965
(Penélope Vaticana - Cópia de uma estátua de meados do séc. V a.C/Museu Pio Clementino - Vaticano)