Palavras Soltas... - Comentário à obra|comunicação «La ciudad dispersa y las aldeas virtuales. Los estudios geogtáficos y el entorno a la cultura» - Segunda Parte
PALAVRAS SOLTAS...
COMENTÁRIO
À OBRA|COMUNICAÇÃO DE CARLOS FERRÁS SEXTO
«LA CIUDAD DISPERSA Y LAS ALDEAS VIRTUALES. LOS ESTUDIOS GEOGRÁFICOS Y EL RETORNO A LA CULTURA»
SEGUNDA PARTE
OPINIÃO CRITICA PESSOAL QUANTO À COMUNICAÇÃO DO AUTOR
Em nossa modéstia opinião, estamos perante um dos mais interessantes trabalhos publicados e /ou divulgados, de entre alguns, já por nós lidos, da já significativa obra do autor.
Cremos estarmos já longe de um certo «fundamentalismo» proselitista quanto ao conceito de contra-urbanização, colocando-nos, aliás como faz FIELDING no artigo que citámos, perante uma realidade para a qual os «antigos instrumentos» de análise espacial já não se dão tão bem perante as novas realidades do(s) novo(s) processo(s) de urbanização.
Cremos ainda que o autor nos põe perante a relatividade dos diferentes «tempos» e «processos» de urbanização tendo em conta a diversidade e multiplicidade de elementos a ter em conta na análise face aos diferentes espaços/territórios em presença.
Se é certo que os processos de urbanização pós-industrial, na perspetiva do autor, apontam quer na sociedade norte-americana quer nos países da Europa Ocidental mais desenvolvidos, particularmente os de matriz anglo-saxã, para o aparecimento de fenómenos como os da contra-urbanização, já, por outro lado, nos países do sul, mediterrâneos, bem assim noutros quadrantes do globo, tal fenómeno não se processa de igual forma.
Aliás o Autor, revelando já reflexão, mediante trabalho de campo e estudo comparado, na sua própria comunicação, acaba por, relativizando o fenómeno, afirmar, quando, citando MONCLÚS, diz: “Devemos ter presente que foram definidos dois modelos de expansão difusa da cidade. Por um lado, o próprio do mediterrâneo tradicional pelo qual a cidade e a expressão física de um núcleo amuralhado que, a partir do Século XIX, se expande sobre o campo mais próximo, mas que continua sendo rural; por outro lado, o modelo anglo-saxão pelo qual a cidade e a sociedade urbana se expandem sobre o campo, substituindo a sua condição rural pela urbana”.
Noutro registo ainda, e no novo quadro do processo de urbanização postindustrial ou urbanização sobremoderna, como mais prefiro chamar, há que distinguir entre cidade difusa ou desconcentrada, processo(s) de metropolização ou, no dizer de ASCHER, metapolização, e fenómenos de suburbanização e/ou contra-urbanização associados.
Salvo melhor entendimento, e face a leitura de alguma literatura sobre o assunto, a sociedade postindustrial ou sobremoderna, fundamentalmente a dos países «relativamente periféricos» dos países do «centro», Europa Ocidental, como Portugal e Espanha – e, no que concerne a Portugal, a Região Norte de Portugal – para além do fenómeno de litoralização (alta concentração populacional na faixa litoral), aliás como na Galiza, embora aqui nos pareça um pouco menos acentuada, atravessa, face inclusive ao fenómeno da globalização, um processo de metropolização difusa, com desconcentração da área central e aparecimento de novas centralidades e criação de outros espaços urbanos, outrora suburbanos. [Veja-se INE, Destaque de 26 de Junho de 2001, Informação à Comunicação Social, Censos 2001 – Resultados Preliminares para a Região Norte. Da análise dos dados que nos são aqui disponibilizados, comparados com os dos Censos de 1991, para além do reforço da Área Metropolitana do Porto, (embora com desconcentração da área central da cidade do Porto mas com aumentos muito significativos nas outrora coroas circundantes, como sejam, Maia, Vila Nova de Gaia, Gondomar, etc.) no conjunto da Região Norte, e do reforço da conurbação litoral em detrimento das zonas mais periféricas a esta área, profundamente rurais, e em perda acentuada há duas décadas a esta parte, como sejam, e em termos de NUTS III, o Douro e Alto Trás-os-Montes, somente os aglomerados urbanos das áreas urbanas sedes dos Municípios, e aglomerados rurais periféricos a estas, como sejam Vila Real, Chaves, Bragança e Mirandela, é que mantêm alguma vitalidade].
Sem deixarmos de estar de acordo com aquilo que o autor designa na sua comunicação «como as primeiras conclusões» de um trabalho de investigação e reflexão comparada, pensamos que a realidade apresentada, resultante de um trabalho de campo por si efectuado em Inglaterra, não é, contudo, passível, de excessiva generalização para outros contextos. Quiçá para parte do território galego e «a fortiori» para grande parte da Região Norte de Portugal.
Entendemos, por outro lado, que, trabalhos de campo desta natureza, são deveras importantes e fundamentais para, e como muito bem diz o nosso autor, não só aprofundar o debate (internacional) sobre a problemática da cidade postindustrial, dispersa ou sobremoderna como forma de se “investir mais” na ordenação, planificação e marketing territorial.
Quando abordávamos a problemática do desenvolvimento do Concelho de Chaves, face a este pano de fundo, dizíamos que:
“É, assim, essencialmente nestes espaços urbanos, de pequena e média dimensão, que a revalorização dos espaços rurais é indissociável da valorização do quadro de vida, dos equipamentos e da animação sócio-cultural dos principais centros urbanos".
Por outras palavras, a aposta na valorização dos pólos urbanos principais surge como praticamente a última oportunidade de suster a desertificação, de potenciar os esforços realizados na dinamização do mundo rural e, consequentemente, de evitar a transferência da população mais jovem para áreas de concentração com quadros de vida mais atraentes e compatíveis com os valores associados à urbanização.
Em jeito de conclusão global, pode dizer-se que a contenção e, a prazo, a inversão das tendências de despovoamento global da sub-região e de cada um dos concelhos que a constituem surge como a condição-base e uma aposta de viabilização de um processo de desenvolvimento que urge dinamizar.
Complementarmente, estamos de acordo quando, em sede do Plano Estratégico da Cidade de Chaves, se diz: “deve ser encarado com frontalidade o facto de que não é muito folgada a «margem de manobra» disponível para essa dinamização, devido não só à magnitude das carências e bloqueamentos que é necessário ultrapassar, mas também ao facto de nenhuma das potencialidades latentes apresentar individualmente dimensão suficiente para se constituir como motor do referido processo”.
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