Ao Acaso... Onde pára a memória do «nosso» Miguel Torga em Chaves?
AO ACASO…
ONDE PARA A MEMÓRIA DO «NOSSO» MIGEUL TORGA EM CHAVES?
Já vai para mais de dois anos que, periodicamente, com os nossos amigos da fotografia – Fernando, Berto e João – temos vindo a percorrer todos os cantinhos (andanhos) do nosso Barroso.
Não há, por aquelas bandas, nenhuma terra, por onde Miguel Torga tenha passado, que o nosso poeta maior tenha, sobre ela, escrito as suas memórias e comentários nos seus Diários.
Como forma de reconhecimento, não só pelos comentários como pelo apreço que o homem Adolfo Rocha tinha pelas suas terras, os seus responsáveis institucionais não quiseram deixar em branco as palavras e comentários que Miguel Torga teceu sobre elas e suas gentes. E esculpiram, nos mais diversos suportes, as suas palavras, textos ou mensagens. Nomeadamente, no caso de Boticas, a sua estátua está bem destacada no centro da vila.
A maioria dos flavienses sabem que Miguel Torga, andarilho como era, não deixou um palmo do nosso Trás-os-Montes por percorrer e, não raras vezes, calcorrear a pé. Chaves, o seu concelho e as terras da «nossa» fronteira não foram exceção.
Particularmente, nos últimos dias da sua vida, religiosamente aportava a Chaves para, nas suas Caldas, vir tratar das maleitas de que padecia.
Lembramo-nos ainda duma célebre tarde de setembro, nos idos de 90 do século passado, quando autarca, juntamente com o Presidente da Câmara, fomos ter com ele ao recinto das Caldas para estar um pouco com ele e desejar-lhe as boas vindas.
E recordamo-nos bem dos conselhos que nos deu quanto ao serviço da causa pública e à postura ética que deveríamos ter como responsáveis políticos pelos desígnios da nossa terra: servir e nunca ser servido.
Miguel Torga, para além de um grande poeta/escritor, era um homem bom. Um Grande Homem. Fiel às suas raízes. Amante do seu país. Comungando a fundo a cultura Ibérica da qual ele, aliás, foi buscar, para constituir o seu nome literário, o nome de dois grandes vultos da nossa Ibéria – Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno.
Já se passaram, há bem pouco, 25 anos da sua morte. Como o tempo passa!
E nós, flavienses, e responsáveis autarcas, fomos, até ao momento, incapazes de, com dignidade, na nossa terra, perpetuar a memória deste Grande Homem Transmontano, amigo de Chaves e das suas gentes!
Habitualmente fazemos o percurso pedestre ao longo das margens urbanas do Tâmega na nossa cidade.
Ao Acaso…, um dia destes, numa das estruturas da represa a seguir às «poldras», num grafite, nele aposto, fomos encontrar este pequeno texto:
Trata-se, naturalmente, de um escrito de, provavelmente, um flaviense anónimo que não se esqueceu das palavras e mensagem de Torga…
É certo que o que Miguel Torga escreveu não foi exatamente o que ali está escrito. Segundo a sua Antologia Poética, in Fernão de Magalhães, Lisboa: D. Quixote, 1999 – mais um grande transmontano desaparecido prematuramente – o texto exato é o seguinte:
Quando teremos coragem, nós, flavienses, de fazer perpetuar a memória deste Grande Transmontano na(s) nossa(s) terra(s) e/ou cidade?