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zassu

11
Mar23

Versejando com imagem - Em grave dia, senhor, que vos vi, de João Soares Coelho

VERSEJANDO COM IMAGEM

EM GRAVE DIA, SENHOR, QUE VOS VI

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Em grave dia, senhor, que vos vi,

por mi e por quantos me querem bem!

E por Deus, senhor, que vos nom pês en!

E direi-vos quanto per vós perdi:

perdi o mund'e perdi-me com Deus,

e perdi-me com estes olhos meus,

e meus amigos perdem, senhor, mim.

 

E, mia senhor, mal dia eu naci

por tod'este mal que me por vós vem!

Ca per vós perdi tod'est'e o sem

e quisera morrer e nom morri;

ca me nom quiso Deus leixar morrer

por me fazer maior coita sofrer,

por muito mal que me lh'eu mereci.

 

Ena mia coita, pero vos pesar

seja, senhor, já quê vos falarei,

ca nom sei se me vos ar veerei:

tanto me vej'em mui gram coit'andar

que morrerei por vós, u nom jaz al.

Catade, senhor, nom vos éste mal,

ca polo meu nom vos venh'eu rogar.

 

E ar quero-vos ora conselhar,

per bõa fé, o melhor que eu sei

- metede mentes no que vos direi:

quem me vos assi vir desamparar

e morrer por vós, pois eu morto for,

tam bem vos dirá por mi "traedor"

come a mim por vós, se vos matar.

 

E de tal preço guarde-vos vós Deus,

senhor e lume destes olhos meus,

se vos vós en nom quiserdes guardar!

 

  João Soares Coelho
Trovador medieval

Nacionalidade - Portuguesa

Notas biográficas

Trovador português, ainda descendente, por via bastarda, de Egas Moniz e dos senhores de Ribadouro, João Soares Coelho terá nascido nos anos iniciais da segunda década do século XIII, tendo sido criado, provavelmente, em Cinfães. A primeira notícia que temos dele, datada de 1235, localiza-o, no entanto, no Alentejo, testemunhando um documento do infante D. Fernando de Serpa (irmão mais novo do rei D. Sancho II), plausivelmente como seu cavaleiro e vassal. É possível, pois, que João Soares tenha acompanhado o percurso do infante por esses anos, percurso que o leva primeiro a Roma, em 1238, onde vai implorar perdão ao Papa pelos variados atropelos por si e pelos seus homens cometidos contra os bispos de Lisboa e da Guarda, e que o leva em seguida a Castela, entre 1240 e 1243, como vassalo do rei D. Fernando III, seu primo direito. Segundo José Mattoso, D. Fernando de Serpa terá chegado a integrar a hoste do infante herdeiro, D. Afonso (futuro Afonso X), o que fornece um contexto credível para as relações de proximidade que são visíveis entre João Soares Coelho e os trovadores e jograis que fazem parte, por essa época, do círculo do infante castelhano. Casou, de qualquer modo, por esses anos, com Maria Fernandes de Ordéns, dama galega de uma linhagem relativamente obscura.
Regressando o infante de Serpa a Portugal em 1243, não sabemos se João Soares o terá ou não acompanhado. São esses igualmente os anos do agravar do conflito que conduziu à guerra civil portuguesa, durante a qual, e enquanto foi vivo, o infante de Serpa tomou o partido do seu outro irmão, o Conde de Bolonha. Da posição de João Soares no conflito nada sabemos de concreto. Seja como for, a partir de 1249, João Soares aparece-nos na corte portuguesa do novo rei, Afonso III, onde passa a ter uma presença constante, recebendo mesmo em doação, em 1254, a vila de Souto de Riba Homem. A sua proximidade com o monarca comprova-se também pela ascensão social da sua família, nomeadamente pelo facto de o seu filho, Pero Coelho, ter sido mais tarde meirinho-mor de D. Dinis. É possível que tenha falecido pouco depois de 1279, data do último documento conhecido em que figura.
Acrescente-se, como pormenor curioso, que, segundo os Livros de Linhagens (LL 36CD), duas das suas filhas foram assassinadas pelos respetivos maridos por mao preço. Num registo diferente, note-se ainda que um dos seus netos, Estêvão Peres Coelho, foi igualmente trovador.

In - Cantigas Medievais Galego Portuguesas

 

 

10
Mar23

Versejando com imagem - Amigo, pois vós tan gran pesar, de Vasco Fernandez Praga Sendin

VERSEJANDO COM IMAGEM

MEU AMIGO, POIS VÓS TAN GRAN PESAR

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Meu amigo, pois vós tan gran pesar
havedes de mi vos eu assanhar,
por Deus, a quen m'assanharei,
amig', ou como viverei?

Se m'eu a vós, meu amigu'e meu ben,
non assanhar, dizede-m'ũa ren:
por Deus, a quen m'assanharei,
amig', ou como viverei?

Se m'eu a vós, que amo máis ca mí,
non assanhar, se sabor houver i,
por Deus, a quen m'assanharei,
 amig', ou como viverei?

Se m'eu a vós d'assanhar non houver,
siquer dõado, quando m'eu quiser,
por Deus, a quen m'assanharei,

amig', ou como viverei?

Vasco Fernadez Praga Sandin

(Trovador medieval)

 

Nota geral

Se o seu amigo se entristece com as suas zangas, a moça faz-lhe uma (divertida) pergunta: se não for com ele, com quem se poderá ela zangar?

Nacionalidade - Portuguesa

Notas biográficas

Trovador de origem galega (talvez originário de Parga, na atual província de Lugo), mas radicado em Portugal, onde casou com Teresa Martins Mogudo de Sandim, como refere o Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, que acrescenta especificamente que foi mui bom trovador. Citado nas inquirições de 1258 como possuindo bens da região de Guimarães, Vasco Fernandes Praga deveria ter já uma idade relativamente avançada na época, como refere Resende de Oliveira (uma vez que um seu cunhado, Vasco Martins, já tinha netos nessa altura). O seu período de atividade deverá ter decorrido, portanto, na primeira metade do século XIII (o que coincide com a colocação das suas cantigas nos cancioneiros.

In - Cantigas Medievais Galego Portuguesas

09
Mar23

Versejando com imagem - non é amor en cas de Rei, de Gil Peres Conde

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NON É AMOR EN CAS DE REI

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Non é Amor en cas de Rei,
ca o non pod'hom'i achar
aa cea nen ao jantar;
a estas horas o busquei
nas pousadas dos privados;
preguntei a seu prelados
por Amor, e non o achei.

Tẽen que o non sab'el-Rei;
que Amor aquí non chegou,
que tant'hogano del levou
e non vẽo; ben o busquei
nas tendas dos infanções
e nas dos de criações,
e er dizen todos: «Non sei».

Perdud'é Amor con el-Rei,
porque nunca en hoste vén,
pero xe dele algo ten.
Direi-vos eu u o busquei:
antr'estes freires tempreiros,
ca ja os hespitaleiros
por Amor non preguntarei.

Gil Peres Conde

Nota geral

O repetido lamento de Gil Peres Conde face à sua má estrela em Castela toma agora o tom do sirventês moral, para denunciar o ambiente em cas d´el-rei, onde o Amor (no sentido medieval de solidariedade e entreajuda) seria desconhecido. Note-se que o trovador parece abrir uma exceção final para a ordem dos Templários. Nestas circunstâncias, não é impossível que a cantiga tenha sido composta nos anos finais do reinado de Afonso X, e no contexto do conflito entre o monarca e o seu herdeiro e sucessor, o infante D. Sancho, já que tudo leva a crer que Ordem do Templo foi a única cuja fidelidade à causa do Rei Sábio nunca sofreu qualquer quebra (ao contrário das restantes Ordens militares, que, ou se colocaram decididamente ao lado do infante, ou tiveram um comportamento flutuante, como foi exatamente o caso dos Hospitalários, igualmente referidos).

In - Cantigas Medievais Galego Portuguesas

08
Mar23

Versejando com imagem - Se eu pudesse desamar, de Pero da Ponte

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SE EU PUDESSE DESAMAR

         

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Se eu podesse desamar

a quem me sempre desamou

e podess'algum mal buscar

a quem me sempre mal buscou!

Assi me vingaria eu,

se eu pudesse coita dar

a quem me sempre coita deu.

 

Mais sol nom poss'eu enganar

meu coraçom que m'enganou,

per quanto mi fez desejar

a quem me nunca desejou.

E por esto nom dórmio eu,

porque nom poss'eu coita dar

a quem me sempre coita deu.

               

Mais rog'a Deus que desampar

a quem m'assi desamparou,

ou que podess'eu destorvar

a quem me sempre destorvou.

E logo dormiria eu,

se eu podesse coita dar

a quem me sempre coita deu.

               

Vel que ousass'en preguntar

a quem me nunca preguntou,

por que me fez em si cuidar,

pois ela nunca em mi cuidou;

e por esto lazeiro eu:

porque nom posso coita dar

a quem me sempre coita deu.

 

Pero da Ponte

Nota geral

Nesta bela cantiga de amor, ao mesmo tempo simples e retoricamente muito elaborada (com recurso a palavra-rima e múltiplas rimas derivadas, ou mozdobres), Pero da Ponte exprime o seu (impossível) desejo de vingar-se daquela que sempre o tratou mal, pagando-lhe na mesma moeda: deixando de a amar, procurando o seu mal e fazendo-a sofrer. Mas é este um desejo impossível, até porque a culpa é do seu próprio coração, que o fez desejar quem nunca o desejou. Sem poder dormir, só lhe resta pedir a Deus que desampare quem sempre o desamparou e lhe dê a ele a capacidade para a perturbar um pouco - e assim já dormiria. Ou pelo menos que lhe desse coragem para falar com ela.

A cantiga é também tematicamente original, na medida em que a tradicional resignação do trovador face ao sofrimento que lhe inflige a sua senhora, elemento tópico da cantiga de amor, é aqui declaradamente substituído pelo desejo de vingança, note-se ainda a rara variação que ocorre, em estrofes alternadas, no 1º verso do refrão.

In - Cantigas Medievais Galego Portuguesas

07
Mar23

Versejando com imagem - Tu, que ora vens de Montemaior, de Gil Sanches

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TU, QUE ORA VENS DE MONTEMAIOR

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Tu, que ora vens de Montemaior,

tu, que ora vens de Montemaior,

digas-me mandado de mia senhor,

digas-me mandado de mia senhor;

 

 ca se eu seu mandado

nom vir, trist'e coitado

serei; e gram pecado

fará, se me nom val;

ca em tal hora nado

 

foi que, mao-pecado!,

amo-a endoado,

e nunca end'houvi al!

Tu, que ora viste os olhos seus,

tu, que ora viste os olhos seus,

 

digas-me mandado dela, por Deus,

digas-me mandado dela, por Deus;

ca se eu seu mandado

nom vir, trist'e coitado

serei; e gram pecado

 

fará, se me nom val;

ca em tal hora nado

foi que, mao-pecado!,

amo-a endoado,

e nunca end'houvi al!

(Gil Sanches, séc. XIII)

Glossário e notas:

1: ora – agora.

v.1: Montemaior ‑ Cantiga de amor que, ao contrário do que acontece habitualmente com as composições deste género, pode ser datada com alguma precisão. Na verdade, a referência a Montemor remete-nos indiscutivelmente para um dos espaços centrais do prolongado conflito que o rei D. Afonso II manteve com suas irmãs Teresa, Sancha e Mafalda a propósito do testamento de seu pai, D. Sancho I. Montemor-o-Velho foi, de facto, a praça forte de D. Teresa, a mais ativa das infantas, tendo sido inclusivamente cercada pelas tropas do monarca seu irmão em 1213, no que constituiu um dos principais episódios bélicos do conflito. Este facto levou D. Carolina Michaellis a sugerir que a composição de D. Gil Sanches teria sido composta nessa data. Como Resende de Oliveira (Gil Sanchez", in Dicionário da Literatura Medieval Galega e Portuguesa, Lanciani, Giulia e Tavani, Giuseppe (org.), Lisboa, Editorial Caminho, 1993), pensamos, no entanto, que a juventude do trovador à época parece contrariar esta datação. Mais plausível é a hipótese, avançada por este investigador, de ela ter sido composta em 1223, aquando da assinatura do tratado de paz entre o novo monarca, D. Sancho II, e suas tias, tratado esse confirmado exatamente em Montemor por D. Garcia Mendes d´Eixo, pai de D. Maria Garcia de Sousa, a donzela com quem D. Gil Sanches se ligou (e que poderá ser a destinatária da cantiga).

  1. 3: mandado- notícia, mensagem; digas-me mandado – dá-me notícias.
  2. 5: ca- pois, porque
  3. 7: serei – ficarei
  4. 9: ca em tal hora nado– porque em tão má hora nasci.
  5. 10: foi– fui
  6. 10: mal/mao pecado- infelizmente, por mal dos meus pecados
  7. 11: endoado- inutilmente, em vão
  8. 12: ende- disso, daí
  9. 12: al (em frases negativas)- mais nada
  10. 9-12: pois nasci em tal hora, que, por minha infelicidade, amo-a em vão e nunca obtive outra recompensa.

 

Leitura interpretativa:

Coitado do trovador! Interpela alguém que vem de Monte-Maior e que pode trazer novas da sua amada: “digas-me mandado de mha senhor”.

É que está tão infeliz!... Maldiz a hora em que nasceu: “pois en tal hora nado foi”. Ama-a em vão.

In Blog Folha de Poesia - artes, ideias e o sentimento de si

 

05
Mar23

Versejando com imagem - A Ribeirinha, de Paio Soares Taveirós

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A RIBEIRINHA

(Cantiga de Garvaia)

Idade-Media-heloisa

No mundo ninguém se assemelha a mim
enquanto a vida continuar como vai,
porque morro por vós, e ai!
minha senhora alva de pele rosadas,
quereis que vos retrate
quando eu vos vi sem manto.
Maldito dia que me levantei
e não vos vi feia

E minha senhora, desde aquele dia, ai!
tudo me foi muito mal
e vós, filha de Don Paio
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia
pois eu, minha senhora, como presente
nunca de vós recebera algo
mesmo que de ínfimo valor.

 

Português antigo

No mundo non me sei parelha,
mentre me for como me vai,
ca já moiro por vós – e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi en saia!
Mau dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, dês aquel di’, ai!
me foi a mi mui mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d’haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós houve nem hei
valia d’ua correa.

paio-soares-de-taveiros

Paio Soares Taveirós foi um trovador da primeira metade do século XII,

de origem da pequena nobreza galega. Foi o autor da célebre Cantiga da garvaia,

durante muito tempo considerada a primeira obra poética em língua galaico-portuguesa.

Nasceu a 01 janeiro 1200

 

04
Mar23

Versejando com imagem - Desavindo-se duma dama, de Diogo de Melo da Silva

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DESAVINDO-SE DUMA DAMA

 

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Senhora, não me perdi,

nem menos me hei de perder,

e tenho certo de mim

pois que não me arrependerei

que não me hei de arrepender.

 

Não digais que me deixaste,

que fui eu quem vos deixou,

e bem fiz

que no jogo que jogaste,

mais perdeste que ganhaste,

e fui eu o que ganhei.

 

Ganhei que não me perdi,

porque vos via perder,

e pois não me arrependi,

que não me hei de arrepender.

 

Diogo de Melo da Silva

(Joias literárias II – Cancioneiro Geral de Garcia de Resende,

Tomo V, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1918, pág. 4

Transcrição própria para português atual)

 

02
Mar23

Versejando com imagem - Brás da Costa a Garcia de Resende

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BRÁS DA COSTA PARA GARCIA DE RESENDE

Eu vos mando uma nova

que seja d’homem robusto,

e tão bem por ter bom custo,

que folguei mais com o justo

que com a trova.

 

E uma coisa vos digo:

pois que tanto a corte sigo

compre ter pessoa leda

 

e quer de amigo quer de inimigo,

eu folgo com a moeda.

 

Brás da Costa

(Cancioneiro Geral de Garcia de Resende,

Joias Literárias II, Tomo V,

Imprensa da Universidade de Coimbra, 1918,  Página 377.

Transcrição própria para português corrente)

 

01
Mar23

Versejando com imagem - Cantiga, de Francisco de Sousa

VERSEJANDO COM IMAGEM

 

CANTIGA

cabelos-longos

Acho que me deu Deus tudo

Para mais meu padecer:

os olhos para ver,

coração para sofrer

e língua para ser mudo.

 

Olhos para vos olhasse,

coração que consentisse,

língua que me condenasse:

mas não já que me salvasse

de quantos males sentisse.

 

Assim que me deu Deus tudo

para mais meu padecer:

os olhos para ver

coração para sofrer,

e língua para ser mudo.

 

Francisco de Sousa

(Cancioneiro Geral de Garcia de Resende,

Joias Literárias II, Tomo V,

Imprensa da Universidade de Coimbra, 1918,  Página 294.

Transcrição própria para português corrente)

28
Fev23

Versejando com imagem - Pranto do Clérigo, de D'Anrique da Mota

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PRANTO DO CLÉRIGO

(EXCERTOS)

 

05-iluminura-monge-a-provar-o-vinho-aldobrandino-of-siena-li-livres-dou-santc3a9-british-library-sc3a9c-xiii

                       I

Quanto ganho nos partidos

tanto gasto em sapatos

de Herodes para Pilatos.

 

Eis me vou e eis me venho

como barca de carreira,

quanto ganho, quanto tenho,

tudo leva a taberneira.

 

E assim desta maneira

Gasto todos meus sapatos

De Herodes para Pilatos.

                      II

É cousa mui sãa

pera os corrutos aares

nos dias caniculares

o beber pela manhãa

Atouguia ou Lourinhã.

 

Quem nam tiver, Caparica

sobre pera ou maçãa

e o al é cousa vãa,

em salvo está quem repica.

                     III

(Absolutio super Tumulum)

In die illa tremenda,

quando for o ceo movido

e o vinho falecido

que nam achem quem no venda

nem fiado nem aa tenda,

nem per força, nem per rogo

Domine michi defenda

de tam áspera emenda

ante me julgue per fogo.

                      IV

Ora já vos confessastes,

guardai-vos de jejȗuar

qa’ assaz voas deve abastar

o suor que laa suastes.

Porque dou-lhe que contastes

mais pecados do que eram,

eu m’afirmo que pagastes

n’afronta que lá passastes

a pendença que vos deram.

                       V

nam achem quem no venda

nem fiado nem aa tenda,

em per força nem per rogo.

                      VI

Olhai que a perra que diz

que fará, irá dizer ao juiz

o que fiz e que não fiz,

e crererá.

VII

Então em provas não provas

gastarei,

irão dar de mim más novas

e farão sobre mim

trovas,

que farei?

 

(D’Anrique da Mota – Pranto do Clérigo,

Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, pág.s 201 a 2019)

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