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zassu

29
Out22

Versejando com imagem - A Tempestade, de Jerónimo Corte-Real

VERSEJANDO COM IMAGEM

 

A TEMPESTADE

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Cobre-se ó céu de grossas negras nuvens,

Os ventos mais e mais cada hora crescem,

Já se escurece o céu, já. com soberba

Inchadas grossas ondas se levantam.

A nau começa já passar trabalho,

Já começa gemer, e em tal afronta

O apito soa, brada o mestre, acodem

Com presteza varões no mar expertos.

Põe-se o fero Vulturno junto ao cabo,

Levanta lá no céu furiosas ondas;

Austro bramando corre ali com fúria,

Dando um balanço à nau que quase a rende,

Vem com grande furor Bóreas raivoso,

Comete por davante, o passo impide,

Encontra as grandes velas, e, por força,

Ao mastro as pega e a nau atrás empuxa:

Rompe-se por mil partes o céu, e arde

Em ligeiro, apressado, vivo fogo.

Um rugido espantoso vai correndo

Desde o Antárctico Pólo ao seu oposto.

Arremessam-se lanças pelos ares

De congelada pedra em água envolta;

Com espantoso ímpeto, e rasgadas

As densas negras nuvens raios cospem:

De um golpe as velas vêm todas abaixo.

 

Jerónimo Corte-Real, in 'Naufrágio de Sepúlveda'

25
Out22

Versejando com imagem - Alma minha gentil que te partista, de Luís Vaz de Camões

VERSEJANDO COM IMAGEM

 

 

ALMA MINHA GENTIL QUE TE PARTISTE

 

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Alma minha gentil, que te partiste

Tão cedo desta vida, descontente,

Repousa lá no Céu eternamente

E viva eu cá na terra sempre triste.

 

Se lá no assento etéreo, onde subiste,

Memória desta vida se consente,

Não te esqueças daquele amor ardente

Que já nos olhos meus tão puro viste.

 

E se vires que pode merecer-te

Alguma cousa a dor que me ficou

Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

 

Roga a Deus, que teus anos encurtou,

Que tão cedo de cá me leve a ver-te,

Quão cedo de meus olhos te levou.

 

                        Luís de Camões

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24
Out22

Versejando com imagem - Verdes são os campos, de Luíz Vaz de Camões

VERSEJANDO COM IMAGEM

 

VERDES SÃO OS CAMPOS

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Verdes são os campos,

De cor de limão:

Assim são os olhos

Do meu coração.

 

Campo, que te estendes

Com verdura bela;

Ovelhas, que nela

Vosso pasto tendes,

De ervas vos mantendes

Que traz o Verão,

E eu das lembranças

Do meu coração.

 

Gados que pasceis

Com contentamento,

Vosso mantimento

Não no entendereis;

Isso que comeis

Não são ervas, não:

São graças dos olhos

Do meu coração.

 

              Luís de Camões

22
Out22

Versejando com imagem - Amor é fogo que arde sem se ver, de Luís Vaz de Camões

VERSEJANDO COM IMAGEM

 

AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER

amor-que-arde-sem-se-ver.jpg

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;

 

É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;

 

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.

 

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

 

 Luís de Camões

19
Out22

Versejando com imagem - A saudade de um rio, de Frei Agostinho da Cruz

VERSEJANDO COM IMAGEM

 

A SAUDADE DE UM RIO

Ponte 2 - início-do-texto.gif

Que coração tão duro, seco e frio

Se poderá livrar do sentimento,

Vendo num vagaroso movimento

Fugir as claras águas deste rio?

 

Tamanho mal em tantos males crio,

Que não fica lugar ao pensamento

Para chorar sequer um só momento

A secura, a dureza, em que me esfrio.

 

A corrente das águas, branda ou tesa,

Mal pode desfazer minha secura,

Pode mal abrandar minha dureza;

 

A saudade d’alma branda, e pura,

Em que há-de acender minha frieza,

Consiste na divina formosura.

 

Frei Agostinho da Cruz

Frei-Agostinho-da-Cruz.jpg

Frei Agostinho da Cruz
Desenho de Rocha Vieira

In - Cancioneiro do Rio Lima, com organização

e prefácio de António Manuel Couto Viana,

Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2001

17
Out22

Versejando com imagem - Soneto de Lisardo a suas obras

VERSEJANDO COM IMAGEM

 

SONETO DE LISARDO A SUAS OBRAS

Frei Bernardo de Brito, [entre 1600 e 1650].png

(Frei Bernardo de Brito, [entre 1600 e 1650?]

Autor - Desconhecido, Biblioteca Nacional de Portugal)

 

Versos, que indícios sois de meus ardores,

rimas, que meus segredos publicastes,

lágrimas, que também solenizastes,

ao som de endechas tristes minhas dores.

 

Agora que vos vejo em mortas cores

à vista do painel que retratastes,

gosto de vos olhar pois não levastes

a olhos estrangeiros meus amores,

 

Se acontecer acaso que entendida

do mundo seja a dor, que em vós publico

mostrai a causa que houve de render-me:

 

Que sendo dos leitores conhecida,

verão que em me perder sem culpa fico,

e que fora mor culpa não perder-me.

 

Frei Bernardo de Brito (Lisardo)

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