VERSEJANDO COM IMAGEM
À VAIDADE DO MUNDO
É a vaidade, Fábio, desta vida
Rosa que na manhã lisonjeada
Púrpuras mil com ambição coroada
Airosa rompe, arrasta presumida;
É planta que de abril favorecida
Por mares de soberba desatada,
Florida galera empavesada,
Surca ufana, navega destemida;
É nau, enfim, que em breve ligeireza,
Com presunção de fénix generosa,
Galhardias apresta, alentos preza.
Mas ser planta, rosa e nau vistosa
De que importa, se aguarda sem defesa
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?
António da Fonseca Soares
(Frei António das Chagas)
Frei António das Chagas (1631-1682), cujo nome secular era António da Fonseca Soares, era frade da Ordem de São Francisco. Filho de um juiz, participou na guerra da Restauração, escapando de ser condenado devido a um crime que cometera. É nesse período que se dedica à poesia, ganhando o cognome de Capitão das Boninas. Parte, entretanto, para o Brasil, regressando em 1656 e continuando a carreira das armas. Em 1663 deixa a vida militar e decide tomar ordens. Tornou-se pregador e fundou o seminário do Varatojo. O seu trabalho como pregador foi criticado pelo Padre António Vieira, que o achava excessivo e teatral. Dos tratados espirituais que escreveu destaca-se o “Tratado dos Gemidos Espirituais, vertidos de um pedernal humano a golpes de Amor Divino”. As suas cartas foram compiladas no volume "Cartas Espirituais" e os seus poemas foram publicados na Fénix Renascida.
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