Desde o Iluminismo, quando as pessoas se revoltavam
contra as autoridades e decidiram usar as forças
da razão para melhor suas vidas,
têm encontrado formas de o fazer, e há pouca dúvida
de que continuarão a conquistar vitórias
contra as forças da morte.
Agus Deaton, 2013,
in «The Great Escape: Health, weath, and the origins of inequality»
Steve Pinker, na sua obra «O Iluminismo AGORA em defesa da Razão, Ciência, Humanismo e Progresso» afirma que durante quase toda a história da Humanidade a força da morte mais poderosa foi (é) a doença infeciosa. Esta doença é a desagradável componente da evolução onde organismos pequenos, que se reproduzem rapidamente, e que garantem a sua sobrevivência à custa do ser humano, transportando-se, de corpo para corpo, em insetos, vermes, fluxos corporais e vírus.
As epidemias mantaram milhões de pessoas, devastando povos e civilizações inteiras, trazendo repentinamente o caos e a miséria.
Ninguém foi (era) poupado. Ricos e pobres, ninguém escapava!
Contudo, afirma, o sempre criativo Homo sapiens já há muito que combatia a doença com charlatanices, tal como a reza, o sacrifício, o derramamento de sangue, a aplicação de ventosas, os metais tóxicos, a homeopatia e o sangrar uma galinha até à morte contra uma parte infetada do corpo.
Todavia, o curso da batalha começou a mudar em meados do século XVIII com a invenção da vacinação e acelerou no século XIX com o reconhecimento da teoria microbiana da doença.
A lavagem das mãos, a obstetrícia, o controlo de mosquitos e, especialmente, a proteção da água potável dos escoamentos de esgotos públicos e a coloração da água da torneira haveriam de salvar milhares de milhões de vidas.
De entre um numero infindo de descobertas, no dia 12 de abril de 1955, uma equipa de cientistas anunciou a segurança comprovada da vacina de Jonas Salk contra a poliomielite - uma doença que matava milhares de pessoas todos os anos, paralisou Franklin Roosevelt e condenou várias crianças aos «pulmões de aço» (uso de ventiladores de pressão negativa que auxiliavam os pacientes com dificuldades respiratórias graves ou mesmo com paralisia dos músculos respiratórios).
E o autor que vimos seguindo, pergunta-nos: ultimamente, quanta atenção temos dispensado a Karl Landsteiner, ele que apenas salvou um milhar de milhão de vidas com a sua descoberta dos grupos sanguíneos?
E o que dizer destes, entre muitos outros, heróis, cujo quadro abaixo apresentamos?
A estimativa acima feita por investigadores calcula ainda que mais de cinco mil milhões de vidas foram salvas (até agora) por cerca de uma centena de cientistas, que os mesmos selecionaram.
Apesar dos cientistas serem ignorados - e até mesmo a própria ciência - pelo cidadão (comum), uma coisa é certa: se não fosse a comunidade de cientistas e a ciência, nossas vidas não se teriam transformado ao ponto não só de termos melhor qualidade de vida como mais longevidade.
Se é certo que a razão e o progresso científico é a chave para o fim dos horrores que, periodicamente, a Humanidade padece, há que, por isso, todos nos consciencializarmo-nos que a luta pela saúde e pela vida, é a nossa principal prioridade e que deve ser uma constante em toda a nossa Sociedade.
Na verdade, a defesa da vida só com conhecimento e informação é que se consegue. Informação e conhecimento são a chave para os males que afligem toda a Humanidade.
Todos os dias circulam pelas redes sociais palavras e reflexões sobre o momento por que hoje passamos. Queríamos deixar aqui aos(às) nossos(as) leitores(as) duas.
A primeira, dizendo-lhes que este não é o apocalipse, mas pode ser uma oportunidade para entender o real propósito da nossa passagem por este planeta Terra. quando a Europa, neste momento, é mais afetada que a África; quando um beijo se torna uma arma; quando o dinheiro, que cada um tem, não nos salva; quando a vida como a entendemos até agora para todos e o tempo se torna um castigo... talvez quando voltarmos a sair de casa, andaremos mais devagar, mais perto, mais humildes, mais humanos.
A segunda é um texto de uma psicóloga italiana - Francesca Morelli- que passamos a transcrever:
"Acredito que o Universo tem a sua maneira de equilibrar as coisas e as suas leis quando estão viradas do avesso. O momento que vivemos, cheio de anomalias e paradoxos, dá que pensar. Numa altura em que as alterações climáticas causadas por desastres ambientais chegaram a níveis preocupantes, primeiro a China e depois tantos outros países vêem-se obrigados ao bloqueio. A Economia colapsa, mas a poluição diminui consideravelmente. O ar melhora; usam-se máscaras, mas respira-se.
Num momento histórico em que algumas ideologias e políticas discriminatórias, com fortes referências a um passado mesquinho, estão a reativar-se em todo o planeta, chega um vírus que nos faz perceber que, num instante, podemos ser nós os discriminados, os segregados, os bloqueados na fronteira, os portadores de doenças. Mesmo que não tenhamos culpa disso. Mesmo que sejamos brancos, ocidentais e viajemos em classe executiva.
Numa sociedade fundada na produtividade e no consumo, em que todos nós corremos 14 horas por dia na direção não se sabe muito bem de quê, sem sábados nem domingos, sem feriados no calendário, de repente chega o “parem”. Fechados, em casa, dias e dias. A fazer contas com o tempo do qual perdemos o valor. Será que ainda sabemos o que fazer dele?
Numa altura em que o acompanhamento do crescimento dos filhos é, por força das circunstâncias, confiada a outras figuras e instituições, o vírus fecha as escolas e obriga a encontrar outras soluções, a juntar a mãe e o pai com as crianças. Obriga a refazer família.
Numa dimensão em que as relações, a comunicação, a sociabilidade se processam principalmente no “não-espaço” do virtual, das redes sociais, dando-nos uma ilusão de proximidade, o vírus tolhe-nos a verdadeira proximidade, a real: que ninguém se toque, nada de beijos, nada de abraços, tudo à distância, na frieza do não contacto. Até que ponto dávamos por adquiridos estes gestos e o seu significado?
Numa altura em que pensar no próprio umbigo se tornou regra, o vírus envia uma mensagem clara: a única saída possível é através da reciprocidade, do sentido de pertença, da comunidade, do sentimento de fazer parte de algo maior, de que cuidamos e que pode cuidar de nós. A responsabilidade partilhada, o sentir que das nossas ações depende não apenas o nosso destino mas o de todos os que nos rodeiam. E que dependemos das deles.
Por isso, deixemo-nos da caça às bruxas, de perguntar de quem é a culpa ou porque é que tudo isto aconteceu, e perguntemos antes o que podemos aprender com isto. Creio que temos todos muito para refletir e fazer. Porque para com o Universo e as suas leis, evidentemente, temos uma grande dívida. Explica-nos o vírus, com juros muito altos.”
Para os nossos(as) amigos(as) galegos(as) e castelhanos(as) deixamos este vídeo:
LA REFLEXÍON DE UNA PSICÓLOGA ITALIANA SOBRE EL CORONAVIRUS
Se é verdade que hoje o nosso lema é fazermos guerra ao Coronavirus Covid-19, que, pelo nosso Planeta, está dizimando mulheres e homens, também é bem certo que a situação por que hoje dramaticamente passamos exige de todos nós um outro paradigma de vida: de luta e guerra contra as guerras; de luta e guerra contra a não preservação do Planeta onde habitamos; de luta e guerra contra os individualismos mesquinhos que trazemos do berço.
União e solidariedade são as palavras que hoje em dia - e sempre - fazem todos a diferença e têm todo o sentido.
Em tempo de distanciamento social forçado, apesar de termos a sensação de que muito que se tem escrito até agora terá de ser profundamente revisto e que nada ficará como dantes, obrigando-nos a enfrentar um outro paradigma de vivermos neste Mundo, construindo uma outra Sociedade, pelas redes sociais entra-nos a atitude de indignação do Primeiro-ministro português, António Costa, face as declarações do ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra.
Estamos completamente de acordo com as palavras de António Costa: simplesmente repugnantes!...
Ao Acaso… fomos encontrar estas palavras de Steven Pinker no seu livro, saído em 2018, sob o título «O Iluminismo Agora em Defesa da Razão, da Ciência, Humanismo e Progresso» quando nos diz que a ideia de natureza humana universal leva-nos ao conceito de Humanismo. “Humanismo que privilegia o bem-estar individual de homens, mulheres e crianças em detrimento da glória da tribo, da raça, das nações e da religião.
São os indivíduos, e não os grupos, que são sencientes – que sentem prazer e dor, satisfação e angústia. Quer tendo como objetivo a finalidade de providenciar a felicidade de maior número de pessoas possível, quer como imperativo categórico de tratar as pessoas como fins e não como meios (…) a natureza humana prepara-nos para responder a esse apelo. Isso deve-se ao facto de sermos dotados do sentimento de compaixão, que os pensadores iluministas também designavam por benevolência, piedade e comiseração.
Uma vez que estamos equipados com a capacidade de nos solidarizamos com os outros, nada impede que o círculo da compaixão se estenda da nossa família e da tribo para abraçar toda a Humanidade, principalmente quando a razão nos leva a perceber que não existe nada de único que seja merecido exclusivamente por nós ou por qualquer dos grupos a que pertencemos.
Nós somos, assim, forçados ao cosmopolitismo, ou seja, à aceitação da nossa cidadania no mundo”.
E, desta feita, perguntamo-nos: que gente é esta que governa a União Europeia, berço do Iluminismo e do Humanismo?
Não é esta Europa à qual aderimos e pela qual indefetivelmente queremos estar, lutar e construir!...
E porque hoje é o Dia Mundial da Poesia, nesta nossa rubrica deixamos aqui um poema do nosso poeta maior – Miguel Torga – com o desejo, face aos tempos difíceis por que passamos, em nós renasça a confiança de podermos (re)construir o mundo, se possível, muito melhor.