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zassu

07
Mai18

Poesia e Arte 79

 

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA - EPÍLOGO

 

Requiem - Ignacio Trelis.jpg

Exige-se, neste momento, que fale/escreva e explique.

 

Quando, a 27 de agosto de 2012, dávamos início a este blogue, no texto de abertura, escrevíamos:

 

Este é o blog da minha dissidência.

Das minhas noites de insónia.

E também dos meus sonhos, utopias.

Das minhas vigílias e dos meus, muitos, ocasos.

Da minha revolta. Das minhas contestações.

Da minha raiva.

Mais das razões que brotam do coração que da razão.

Do desabafo. Tentando deitar cá para fora tudo quanto lhe vai na alma.

Irreverente.

Contestatário.

Transgressor.

Inconformado.

Falando desta vida estuporada e dos “estupores” que dela se aproveitam.

Enfim, de um desenraizado que, na procura das raízes que o prendem a este «terrunho», berra, ameaça, grita, gesticula.

Mas que, no fundo, não passa de um ser à procura de sentido para tudo isto.

Por isso, este é o blog dos meus confrontos”.

 

Voilá – é Zassu! (que é o mesmo que dizer – Souza e Silva).

 

Foi, positivamente, uma noite de insónia que ditou a criação deste blogue.

 

Foi pensando nas minhas utopias e, por via delas, nas minhas dissidências com os meus «companheiros de estrada».

 

Foi pensando nas minhas, muitas, revoltas, raivas, contestações e desabafos. Querendo ser irreverente, contestatário. Inconformado, transgressor. Falando da vida estuporada e dos estupores – infelizmente tantos - que dela se aproveitam, em detrimento de todos nós, a imensa maioria. E como tudo isto está tanto à nossa vista!...

 

Queríamos berrar, ameaçar, gesticular, gritar… para que uma nova alvorada para o terrunho que o acaso da vida nos destinou vir viver.

 

Contudo, creio, o peso dos anos foi mais forte e traiu-nos.

 

Titubeámos alguns temas, em termos de «Encontros» e «Desencontros» e «Cenas». E, lentamente, fomos perdendo a verve, publicando textos sobre temas que não espelhavam o desiderato pelo qual este blogue apareceu, fazendo simplesmente aparecer temas que sempre nos foram muito caros, quer como educador/docente, quer como cidadão.

 

Até «Pedaços de memória…» aparece, a 25 de fevereiro de 2013. E, neste texto, mais sentimos o peso da idade!

 

Isto, para já não falar no trabalho (I Parte – Enquadramento Internacional) sobre a Grande Guerra (1914-1919), a solicitação do Grupo Cultural Aquae Flaviae. Um trabalho sobre guerra para quem se sente tão pacífico! Contradições… da vida, claro está!

 

Inopinadamente, a 7 de janeiro de 2014, damos connosco a transcrever, acompanhados, cada um, de uma foto, dos poemas de Miguel Torga, publicados nos seus 16 volumes do seu «Diário».

 

Até hoje não entendemos porque enveredámos por esta via. Talvez o coração tenha razões que a razão desconhece, tal como diz o ditado…

 

Adolfo Rocha, o nosso escritor maior, é um dos nossos. Do Douro. E das penedias do seu Reino Maravilhoso. Homem lúcido, crítico. Talvez por isso muito sofrido. Um pensador da Ibéria e sempre com o coração no seu Portugal.

 

A poesia de Adolfo Rocha, transubstanciado em Miguel Torga, é o traço de vida de um homem em luta consigo próprio e com a perenidade do ser humano.

 

Hoje deixamos aqui o seu último poema no seu último «Diário».

 

Quanto a nós, e a este blogue, o futuro o dirá.

 

Apesar de tudo, e com a sensação de um dever cumprido, demos, desta feita, a última métrica àquele que aqui nos acompanhou mais de quatro anos.

 

 

POESIA E ARTE

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

 

REQUIEM POR MIM

 

 

Aproxima-se o fim.

E tenho pena de acabar assim,

Em vez de natureza consumada,

Ruína humana.

Inválido do corpo

E tolhido da alma.

Morto em todos os órgãos e sentidos.

Longo foi o caminho e desmedidos

Os sonhos que nele tive.

Mas ninguém vive

Contra as leis do destino.

E o destino não quis

Que eu me cumprisse como porfiei,

E caísse de pé, num desafio.

Rio feliz a ir de encontro ao mar

Desaguar,

E, em largo oceano, eternizar

O seu esplendor torrencial de rio.

  

Coimbra, 10 de Dezembro de 1993

Morte-pintura- Ademir Araújo.jpg

05
Mai18

Poesia e Fotografia 620

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

 

TERMO

 

 

Pára, imaginação!

Não há mais aventura, nem poesia.

A hora é de finados,

Com versos apagados

Na lareira onde a fogueira ardia.

 

 

Pára, é de lei.

Agora é só cansaço desiludido

E memória teimosa que entristece

O nada que acontece

E o muito acontecido.

 

 

Pára, porque findou

O tempo intemporal

Do amor e da graça concedida

A quem nele, no seu barro original,

Modela a própria vida.

 

 

Coimbra, 3 de Novembro de 1993

58f096b917256_o,size,969x565,q,71,h,2b653f.jpg

04
Mai18

Poesia e Fotografia 619

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

 

EXPIAÇÃO

 

 

Nunca me respondeste, quando te chamei,

E só Deus sabe como era urgente e aflita

A minha voz!

Mas, desgraçadamente sós,

Morrem os que se afogam

No mar da sua própria condição.

O meu, sem margens, é um descampado

Desabrigado.

Vagas e vagas de solidão,

E a tua imagem, litoral sonhado,

Sempre evocada em vão.

 

 

Nunca me respondeste, e foi melhor assim.

Um naufrágio perpétuo é um pesadelo.

Dizer-me o quê?

Que, de longe, me vias afogar,

Mas que não podias.

Pois sabias

Que os poetas jurados,

Humanas heresias,

Nascem condenados

A morrer afogados

Todos os dias

No tormentoso mar dos seus pecados.

 

 

Coimbra, 20 de Setembro de 1993

afundar-afogar-morrer.jpg

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