Poesia e Arte 72
POESIA E ARTE
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
À NOITE
Musa cega, de versos luminosos
Cantados a Morfeu, deus sem memória,
No teu regaço, a glória
Dos poetas
Dura o que dura o sonho,
O transe inconsciente.
E tanto penitente
Sonha a eternidade
Na claridade
Astral
Dum poema perfeito,
Que se desmente
Desfeito
Em névoa
Logo de madrugada,
Quando a alma, acordada,
Sem mais inspiração,
Se mortifica em vão,
Só de bruma lembrada!
Coimbra, 16 de Janeiro de 1989
(Isis e Morfeu - Pierre-Narcisse Guérin, 1811)