Poesia e Fotografia 421
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
PAINEL
Terra lavrada e pintada
Com a ponta da charrua.
Tela nua
Colorida,
Onde um gesto compassado,
Sagrado,
Semeia a vida.
Torrão, 30 de Novembro de 1968
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POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
PAINEL
Terra lavrada e pintada
Com a ponta da charrua.
Tela nua
Colorida,
Onde um gesto compassado,
Sagrado,
Semeia a vida.
Torrão, 30 de Novembro de 1968
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
MÁCULA
Manhã de luz doente
Como as folhas que a febre amarelece.
O céu, baixo, parece
Desprender-se do aro que o sustém.
Tristes, as coisas murcham nos sentidos
Deprimidos
Outoniços, também...
Coimbra, 3 de Novembro de 1968
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
DOIRO
Corre, caudal sagrado
Na dura gratidão dos homens e dos montes!
Vem de longe e vai longe a tua inquietação...
Corre, magoado,
De cachão em cachão,
A refractar olímpicos socalcos
De doçura
Quente.
E deixa na paisagem calcinada
A imagem desenhada
Dum verso de frescura
Penitente.
Ferrão, 7 de Setembro de 1968
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
MAR
Mar!
E é um aberto poema que ressoa
No Búzio do areal…
Ah, quem pudesse ouvi-lo sem mais versos!
Assim puro,
Assim azul,
Assim salgado…
Milagre horizontal
Universal,
Numa palavra só realizado.
Miramar, 7 de Agosto de 1968
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
REFLEXÃO
Sim, olhar a paisagem…
Olhá-la como um bicho
Ou como um lago.
Olhá-la neste vago
Sentimento
De pasmo e transparência.
Olhá-la na decência Original
Com os olhos de inocência
E de cristal.
Gerês, 2 de Agosto de 1968
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
CANTILENA DA PEDRA
Sem musa que me inspire,
Canto como um pedreiro
Que, de forma singela,
Embala a sua pedra pela serra fora...
Upa! Que lá vai ela!
Upa! Que vai agora.
A pedra penitente que eu arrasto
Tem o tamanho de uma vida humana.
E só nesta toada a movimento,
Embora o salmo já me saia rouco.
Upa! Meu sofrimento!
Upa! Que falta pouco...
Coimbra, 30 de Julho de 1968
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
AGENDA
Folheio a vida
Num calendá¡rio velho.
Dias riscados, como contas pagas.
Domingos de repouso,
Segundas de trabalho,
Sábados de cansaço,
Sem nenhum sentido.
No abismo do nada,
O nada, apenas.
Quem sofreu nestas páginas vazias,
Tão frias,
Tão serenas?
Coimbra, 30 de Maio de 1968
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
TRANSPARÊNCIA
Deixo cair a tarde
Nos olhos fatigados.
O dia foi de luz intensa e demorada,
Nevada nas alturas.
Guardei a que podia.
Agora quero a noite
E a brancura das horas
Sem lembrança.
Trevas e claridade
Inconsciente.
Longe daqui e sempre aqui
Presente.
Quero sonhar apenas o que vi.
Quero ver o que vi mais transparente.
Chaves, 9 de Abril de 1968
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
AGORA
Abre-te, primavera!
Tenho um poema à espera
Do teu sorriso.
Um poema indeciso
Entre a coragem e a cobardia.
Um poema de lírica alegria
Refreada,
A temer ser tardia
E ser antecipada.
Dantes, nascias Quando eu te anunciava.
Catava,
E no meu canto acontecias
Como o tempo depois te confirmava.
Cada verso era a flor que prometias
No futuro sonhado…
Agora, a lei é outra: principias,
E só então eu canto confiado.
S. Martinho de Anta, 31 de Março de 1968
POESIA E ARTE
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
LONGO VAI O MEU CANTO
Longo vai o meu canto,
Sem eco na paisagem que atravesso.
Nele me despeço
Lentamente da vida.
De todas as riquezas que ela tem,
E ninguém
Possui senão de vista e de fugida.
Longo vai o meu canto,
Sem eco, porque nunca foi ouvido.
Nele, humano e dorido,
Protesto contra a minha condição
De mortal sem nenhuma garantia...
Longo vai o meu canto
E o desencanto
Desta longa porfia...
Coimbra, 1 de Março de 1968
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Olá, por acaso tem a análise deste poema?
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