Poesia e Fotografia 359
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
(Desde o Miradouro de São Leonardo da Galafura)
Ordonho, 2 de Outubro de 1961
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POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
(Desde o Miradouro de São Leonardo da Galafura)
Ordonho, 2 de Outubro de 1961
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POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
RONDA
Parece a teimosia
De uma criança:
Do outro lado... Do outro lado... Do outro lado...
E larga as rédeas à imaginação,
Num galope furtivo e aventureiro.
Do outro lado há a outra inquietação...
Do outro lado nasce o sol primeiro...
Ah, sempre insatisfeita,
Contrafeita
Natureza humana!
Ah, tentação raiana
Do pensamento!
Passar, passar, de todas as maneiras!
Mas passar, sem licença, passa o vento,
Que não tem pátria, nem fronteiras.
Vilarinho da Raia, 21 de Setembro de 1961
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POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
REPOUSO
Paz das alturas, evasão furtiva
Da inquietação rasteira.
Aprazível clareira
Na floresta do tempo penitente.
Branca serenidade passageira
Onde tudo é sereno eternamente.
Um pequeno descanso refratário
De ser homem.
Pousei o meu carrego.
A cavalo na terra, olho-a de cima,
Fugido à força de atração que anima
O seu desassossego.
Gerês, 14 de Agosto de 1961
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POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
TORPOR
Voga,
À tona do mar,
A tarde calma.
Sem alma,
Um corpo
Alonga-se na areia...
O sol, cadente, enleia
A luz cansada
À placidez das ondas...
Musa, se eu te chamar,
Deixa o som perpassar,
Não me respondas!
Miramar, 28 de Julho de 1961
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POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
ÉCLOGA
Acaricio a relva
Dos teus cabelos...
É o bucolismo
Que me apetece:
Pousar a mão
Numa loira cabeça de criança,
E fruir esta terna sensação
De bem-aventurança.
Paz sem remorsos, num vergel humano.
A verdura
E a frescura
Da inocência
Colhidas como os frutos, por um gesto.
E adiados, mudos de ternura,
Os versos de amargura
E de protesto.
Coimbra, 2 de Maio de 1961
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COMUNICADO
Na frente ocidental nada de novo.
O povo continua a resistir
Sem ninguém que lhe valha,
Geme e trabalha.
Até cair.
Coimbra, 18 de Abril de 1961
(Catarina Eufémia)
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CONVITE
Vamos, ressuscitados, colher flores!
Flores de giesta e tojo, oiro sem preço...
Vamos aquele cabeço
Engrinaldar a esperança!
Temos a primavera na lembrança;
Temos calor no corpo entorpecido;
Vamos! Depressa!
A vida recomeça!
A seiva acorda, nada está perdido!
São Martinho de Anta, 2 de Abril de 1961
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POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
PÂNICO
Olho, aterrado, a grande mesa posta.
Quem presumiu em mim fome tamanha?
Todo o maná sagrado da montanha
Servido lautamente
A um só conviva!
À luz do sol poente,
Numa quase agressiva
Pressa de comunhão, as penedias
São raras iguarias
Dum banquete irreal
De que sou comensal
Apenas eu...
Como se um pigmeu
Pudesse devorar num breve instante
A refeição eterna dum gigante!
S. Martinho de Anta, 25 de Março de 1961
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BORRALHO
Vou aquecendo os sonhos à lareira,
Sem reparar nas cinzas do brasido.
Ou olho-as distraído,
Na baça inconsciência
De que são a verónica da morte.
Sentado na cadeira habitual,
Diligência irreal
Que atravessa, morosa, a noite fria,
De mim próprio alheado,
Dou concreto calor à fantasia
Como se o lume fosse imaginado.
São Martinho de Anta, 30 de Dezembro de 1960
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SERÃO
Frios versos de inverno...
Que Musa me regala o coração?
Ah, quem me dera aquela
Ida e primaveril inspiração!
Triste e mortiça,
A minha voz fumega
Como lenha molhada. A fogueira não pega...
Arde assim, apagada.
S. Martinho de Anta, 21 de Dezembro de 1960
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