Poesia e Arte 32
POESIA E ARTE
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
SIBILA
Tanto chamei, que um dia respondeste.
Mas não pude entender o que dizias.
As palavras ou eram profecias,
Ou sons vazios de qualquer sentido.
Homem apenas, não cuidei que houvesse
Voz do céu ou da terra que tivesse
Eco tão desigual no meu ouvido.
Então só desejei o teu silêncio,
A contida mudez dum mar gelado.
Nada saber de ti, senão que existes
Por detrás destes gritos e lamentos.
Ter apenas a íntima certeza
De que vês o meu sonho de pureza
Gravado no reverso dos momentos.
Coimbra, 16 de Novembro de 1953
(Sibila Délfica, de Miguel Ângelo)