Poesia e Fotografia 252
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
RELATO
Era um poema negro como a noite.
Era de noite.
E eu cantava com tinta
No meio da escuridão.
Versos como o carvão,
Pretos, de autêntico azeviche.
Estilhaçados de ébano, ou, melhor ainda,
Borras do coração de Orfeu.
Na minha angústia perguntava eu
Que gosto me daria nadar no mundo,
Vivo entre vivos e a morrer aos poucos...
E tudo assim, de luto carregado!
Miava um gato, também desesperado,
Num telhado sozinho.
Nisto, tive um assomo de pudor humano
E calei-me.