Poesia e Fotografia 141
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
MACERAÇÃO
Tanto fruto maduro,
E a mão hesita sem colher nenhum!
A fome do poeta é o pomar todo.
E o poema é só um...
Coimbra, 22 de Janeiro de 1947
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POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
MACERAÇÃO
Tanto fruto maduro,
E a mão hesita sem colher nenhum!
A fome do poeta é o pomar todo.
E o poema é só um...
Coimbra, 22 de Janeiro de 1947
POESIA E FOTOGRAFIA
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
FONTE NOVA
Minei as fragas onde o sol e a neve
Pintavam panoramas só de fora.
E da alma da serra, fresca e leve,
Brotou este caudal que tenho agora.
Água despida que se entrega toda.
Debruçai-vos e vede...
Água que é o vinho desta nova boda.
Beba quem tenha sede!
S. Martinho de Anta, Natal de 1946
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POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
A MANUEL DE FALLA,
QUE MORREU ONTEM
A vida é breve, Falla.
Mas é breve
Para quem apodrece na mortalha.
Não a tua!
No Concerto de Cravo
Uma vida mais alta continua.
Não, não há génio breve,
Nem morre o homem que na vida o teve,
Como tu!
Dorme e descansa o corpo velho e gasto,
Porque o teu nome é um astro
No céu da Ibéria desolado e nu.
Coimbra, 15 de Novembro de 1946
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POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
REGRESSO
Bicho que nunca se ergueu,
Instinto desprevenido,
Digam que não, mas sou eu,
Aqui deitado e despido.
Sinto a vida como um seio
Que lateja de calor;
Como um ventre onde semeio
O meu sémen criador.
Ouço cantar as raízes,
E vejo seixos fechados
Reluzentes e felizes
Por serem acarinhados.
As linhas de água corrente
Passam pelas minhas veias.
Entre o meu corpo e a nascente
Não há distâncias alheias.
Cheira-me a terra a tutano,
Mastigo-a e sabe-me bem.
Animal, mas desumano,
Recebo inteiro o que vem.
Estou na origem do ser,
Primário como Adão.
Que pena eu não me esquecer
De cantar esta emoção.
Rio de Onor, 28 de Setembro de 1946
(Rio de Omor em Rio de Onor)
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POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
CANTIGA DE MALDIZER
Esta menina que eu sei
É como a rosa-dos-ventos:
Ora grita aqui-del-rei.
Se alguém a vem namorar,
Ora maldiz os conventos
Onde o pai a quer guardar.
É um riso agradecido
E um pranto de se acabar.
Parece um fruto maduro,
Do outro lado do muro,
Com medo de ser comido
E medo de ali ficar.
Coimbra, 12 de setembro de 1946
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POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
ODE
Eis-me nu e singelo!
Areia branca e o meu corpo em cima.
Um puro homem, natural e belo,
De carne que não peca e que não rima.
A linha do horizonte é um nível quieto;
As velas, de cansaço, adormeceram;
E penas brancas, que eram luto preto,
Perderam-se no azul de onde vieram.
Sol e frescura em toda a grande praia
Onde não pode haver agricultura;
Esterilidade limpa, que não caia
De pão e vinho a cósmica fartura.
Dançam toninhas lúdicas no céu
Que visitam ligeiras e felizes;
Uma força sonâmbula as ergueu,
Mas seguras à seiva das raízes.
Nem paz, nem guerra, nem desarmonia;
O sexo alegre, mas a repousar;
Um pleno, largo e caudaloso dia,
Sem horas e minutos a passar.
Vem até mim, onda que trazes vida!
Soro da redenção!
Vem como o sangue doutra mãe pedida
na hora de dar mundo ao coração!
Lavadores, 14 de Agosto de 1946
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Olá, por acaso tem a análise deste poema?
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