A GRANDE GUERRA (1914-1918)
E A PARTICIPAÇÃO DOS MILITARES DO RI 19 E DO ALTO TÂMEGA NO CONFLITO
PRIMEIRA PARTE
CONTEXTO INTERNACIONAL
(DA PLACIDEZ TECTÓNICA AO MOVIMENTO DAS PLACAS)
CONSIDRAÇÕES FINAIS
4.- Carl von Clauswitz e a Grande Guerra
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(General Carl Von Clausewtiz)
Carl von Clausewitz, que analisou o fenómeno da guerra no contexto do período pós-vestefaliano, define a guerra como «um ato de força para compelir nosso inimigo a fazer a nossa vontade» e que, na sua natureza fundamental, inclui uma «trindade paradoxal», cujos elementos são a violência, o acaso e o propósito racional, elementos esses que têm sido uma constante ao longo da história da humanidade. E adianta, quanto a estes três aspetos ou elementos primários, que existem outros três secundários: a violência, enquanto representada pela população; o acaso, pelo comandante e seu exército; o propósito racional, pela política (ou governo).
Basil Liddell Hart acusa Clausewitz de ter sido o responsável, com a sua obra Da Guerra, pela carnificina ocorrida na Grande Guerra, ao defender a guerra ilimitada; por seu lado, John Keegan apelida Clausewitz de «o apóstolo de uma filosofia revolucionária sobre o modo de travar a guerra», afirmando que ele defendia que a guerra irrestrita atendia plenamente os interesses do Estado. Outros autores vêm a terreiro defender Clausewitz afirmando a injusteza destas críticas, pois, ao contrário do que aqueles dois autores afirmam, Clausewitz não defendia basicamente nada: limitou-se a refletir sobre o fenómeno bélico. E chegava a afirmar que a guerra era mais do que um verdadeiro camaleão, porquanto adota as suas caraterísticas básicas em função das circunstâncias. E, como fenómeno total, usa a violência, o ódio e a inimizade como uma força cega em ordem à liquidação do inimigo.
Um outro autor, Robert Baumann, ainda ao contrário de alguns autores, como os acima referidos, e ainda van Creveld e Kaldor, diz que a obra de Carl von Clauswitz, escrita há mais de 150 anos, não está desatualizada, face ao mundo em que hoje vivemos, e defende que as paixões e a fundamentação lógica, que levam os Estados (e grupos) a apostar na guerra (na violência), diferem pouco daquelas que motivaram tribos ou aquilo a que hoje chamamos os que levam a cabo a nova guerra - a guerra étnica, a guerra de guerrilha, a guerra de baixa intensidade, o terrorismo ou a guerra contra o terrorismo. Afinal de contas, existe apenas uma categoria significativa de guerra: a própria guerra.
A violência e o ódio, consubstanciais ao conceito de guerra, está longe ainda de ser erradicado da humanidade que hoje nos é dado viver. Embora já vá longe o tempo daquilo que designámos por grandes conflitos bélicos mundiais - a que chamámos guerras totais -, como a Grande Guerra (ou Primeira Guerra Mundial) e Segunda Guerra Mundial, porventura não vivemos e fazemos outras guerras, nos dias que passam, tão ou mais violentas e mortíferas como aquelas cujos horrores tanto recordamos? Onde está a nossa sensibilidade também para os horrores que hoje, por todos os cantos do mundo, se vivem, e onde se destila tanto ou mais ódio do que os do passado? A violência que se vive em muitas das famílias, no mundo empresarial, nas instituições, no país e em certas zonas do globo, porventura já não produziram tantas ou mais atrocidades e mortes que aquelas, que tanto recordamos, da primeira metade do século XX? É por não serem praticadas em massa que perdem a sua importância, crueza ou crueldade?
Hoje, ao contrário de tentarmos erradicar as causa que levam à guerra, passados mais de 2 mil anos, tentamos recuperar as máximas ou os treze princípios ínsitos na obra de Sun Tzu - A Arte da Guerra -, entre os quais: submeter o inimigo sem combater é a excelência superior; ou, sempre que seja possível, a vitória sobre o inimigo deve ser alcançada através do ataque à sua estratégia, evitando os seus pontos fortes; ou ainda, evita uma confrontação direta decisiva, esperando que a tua estratégia desgaste a opinião pública do teu inimigo. Por acaso, estes princípios ou fórmulas não levam a atitudes agressivas, de luta, competição feroz, propiciadoras e instauradoras de clima de guerra entre pessoas, instituições e povos, pouco facilitadoras da cooperação e da solidariedade, e geradoras dos novos conflitos armados, a que agora designamos simplesmente de nova guerra?
Dizem-nos que os grandes conflitos armados, na sociedade da informação e do ciberespaço já não são possíveis. Mas, afinal de contas, aquilo a que certos autores designam de nova guerra, não serão o mesmo que as guerras antigas combatidas de acordo com fatores e circunstâncias que caracterizam as sociedades às quais os contendores se adaptam para impor a sua vontade, trazendo tanta, ou ainda maior, violência, ódio e destruição?
O fim da guerra e o princípio da paz reside numa forma outra não só de encararmos o Mundo, o Planeta onde nos é dado viver, como o Homem que o habita: na partilha da diferença e na assunção dos conflitos. Entendendo-os como conaturais à natureza humana. Enfrentando-os sem violência. Com um outro olhar. Uma outra visão do Mundo, da Sociedade e do Homem. Uma outra visão e olhar que, por agora, não passa de uma simples utopia. Mas que, nunca, podemos claudicar em alcançá-la...
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