Grande Guerra (1914-1918) - 28
A GRANDE GUERRA (1914-1918)
E A PARTICIPAÇÃO DOS MILITARES DO RI 19 E DO ALTO TÂMEGA NO CONFLITO
PRIMEIRA PARTE
CONTEXTO INTERNACIONAL
(DA PLACIDEZ TECTÓNICA AO MOVIMENTO DAS PLACAS)
V
AS FRENTES DE COMBATE
(OU AS GRANDES ONDAS DE CHOQUE)
2.4.2.- 1916: Coordenando a guerra. Batalhas. O aparecimento dos primeiros carros de combate. Mudanças na condução da guerra
2.4.2.1.- Coordenação política e militar - Conferências Interaliadas
Com a mudança de governos quer em França quer na Grã-Bretanha, em finais de 1915, os chefes de governo, quer em Paris quer em Londres, reconheceram a necessidade de encetarem medidas de coordenação política e militar entre todos os países Aliados.
Neste sentido, a 4 de dezembro de 1915, o chefe de governo francês, Aristide Briand, reuniu-se, em Calais, com Lloyd George, ministro liberal britânico das Munições, estando presentes Horatio H. Kitchener, ministro britânico da Guerra, Joffre e Gallieni. Esta reunião levou à realização do primeiro Conselho de Guerra Interaliado, sob a presidência de Joffre e com a presença de representantes militares da Grã-Bretanha, Rússia, Itália, Bélgica e Sérvia. Foi nesta reunião que se consertaram as atividades militares operacionais para 1916 e a estratégia ia no incremento das ações ofensivas nas três frentes principais - ocidente, oriente e italiana - e de contenção nos teatros de operações menores - Salónica, Egito e Mesopotâmia. A par desta estratégia, ficou ainda assente que as grandes ofensivas deveriam ser lançadas em simultâneo para dificultar o uso das reservas por parte do inimigo. Face às dificuldades pelas quais o exército russo estava a passar, quanto a armas, munições e equipamentos, as ofensivas a oriente, antes de junho de 1916, não poderiam ser levadas a cabo.
Era um espírito otimista no querer lançar grandes ofensivas conjuntas, face às dificuldades da indústria militar dos países Aliados na enorme produção de armas e armamentos, mas que estavam a ser ultrapassadas, ao dar-se agora prioridade, na Inglaterra, ao setor militar, em detrimento das exportações.
Daí que, no campo da produção de material militar, apesar de tudo, as perspetivas eram otimistas, outro tanto não se poderia dizer quanto ao potencial humano. A França, sobretudo, estava no limite das suas reservas de recrutamento, ao ponto de o número de unidades de combate ter sido feito com recurso à redução de efetivos na área da retaguarda. Mas a Grã-Bretanha, com um exército profissional e graças ao apelo de H. Kitchener à incorporação de voluntários, na primavera de 1916, tinha um exército constituído po 70 divisões, ou seja, dez vezes mais efetivos do que havia em agosto de 1914. Tal circunstância permitiu que a FEB, em janeiro de 1916, ocupasse uma extensão maior até aí da responsabilidade do 2º exército francês, então sob o comando do general Pétain.
Em dezembro de 1915, French, magoado pelas críticas que na Grã-Bretanha faziam ao seu comando, demite-se. Haig substitui-o e French é nomeado Comandante-Chefe das Forças Armadas Britânicas, cargo que ocupou até 1918.
A 14 de fevereiro de 1916, realiza-se outra Conferência Interaliada, em Chantilly. Aí ficou decidido que, se os alemães cedessem a iniciativa aos Aliados, estes lançariam uma poderosa ofensiva na frente do rio Somme, a 7 de julho, data que só seria antecipada caso ocorresse uma grande ofensiva na Frente Oriental.
Por sua vez, Falkenhayn, convencido que o exército russo estava completamente dominado, face às informações que tinha dos problemas internos do regime czarista e que, acreditava, estava à beira de uma revolução, achou ser altura de exercer um novo esforço principal a Ocidente. E, considerando, face à sua experiência, que os britânicos eram mais fortes a defender, Falkenhayn, e o seu OHL, planeia uma ofensiva na região de Verdun, com o nome de código Operação Julgamento. Kaiser Guilherme II estava de tal forma entusiasmado de desabafou: «Esta guerra terminará em Verdun!»
Segundo este estratega, a ação terrestre deveria ser complementada com uma guerra submarina sem restrições para, assim, ferir a superioridade marítima e industrial dos Aliados. Ou seja, abalar-lhes, decisivamente, o seu moral: em terra, os franceses; no mar, os britânicos.
Este assunto - o da guerra submarina -, entre os altos dirigentes alemães, não era muito pacífico. Falkenhayn, bem como Tirpitz, eram partidários, nesta data, da guerra submarina irrestrita; por outro lado, o chanceler Bethmann-Holweg, e o próprio kaiser, Guilherme II, temiam, ou receavam, que tal guerra levasse à rutura com os Estados Unidos - pelas perdas do comércio marítimo daquele país com a Europa - e a sua entrada no conflito ao lado dos Aliados fosse uma realidade. Nesta altura ficou adiada a guerra submarina sem restrições, com a consequente saída, por demissão, do Secretário de Estado da Marinha, almirante Tirpitz, o grande propulsor da grande esquadra alemã.
Para uma ação de envergadura a Ocidente era necessária a transferência de tropas da Frente oriental para ocidental. A dupla Hindenburg-Ludendorff, apostados e confiantes numa vitória decisiva a leste, opuseram-se. Falkenhayn teria de operar com os recursos materiais e humanos que dispunha a ocidente, sem o reforço do leste, e sem o efeito desgastante e moral da guerra submarina irrestrita que poderia provocar nos Aliados.
2.4.2.2.- Batalhas
a).- Batalha de Verdun ou «Operação Julgamento» - Fases e etapas
Falkenhayn escolheu Verdun pelo valor simbólico que o local poderia ter para o inimigo: a queda daquela fortaleza poderia levar à quebra do moral dos franceses, ao fraquejar do seu élan vitale. Por outro lado, Verdun era um saliente pronunciado na longa frente de combate e, sob o ponto de vista tático, a ofensiva oferecia o aliciante de se poder processar em duas direções - norte e este.
1ª Fase
De janeiro a fevereiro de 1916, o 5º exército alemão foi reforçado com 10 divisões e diverso material de artilharia e tinha 2,5 milhões de granadas disponíveis: era a maior concentração de poder de fogo jamais vista. O objetivo de Falkenhayn baseava-se numa tática ou ação de verdadeiro desgaste do inimigo, consumindo-o numa estreita faixa de 13 Km.
Por sua vez, do lado francês, a experiência ensinava-lhes não ter muitas ilusões quanto à capacidade das fortalezas defenderem-se por si próprias: Verdun seria defendida bem mais à frente das suas fortificações. A criação da Região Fortificada de Verdun (RFV), em agosto de 1915, tinha exatamente esse desiderato. Estendia-se desde Avoncourt até às alturas de Saint- Mihiel, com um total de 5 divisões.
Os preparativos da operação alemã não passaram desapercebidos aos franceses. Joffre, então, entregou a defesa da RFV ao firme general Pétain. Com o seu comando, a RFV, para além das 5 divisões, passou a ter mais 4 Corpos de Exército (CE).
Com esta força, Pétain não perdeu tempo e, apesar da pressão alemã, de 26 de fevereiro a 4 de março, o XX CE travou um encarniçado combate pela posse do forte de Douaumont, que ficou totalmente destruído e na posse dos alemães. Refere David Martelo que “nesse combate, foi ferido e aprisionado o capitão Charles de Gaulle, futuro Presidente da França” (Afonso; Gomes, 2013: 229).
Falhado o ataque frontal às posições da margem direita do Mosa, os alemães alargam a ofensiva para áreas da margem esquerda - mais abertos e menos acidentados. A 6 de março, o primeiro ataque a oeste de Mosa levou ao colapso da 67ª divisão. Os franceses, todavia, em contra-ataques simultâneos, repuseram a situação.
A 9 de abril, o exército alemão voltou a atacar. Falkenhayn estava apostado numa operação de puro desgaste. Mas também teria de contar com o estado das suas tropas. Em fins de maio, o número de mortos e feridos alemães, desde o início da ofensiva, a 21 de fevereiro, tinha atingido o número de 100 000. Com o decorrer dos combates, a erosão tornou-se mais sensível do que nos franceses porque estes “através da rotação das divisões em primeiro escalão, garantiram às tropas algum repouso em posições recuadas. Os alemães, pelo contrário, mantinham a mesmas divisões ao contacto e recompletavam as baixas com rendições individuais” (Afonso; Gomes, 2013: 229).
Outro impulso ofensivo levou os alemães a atacar o forte de Vaux. A guarnição foi cercada e atacada e acabou por render-se por falta de água.
A persistência e firmeza de Pétain só foi conseguida à custa de pesadas baixas. Pétain menosprezava as enormes perdas das suas tropas. Joffre, reconhecendo tal facto, nomeou-o como comandante do Grupo de Exércitos do Centro, uma promoção, e a RFV foi entregue ao general Nivelle, perito em artilharia.
A 22 de junho, o exército alemão lançou novo ataque na margem direita do Mosa, procurando conquistar os fortes de Souville e Tavannes. “Fê-lo proceder de uma preparação com gás «Cruz Verde», uma forma aperfeiçoada de gás cloro. Desta vez, porém, o objetivo principal do bombardeamento foi a linha de posições da artilharia francesa. A neutralização temporária dessas guarnições permitiu à infantaria alemã progredir em condições de superioridade tática” (Afonso; Gomes, 2013: 230).
Este avanço colocou os alemães numa situação muito próxima de Verdun. E eis que surge um apelo desesperado: “«Não passarão!», era a última linha de uma ordem de serviço do general Nivelle” (Gilbert, 2006: 387).
Para o abastecimento de material e de tropas, os franceses só podiam contar com uma estrada ameaçada pelo inimigo (que recebeu o nome de La Voie Sacré, «a via sacra») e com uma linha férrea de via única (que diariamente evacuava cadáveres e feridos, depois de trazer provisões ou reforços), “pelo que foi necessário defender a comunicação e o trafego ao milímetro para não levar os defensores de Verdun ao desastre” (Canal da História, 2013: 120).
A 30 de junho, depois de contra-ataques iniciados a 24, os franceses conseguiram suster o avanço alemão, marcando o fim da primeira fase da batalha.
Depois de quatro meses de combates, foi enorme o grau de destruição na região, nunca dantes imaginada. Quanto a perdas humanas, foram, de ambos os lados, 200 000, entre mortos e feridos.
2ª Fase
A 1 de julho, os Aliados dão início à operação programada do Somme. Os alemães, tendo uma ofensiva em grande escala numa outra área da frente, e com necessidade de lhe dar apoio, levou a que, entre 24 de outubro e 3 de novembro de 1916, os franceses reconquistassem a parcela de terreno perdido, em cunha, na qual se incluíam os fortes de Vaux e Douaumont.
A 11 de dezembro, depois de uma intensa preparação de artilharia, os franceses dão início a uma nova ofensiva, levando a que, a 18, repusessem as linhas que tinham a 25 de fevereiro.
Nesta semana, a derrota do exército alemão contabilizou-se em 12 000 prisioneiros e 284 bocas-de-fogo de artilharia.
Para Falkenhayn, a Operação Julgamento, sob o ponto de vista ofensivo, redundou num enorme fracasso. A partir daqui, os alemães abandonarem o claro pendor ofensivo.
b).- Batalha do Somme
Esta operação foi preparada pelos Aliados com o maior rigor no saliente do Somme, em julho.
A FEB deveria entrar com 20 divisões do recém-formado 4º exército, comandado pelo general Rawlinson; os franceses, face ao seu empenhamento em Verdun, entrariam com 3 divisões.
A artilharia era composta por 1 180 peças e 245 obuses pesados, possibilitando uma densidade de fogo elevadíssima nos 15 Km escassos de frente de ataque.
O general Haig, diz David Martelo, “estava persuadido de que os fogos que precederiam o ataque seriam suficientes para destruir as barreiras de arame farpado e transformar as linhas alemãs num amontoado de ruinas [E continua]. Emendando erros ofensivos, as tropas britânicas teriam as reservas muito próximo das unidades em primeiro escalão, de modo a poderem reforçar oportunamente o ataque. Diante da infantaria a artilharia colocaria barragens de fogo rolantes, de modo a suprimir as defesas” (Afonso; Gomes, 2013: 231-232). Só que, e como adianta David Martelo, “executar barragens rolantes sem meios de rádio - então inexistentes - era, todavia, uma técnica arriscada, que só poderia ser feita a horário ou utilizando a problemática modalidade de sinais pirotécnicos” (Afonso; Gomes, 2013: 232). Saídas as tropas ofensivas das trincheiras, o fluxo de informações de campanha para os escalões superiores é quebrado. E os comandantes, sem dados atualizados sobre os combates, não têm qualquer possibilidade de influir na condução do ataque, nomeadamente na prioridade dos fogos e no controlo dos movimentos. Nestas circunstâncias, e como bem diz David Martelo (in: op.cit.: 232), os generais são “taticamente, cegos, surdos e mudos”.
Pelo lado dos alemães, “a engenharia militar construíra a mais completa e sofisticada linha de defesa de toda a frente. O terreno, seco e calcário, favoreceu a construção e conservação de todo o tipo de estruturas enterradas e vias de comunicação” (Afonso; Gomes, 2013: 231).
Quando, a 1 de julho de 1916, a infantaria se lança ao ataque, saindo das trincheiras, deu-se imediatamente conta: primeiro, que o efeito das granadas de artilharia não surtiu qualquer efeito na destruição das redes de arame farpado; segundo, o efeito de destruição das posições inimigas protegidas foi quase nulo; terceiro, quando mal os atacantes ficaram ao alcance das armas alemãs, começou um verdadeiro massacre, constituindo esse dia a data mais negra da história do exército britânico. Os cerca de 100 000 que invadiram a terra-de-ninguém, foram mortos 20 000 e feridos 40 000, ao passo que as baixas alemãs não foram mais que 3 000, entre mortos e feridos.
A mortandade foi impressionantemente chocante, mesmo até para os próprios alemães!
Apesar destas terríveis perdas, os Aliados voltaram, nos dias seguintes, ao ataque.
Nesta batalha, o máximo de progressão conseguida não ultrapassou, em momento algum, os 12 Km. Uma frustração, face aos meios empregues e às enormes vítimas!
A grande lição a tirar desta batalha é que não foi por falta de coragem dos soldados que os ganhos tinham sido tão diminutos e as perdas tão volumosas, o que sucedia é que a infantaria que defendia, protegida por trincheiras e abrigos, possuía uma enorme vantagem sobre o inimigo atacante, a descoberto e, ainda por cima, com obstáculos pelo meio.
Quando a 19 de novembro de 1916, a ofensiva foi dada como concluída, o role das vítimas foi o seguinte, em termos de baixas: alemães - 600 000, entre mortos e feridos; britânicos - 419 654; franceses - 194 451. Um horror!











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