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30
Mai15

Grande Guerra (1914-1918) - 38

 

 

 

A GRANDE GUERRA (1914-1918)

E A PARTICIPAÇÃO DOS MILITARES DO RI 19 E DO ALTO TÂMEGA NO CONFLITO

 

PRIMEIRA PARTE

CONTEXTO INTERNACIONAL

(DA PLACIDEZ TECTÓNICA AO MOVIMENTO DAS PLACAS) 

 

V

AS FRENTES DE COMBATE

(OU AS GRANDES ONDAS DE CHOQUE)

 

 

3.4.- Alemanha - do espetro da derrota à rejeição das condições de paz

 

As notícias vindas da frente puseram os meios políticos alemães em polvorosa. Os partidos conservadores acusavam os socialistas e progressistas pela derrota; a esquerda rejeitava as acusações e endossava-as à direita. No meio desta instabilidade, a capitulação da Bulgária, a 29 de setembro, foi um fator decisivo a favor de se encontrar uma solução política para a guerra. O governo alemão encarou a crise de frente: a declaração de Catorze Pontos, que, a 8 de janeiro de 1918, o presidente W. Wilson apresentara ao Congresso dos Estados Unidos, prevendo a paz honrosa para todas as partes, foi, então, considerada como uma plataforma aceitável para um diálogo com as Potências Aliadas. Foi ponderada a situação internamente e a conclusão a que se chegou foi a de que só uma democratização interna dava garantias aos Aliados da confiança de um compromisso. Guilherme II demite então o chanceler Von Hertling e substitui-o pelo moderado príncipe Max de Baden, um assumido opositor de Ludendorff. Max de Baden obtém de Hindenburg uma declaração escrita na qual constasse, inequivocamente, que o alto comando alemão (OHL) considerava não haver hipóteses de forçar o inimigo a aceitar uma paz nos termos até aí desejados pela Alemanha. O objetivo de Max de Baden era acautelar-se de possíveis acusações de derrotismo ou traição, tão comuns nas circunstâncias que se viviam. A 4 de outubro, Max de Baden propõe ao presidente Wilson um armistício imediato, baseado na sua proposta de janeiro.

Os Aliados recusaram-se a negociar com uma ditadura militar. Reunidos para acertar as condições do inevitável armistício. A Grã-Bretanha e a França aceitam os Catorze Pontos de Wilson, mas reservam-se no direito de exigir indemnizações aos governos dos impérios centrais.

Ludendorff, detetando que a situação de desorientação em setembro estava agora sob controlo, mudou de opinião no que toca ao armistício. A 24 de outubro mandou distribuir às unidades do exército uma mensagem contendo uma declaração de rejeição das condições de paz do presidente Wilson: tais condições representavam, dizia, uma rendição incondicional. Ludendorff, com esta atitude, desafiava ostensivamente a política que o governo alemão procurava implementar. Arrependido, obstou o envio daquela declaração. Mas uma cópia foi cair às mãos de um partido político. Encostado à parede, o kaiser Guilherme II teve de optar entre Ludendorff e Max de Baden. Optou por Max de Baden. A 26 de outubro, Ludendorff pede ao kaiser a sua demissão, que foi imediatamente aceite. E, assim, se desfez a dupla Hindenburg-Ludendorff. Mas Hindenburg continuou no cargo de chefe do Estado-Maior Imperial.

Enquanto esta «trapalhada» política se encenava, nos campos de batalha ainda se lutava. A ofensiva Aliada, iniciada a 26 de setembro, continuou a bom ritmo durante o mês de outubro, ao longo de toda a frente. Os soldados do rei Alberto I acompanhavam o avanço Aliado. E estes avanços eram importantes, pois, sabia-se, que iriam ser determinantes e ter um peso negocial decisivo para cada país na conferência de paz que se seguiria ao Armistício.

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Foch e o governo francês desejavam que coubesse às tropas francesas o maior protagonismo na arrancada final. Mas foi na ala esquerda Aliada, da FEB, que este papel foi mais preponderante.

No final de outubro, aumentando o desânimo dos alemães, chegou a notícia da capitulação da Turquia. Berlim, em termos negociais, ficou mais fragilizada. A Áustria assinou um acordo de cessar-fogo com os italianos. E, assim, a Alemanha ficou como a única potência em guerra com os Aliados!

No final do filme «OH! Que Delícia de Guerra», há uma cena genial: as cruzes de um cemitério de guerra, ocupando todo o ecrã, são lentamente enroladas em fita vermelha. Foi o que aconteceu. Os políticos e altas patentes debatiam solenemente as minúcias e particularidades do armistício durante mais de um mês, enquanto os homens-soldados continuavam a combater e a morrer - às dezenas de milhar! (Stone).

30
Mai15

Poesia e Fotografia 100

 

 

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

  

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

EPITÁFIO

  

Ai as areias onde o corpo dobra

O seu caule de mastro de navio!...

Ai os castelos de preguiça, a obra

Que se deixa apoiada no vazio!...

 

Palheiros da Tocha, 19 de Julho de 1944

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29
Mai15

Grande Guerra (1914-1918) - 37

 

 

A GRANDE GUERRA (1914-1918)

E A PARTICIPAÇÃO DOS MILITARES DO RI 19 E DO ALTO TÂMEGA NO CONFLITO

 

PRIMEIRA PARTE

CONTEXTO INTERNACIONAL

(DA PLACIDEZ TECTÓNICA AO MOVIMENTO DAS PLACAS) 

 

V

AS FRENTES DE COMBATE

(OU AS GRANDES ONDAS DE CHOQUE)

 

3.3.- As ofensivas Aliadas

a).- 2ª Batalha do Marne

 

Os seis meses de ofensivas alemãs provocaram um número de baixas tão elevado que já não era possível o seu recompletamento. Dos efetivos globais de 5 100 000 caiu para 4 200 000 homens. Mal alimentados, como se deu conta na Operação Michael, tornavam-se vulneráveis a doenças de tipo epidémico. A partir de junho de 1918, foram atingidos pela chamada gripe espanhola, trazida da América pelos soldados norte-americanos, que também foram afetados e muitos pereceram em resultado desta doença. Da parte alemã, meio milhão de homens foram contaminados pelo vírus desta epidemia, reduzindo substancialmente o potencial das suas forças.

Mas os senhores da guerra - Hindenburg e Ludendorff -, principalmente este último, que não estava preparado para perder, abandonou o novo ataque à Flandres, o que podendo produzir efeitos mais decisivos, era de mais difícil execução. Optou-se por uma manobra mais fácil - prosseguir o avanço sobre Paris.

Neste intuito, reúne 52 divisões e lança-se numa ofensiva para sul de Châtillon-sur-Marne.

Só que a pausa de cerca de um mês deu aos Aliados o tempo e a tranquilidade necessárias para uma contraofensiva. Para além do mais, as unidades americanas, que entravam na frente de combate, eram cada vez mais numerosas.

O comandante da Força do Exército Americano (FEA), general Pershing, apesar de se bater pela constituição de um bloco exclusivamente americano, à semelhança da FEB, foi paulatinamente, e de uma forma razoável e bem pragmática, permitindo a integração de um certo número de divisões da FEA no exército francês.

A 18 de junho, as tropas Aliadas tendo sido alertadas para os indícios de uma ofensiva alemã, lançaram uma contraofensiva no setor do Marne. Os alemães aqui sofreram pesadas baixas - 30 000, entre mortos e feridos, e perdas de material, como 800 bocas de artilharia.

A Primeira Batalha do Marne passou à história como um marco importante da Grande Guerra - a derrota do Plano Schlieffen, da guerra do movimento, e do começo da guerra das trincheiras; a Segunda Batalha do Marne representa também um marco decisivo da Grande Guerra - representa o fim das ofensivas alemãs e o recomeço da guerra do movimento. A partir daqui, os aliados tomaram sempre a iniciativa das operações, não mais a perdendo até ao fim da guerra.

Ludendorff foi obrigado a recuar para o saliente de Soissons-Château-Thiérry-Reims, reduzindo a extensão da sua frente. E começa a liderança de Ludendorff a ser posta em causa, aparecendo a ideia de negociações com os Aliados, no próprio seio do OHL.

A 6 de agosto de 1918, os Aliados travam definitivamente a capacidade de avanço alemão. E tomam, continuamente, a iniciativa.

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b).- A Batalha de Amiens

 

Os novos generais agora envolvidos, do lado britânico - Rawlinson (britânico), Monash (australiano) e Currie (canadiano) eram homens eminentemente práticos e, chegada a hora, conseguiram convencer Haig para não insistir no ataque mais do que alguns dias. O 4º exército britânico e o 1º exército francês, posicionados em Amiens, preparam-se para dar um rude e decisivo golpe no dispositivo alemão. Os dois exércitos tinham 600 carros de combate - Mark V e Whippet -, muito mais velozes e fiáveis. O barulho dos tanques que se concentravam para o arranque foi dissimulado por aviões que voavam para a frente e para trás a baixa altitude.

A iniciativa iniciou-se a 8 de agosto - que, mais tarde, Ludendorff chamar-lhe-ia o Dia Negro do exército alemão - com o máximo de surpresa e com um ataque liderado por unidades de carros de combate. A tática foi inovadora: criação de uma cortina de gás e explosivos nas áreas de retaguarda alemã. Não houve nenhum bombardeamento preliminar e as brumas matinais esconderam o ataque inicial. Havia uma abundância de todos os tipos de armamento, em particular metralhadoras ligeiras Lewis, facilmente transportáveis pela infantaria. Os infantes dos corpos de exércitos canadianos e australianos, em apoio aos carros de combate, irrompem sobre as defesas alemãs. Em apenas 4 dias, as unidades Aliadas reconquistaram a maior parte do campo de batalha do Somme. Em inícios de setembro, os alemães procuram fixar-se no seu sistema fortificado das linhas de Hindenburg (Wotan e Siegfried). O general Pershing, já tendo o seu 1º exército constituído, passou a operar em bloco, sob a coordenação de Foch, sendo-lhe atribuído o setor de Verdun. Em outubro, a FEA tem já no terreno o 2º exército, comandado pelo general Bullard, passando a FEA ao escalão grupo de exércitos e Pershing o comandante da FEA. O general Ligget passou a comandar o 1º exército.

No primeiro dia de combate foram feitos 12 000 prisioneiros e capturados 400 canhões. Até ao fim da operação, foram feitos prisioneiros quase 50 000 homens.

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c).- Ofensiva de Saint Mihiel

 

A 12 de setembro, o 1º exército da FEA, ainda sob o comando de Pershing, lança a sua primeira ofensiva. O seu brio queria mostrar a sua capacidade para planear e executar autonomamente uma operação. O objetivo era reduzir o saliente de Saint Mihiel, em poder dos alemães desde 1914. Com o apoio do II CE Colonial francês, a oeste, o 1º exército de Pershing irrompe sobre o saliente e conquista-o. É a primeira operação de grande envergadura do exército norte-americano desde o final da Guerra da Secessão. Nesta operação a FEA implicou meio milhão de soldados, apoiados por 1 500 aviões e 270 tanques ligeiros. A 16 de setembro, o saliente foi conquistado, limpo, com 13 000 prisioneiros e 466 bocas-de-fogo. Do lado americano, as baixas foram de 7 000 homens.

A vitória americana de Saint Mihiel abalou profundamente o moral das tropas alemãs. Estávamos agora em presença de um exército em permanente declínio e descrente. A diferença de meios, quer humanos quer materiais, era notória.

A partir daqui toda a Linha Hindenburg foi constante, e sucessivamente, desmoronada, levando as tropas Aliadas os alemães na sua frente. Em meados de outubro, os americanos romperam finalmente a Linha Kriemhild, ameaçando a grande base ferroviária de Metz. No princípio de novembro, as linhas estabilizaram-se frente a Bruxelas e a Namur.

Os alemães, entre março e julho, perderam mais de 1 milhão de homens e, nos meses seguintes, outros 750. 000, na sua maioria, prisioneiros.

A economia de guerra estava em crise, com as fábricas à beira da rutura. O líder social-democrata queixava-se que as classes trabalhadoras das zonas norte e leste de Berlim careciam de 4 000 vagões ferroviários para serem utilizados no vital aprovisionamento em batatas.

O choque agora das unidades dos contendores era de tal modo favorável aos Aliados que Ludendorff foi ter com Hindenburg sugerindo-lhe que, face à situação do exército alemão, se impunha a rápida obtenção de um armistício. E desabafava que «não se pode confiar minimamente nas tropas».

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Positivamente, Ludendorff estava desorientado, completamente em baixo!

29
Mai15

Poesia e Fotografia 99

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

  

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

GRITO

 

 

Vem, poesia, vem como vieste

No virginal começo doutras eras!

Vem amansar as feras.

Alegrar o cipreste,

E cobrir de ridentes primaveras

Este cimento que ninguém reveste!

 

Coimbra, 4 de Julho de 1944

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28
Mai15

Grande Guerra (1914-1918) - 36

 

 

 

A GRANDE GUERRA (1914-1918)

E A PARTICIPAÇÃO DOS MILITARES DO RI 19 E DO ALTO TÂMEGA NO CONFLITO

 

PRIMEIRA PARTE

CONTEXTO INTERNACIONAL

(DA PLACIDEZ TECTÓNICA AO MOVIMENTO DAS PLACAS) 

 

V

AS FRENTES DE COMBATE

(OU AS GRANDES ONDAS DE CHOQUE)

 

 

3.2.- As ofensivas alemãs

 

Para os alemães, face aos últimos desenvolvimentos, havia que aproveitar o momento em que, na perspetiva de Niall Ferguson, nesta altura, o moral das tropas Aliadas estava no ponto mais baixo de todo o conflito: a saída da Rússia e a guerra submarina irrestrita. Por isso, a iniciativa partiu dos alemães com as suas três operações de primavera, que faziam parte do «Programa Hindenburg». E o senso comum ditava aos alemães que, quando se tratava de atacar dois inimigos, se deveria atacar na junção entre os seus dois exércitos. É onde mostram mais fraqueza - porque cada exército procura cuidar de si próprio. Especificadamente, no caso dos franceses, para cobrirem Paris; no dos britânicos, para proteger os portos do Canal, de onde poderiam fugir para Inglaterra.

 

a).- Operação Michael

 

O local escolhido, para esta primeira ofensiva de primavera de 1918, por Ludendorff, foi a região de Saint Quentin. Na prática não era outra coisa senão a recuperação do saliente direcionado para Paris. Ludendorff deu-lhe o nome de código «Operação Michael» e o início da operação foi planeada para 21 de março. O setor a atacar estava guarnecido pelo 5º exército da FEB, o de mais recente formação, ainda não recuperado da 3ª Batalha de Ypres (Passchendeale). Era o setor que menos condições naturais de defesa tinha. “Alguns troços da frente, os trabalhos de fortificação correspondentes à 3ª linha - posição a ocupar em último recurso - estavam pouco mais do que iniciados” Afonso; Gomes, 2013: 398). E a figura do general Gough, seu comandante, para completar o quadro, não era daqueles que mais confiança inspirava nos seus subordinados. “Era nestas condições que se preparava uma batalha em que 75 divisões alemãs de primeira categoria, pertencentes ao 2º, 6º, 17º e 18º exército, se iriam confrontar com 28 divisões britânicas, claramente em défice de moral e de ação de comando” (Afonso; Gomes, 2013: 298).

A densa neblina que fazia, o uso de gases, a opressiva preparação da artilharia, que durou desde as 4 horas e 40 minutos até Às 9 horas e 40 minutos, foi o contexto que serviu para que, a partir daquela hora, os alemães dessem início à infiltração das suas tropas infantes no dispositivo fracamente defendido do 5º exército da FEB.

Numa hora de combate, toda a primeira linha do exército, com a nova tática de assalto, foi ultrapassada. Diz David Martelo: “Ao anoitecer do primeiro dia da batalha, a FEB sofreu a sua primeira derrota desde o início da guerra de trincheiras, expressa em cerca de 7 000 mortos, 10 000 feridos e 21 000 prisioneiros. Do lado dos atacantes, as perdas rondaram 10 000 mortos e 29 000 feridos (Afonso; Gomes, 2013: 399).

Nos dias seguintes, as coisas começaram a piorar ainda: para aumentar o efeito psicológico causado pela penetração, os alemães fizeram arrancar um gigantesco obus de 210 mm - o Big Bertha - que, a uma distância de cerca de 100 Km, disparou sobre Paris. Conta Norman Stone que foi mais fumaça do que efetivo poder destrutivo. Parecia que estávamos em agosto de 1914, aquando da Primeira Batalha do Marne.

Durante esta operação começaram as discussões entre Haig e Pétain: um, pedia ajuda ao setor; o outro, recusou. Até que os governos tiveram de intervir: a 26 de março, em Doullens, próximo de Amiens, estiveram Poincaré, Clemenceau, Pétain e Foch, do lado francês; Lord Milner, ministro da Guerra, general Wilson, chefe do Estado-Maior Imperail e Haig, do lado britânico. A conversa entre Haig e Pétain «azedou» e ficou muito feia, ao ponto de Pétain comparar o comportamento do 5º exército da FEB ao exército italiano em Caporetto. No clímax da discussão, Foch, acalmando os ânimos, mas já em pleno corredor, sublinhou a urgente necessidade de aguentar a frente, a qualquer preço, na região de Amiens. E, como após a tempestade vem a bonança, chegou-se, finalmente, àquilo que, desde há quatro anos, se deveria ter feito: o estabelecimento de um comando unificado das tropas Aliadas, assumindo Foch o cargo de coordenador de todas as ações na Frente Ocidental.

Entretanto, as tropas alemãs, a 5 de abril, estavam a 9 Km de Amiens. O OHL, em vez de concentrar todos os esforços num só setor da frente, repartiu as forças com o intuito de lançar uma segunda ofensiva de vulto mais a norte, na direção do mar, reorientando o 6º exército para esse efeito. O 2º e o 18º exército continuariam apontados à zona de separação entre a FEB e o exército francês. O 17º exército ficava em reserva.

As tropas alemãs, à medida que empurravam as forças Aliadas, fazendo-as recuar para os antigos campos de batalha do Somme, foram-se confrontando com duas condicionantes que lhes causaram uma nítida diminuição do seu pendor ofensivo: o número infindável de crateras e trincheiras destruídas, que não consentiam muita velocidade; e, depois, “o abandono precipitado das áreas de retaguarda dos aliados fez cair nas mãos dos alemães um conjunto de bens de consumo corrente - alimentos e bebidas - que, para os soldados de um país bloqueado, constituíam um luxo que haviam perdido quase no início da guerra” (Afonso; Gomes, 2013: 400).

Resultado: o inopinado destes verdadeiros tesouros alimentícios causou confusão, levando à eclosão de abusos e a consequente prontidão e eficácia de combate ficaram comprometidos.

A Operação Michael foi dada como finda. Custou, entre mortos e feridos, 250 000 baixas. Valor idêntico tiveram os Aliados. Mas o mais grave é que deixou 90 divisões alemãs no limite do seu potencial de combate. E este estado de situação começava, agora, a preocupar grandemente o OHL.

 

b).- Operação Georgette

 

Face à ofensiva frustrada da Operação Michael, a atenção alemã voltou-se agora para a 2ª operação planeada, com nome de código - Georgette - na Flandres. Aqui se encontrava o 1º exército da FEB. E, integrado neste exército, o nosso CEP. Na madrugada de 9 de abril, iniciou-se, a coberto de um espesso nevoeiro, e com proteção de uma intensa preparação de artilharia, a ofensiva. A 11 de abril, o recuo desordenado das tropas do FEB foi de tal modo que o general Haig foi obrigado a emitir a seguinte, e histórica, mensagem: “ «Com as costas contra a parede e acreditando na justiça da nossa causa, cada um de nós deve combater até ao fim (...) Cada posição deve ser defendida até ao último homem. Não poderá haver retirada»” (Afonso; Gomes, 2013: 401).

Muito embora o apelo ingente, houve muitos troços da frente em que a retirada foi inevitável. Mas Foch não entendeu que esta situação merecia o empenho das tropas de reserva. “Os avanços alemães prosseguiram nas duas semanas seguintes, conquistando algumas posições importantes, embora em dimensão e profundidade claramente insuficientes para materializar o sucesso que ambicionavam - atingir o Canal da Mancha” (Afonso; Gomes, 2013: 401).

A 29 de abril, Ludendorff acabou por reconhecer que a Operação Georgette chegara ao fim.

Feito o balanço da operação, há a registar, entre mortos e feridos 76 000 baixas britânicas, 35 000 francesas e 109 000 alemãs. As baixas portuguesas, integradas no 1º exército da FEB, foram mais de 7 000, incluindo prisioneiros.

Após esta operação, do lado alemão, começou-se a sentir um claro sinal de saturação nas fileiras. Tal como aconteceu no exército francês em 1917, a ofensiva de abril (ou da primavera) alemã ruiu o ânimo de muitas unidades. E começam a aparecer as primeiras recusas coletivas à participação em ações ofensivas.

 

c).- Operação Blücher-Yorck

 

Terminada a Operação Geogette, Ludendorff voltou-se para o setor do Aisne, a sul do saliente conquistado durante a Operação Michael.

Realce-se que a intenção não era abandonar a ofensiva na Flandres, mas, tão-somente, criar uma ofensiva de diversão, obrigando a enfraquecer os Aliados com a movimentação constante das suas reservas. Este setor era defendido por 16 divisões - 13, pertencentes ao 5º e 6º exércitos franceses e 3, à FEB, estas muito sacrificadas pela ofensiva de março e abril e, por isso, tinham sido transferidas para a crista do Chemin des Dames para repousarem!

Os alemães tinham neste setor 15 divisões no escalão de ataque - o 6º exército - e mais 25 em seguimento e apoio - o 1º, 7º e 18º exército. Para além deste potencial humano, tinham 6 000 bocas-de-fogo, dispondo de 2 milhões de granadas.

A 27 de maio, iniciou-se o ataque, como quase sempre, após uma intensa preparação de artilharia. E, de imediato, as tropas alemãs galgam a encosta até Chemin des Dames. Face às tropas cansadas ali estacionadas, foi fácil derrotarem-nas e, descendo a contraencosta, em terreno plano, dirigiram-se até à margem direita do rio Aisne. De acordo com o plano inicial, as tropas deveriam aqui deter-se. Mas, com Ludendorff, nunca se sabe o que se espera. Entusiasmado com o sucesso, e com a fraca oposição, Ludendorff, esquecendo-se que esta ação tinha apenas um objetivo limitado, próprio de um ataque de diversão, entusiasmou-se e continuou por explorar mais a situação. E, nos cinco dias seguintes, prosseguiu o avanço na direção de Soissons e Chateau-Thiérry. A 30 de maio, alcançado o Marne, Ludendorff está a 80 Km de Paris. O avanço de Ludendorff tem 30 Km de profundidade por 50 de largura.

Perante esta situação, Foch, constrangido, empenha as suas reservas em sucessivas vagas, entre 28 de maio até 3 de junho. Nestas reservas já tinha incluídas duas divisões norte-americanas (a 1ª e a 2ª). A 2ª divisão integrava um Corpo de Fuzileiros (Marine Corps), a melhor unidade de combate dos Estados Unidos. O espírito e o moral desta tropa era de tal forma que não se resiste aqui a destacar o seguinte episódio, referido por David Martelo (Afonso: Gomes, 2013: 402): “A 4 de junho, a brigada de fuzileiros bateu-se com invulgar valentia em Belleau, próximo de Chateau-Thiérry, negando aos alemães a conquista da estrada para Reims. No início da batalha, um oficial de uma unidade francesa em retirada sugeriu a uma companhia de fuzileiros que seria melhor fazerem o mesmo. A resposta do comandante da companhia, capitão Llyod Williams, entraria, para todo o sempre, na mitologia do Marine Corps: «Retirar? Mas nós ainda agora chegámos!»”.

Pese embora as manobras de diversão para atrair as reservas Aliadas para sul, desguarnecendo o setor norte, da Flandres, os intuitos alemães não surtiram efeito. Os contra-ataques franceses e norte-americanos das tropas aqui estacionadas foram suficientes para suster as tropas alemãs.

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28
Mai15

Poesia e Fotografia 98

 

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

  

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

SOLIDÃO

 

 

Só, como a fonte no areal sem vida.

Só, como o sol no céu deserto.

Só, de cabeça erguida,

Humanamente certo.

 

Só, a nascer, a ser e a morrer,

Recto como um pinheiro que brotou

E cresceu e caiu, sem se torcer

Ao tempo vário que por ele passou.

 

Coimbra, 27 de Junho de 1944

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28
Mai15

Grande Guerra (1914-1918) - 35

 

 

A GRANDE GUERRA (1914-1918)

E A PARTICIPAÇÃO DOS MILITARES DO RI 19 E DO ALTO TÂMEGA NO CONFLITO

 

PRIMEIRA PARTE

CONTEXTO INTERNACIONAL

(DA PLACIDEZ TECTÓNICA AO MOVIMENTO DAS PLACAS) 

 

V

AS FRENTES DE COMBATE

(OU AS GRANDES ONDAS DE CHOQUE)

 

 

3.- Retorno ao Movimento (março a novembro de 1918)

 

3.1.- Visão Geral

 

Desde a Primeira Batalha do Marne, a partir da qual as tropas tiveram de se enterrar para fazer face ao inferno do fogo, e face ao impasse demonstrado da guerra das trincheiras, em termos de obtenção de rotura (s) decisiva (s) das linhas inimigas para uma vitória final, o voltar à guerra do movimento, capaz de alcançar esse objetivo, era o desejo de ambos os beligerantes. Mas como fazê-lo, dado que a experiência do início dos primeiros meses do conflito mostrava que uma tática dessas era ainda mais catastrófica em termos de vítimas humanas?

Para os Aliados, criou-se uma esperança com os carros de combate, que aliavam o poder de choque, da proteção, do fogo e do movimento. Precisavam, contudo, de alguns aperfeiçoamentos técnicos ditados pelas experiências no terreno.

Os alemães, surpreendentemente atrasados na produção destas unidades blindados de combate, investiram noutras áreas, nomeadamente no uso de gás e, principalmente, na tática. Assim, para se conseguir a rotura das linhas inimigas, refinaram “o apoio de artilharia e da utilização de um escalão de ataque aligeirado, capaz de se infiltrar velozmente por entre os centros de resistência inimigas” Afonso; Gomes, 2013: 397) - . Esta doutrina, que posteriormente inspirou a guerra relâmpago da II Guerra Mundial, ia no sentido de alcançar rapidamente a retaguarda inimiga, seguindo-se, depois, os escalões de seguimento e apoio, mais lentamente, apostados em destruir os núcleos de resistência que entretanto tenham ficado à passagem das «tropas de assalto».

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 (Erich von Falkenhayn, chefe do EM alemão na Primeira Guerra no momento da criação das tropas de assalto)

O poder de fogo foi também melhorado com a adoção das novas metralhadoras 08/15.

Quando se iniciou o ano de 1918, em termos operacionais, táticos e estratégicos a aposta era, assim, clara, para ambos os beligerantes. E os ânimos, de ambos os lados, estavam bem animados quanto ao desfecho certo da contenda a favor de cada um dos intervenientes. Da parte dos Aliados, a aposta estava nos carros blindados, no apoio da aviação e numa melhor coordenação do fogo e numa mais adequada utilização da infantaria. E, estando no limite das suas reservas, esperavam ansiosamente o precioso auxílio dos norte-americanos que a «louca» guerra submarina irrestrita - dando aos americanos cabo dos seus navios e comércio - os «obrigou» a entrar no conflito pelo lado dos Aliados. Do lado alemão, toda a aposta estava nas 50 divisões retiradas da Frente Oriental que o Tratado de Brest Litovsk lhe tinha facultado com a retirada da Rússia da guerra. Os alemães, nesta fase da guerra, estavam muito otimistas. A sua maior experiência de combate, as vitórias e o moral das tropas que vinham do leste fez com que Hindenburg-Ludendorff apostassem numa ofensiva de tudo ou nada, a desencadear na primavera de 1918. A guerra submarina irrestrita, a lenta movimentação das tropas norte-americanas pelo Atlântico, a fraca preparação das mesmas para uma guerra desta natureza, permitia-lhes encarar com otimismo um conjunto de operações que, estavam certos, lhes permitiria, finalmente, ganhar a guerra.

Apesar de Woodrow Wilson continuar a bradar com os seus Catorze Pontos para a obtenção da paz, quer britânicos quer franceses mantinham-se desconfiados e mais na expetativa quanto à forma como as operações iriam desenvolver-se no terreno.

28
Mai15

Poesia e Fotografia 97

 

 

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

  

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

Texto que antecede a poesia «ROMANCE»: “Quem quiser ver a Idade Média ao natural, venha aqui, a esta espantosa Capela dos Ferreiros. A cavalaria, a religião e o amor, tudo na sua pureza natural.

A cavalaria, numa pequena pedra maravilhosa, que é um documento único da nossa estatuária guerreira; a religião, num retábulo fantástico, que é toda uma teologia; o amor... Mas o amor prefere talvez uma balada:

 

ROMANCE

 

 

Um cavaleiro e uma dama,

Cada qual na sua cama,

Lado a lado;

Mas voltados,

De molde que ele a não veja

E ela tenha de o ver.

Isto à sombra de uma igreja

Que os há-de absolver!

 

Traição dela?

Excesso dele?

Segredos que o tempo leva,

Mas deixam mágoas de pedra...

Até numa sepultura

A raiz de uma amargura

Encontra o sol de que medra.

 

Dorme, dorme, cavaleiro,

Com tuas barbas honradas;

Dorme, também, linda dama,

Com tuas contas passadas

E teus véus medievais.

E o pecado

Deixai-o assim acordado

Para exemplo dos mortais.

 

Oliveira do Hospital, 22 de Junho de 1944

Capela_dos_Ferreiros1.jpg(Capela dos Ferreiros, Oliveira do Hospital) 

 

26
Mai15

Grande Guerra (1914-1918) - 34

 

 

 

A GRANDE GUERRA (1914-1918)

E A PARTICIPAÇÃO DOS MILITARES DO RI 19 E DO ALTO TÂMEGA NO CONFLITO

 

PRIMEIRA PARTE

CONTEXTO INTERNACIONAL

(DA PLACIDEZ TECTÓNICA AO MOVIMENTO DAS PLACAS) 

 

V

AS FRENTES DE COMBATE

(OU AS GRANDES ONDAS DE CHOQUE)

 

about-romania-and-her-people-georges-clemenceau.jp

2.4.3.7.- A era Clemenceau

 

Se com os britânicos a condução da guerra tinha passado para as mãos do poder político civil, com Llyod George, em França, após uma crise política aberta pelas feridas na frente de combate, o presidente Poincaré, superando uma velha inimizade com Georges Clemenceau, em setembro de 1917, convida-o para formar governo.

Para este velho político, apelidado de Tigre, que durante 40 anos apregoou, com tenacidade, a doutrina da desforra de 1871, o seu pensamento estava plasmado na sua seguinte frase: «a guerra é uma coisa demasiado grave para ser confiada a militares». Esta postura revelava uma enorme desconfiança que Clemenceau nutria relativamente ao patriotismo do corpo de oficiais franceses, que lhe adveio do célebre desenvolvimento do caso Dreyfus.

Mas, ao contrário do que se poderia pensar, a sua ideia não ia no sentido de se ter toda a conveniência em refrear o excesso de zelo dos militares. Muito pelo contrário. O seu pensamento, em termos da sua postura perante a guerra, ficou bem patente na apresentação do seu programa de governo na Assembleia Nacional, quando pronunciou as seguintes palavras: “«Apresentamo-nos a vós com um único pensamento duma guerra integral [...] esses franceses que fomos obrigados a lançar na batalha têm direitos sobre nós»” (Afonso; Gomes, 2013: 301).

O velho Tigre tornou-se, assim, num fator de união e, a justo título, após a derrota da Alemanha, foi considerado o Pai da Vitória.

A guerra era, assim, para continuar até à batalha final!

26
Mai15

Poesia e Fotografia 96

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

  

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

ALMAS

 

Almas rústicas, agrestes,

Pintadas a cal e a vinho,

A arder nas penas celestes

Da térrea paz de um caminho.

 

Quem passa, reza ou não reza

Conforme pensa ou não pensa

Na desgraça que lhe pesa

Por sobre a crença ou descrença.

 

E as almas lá permanecem

A olhar as silvas vergadas

De amoras, que amadurecem

Ao sol das coisas pesadas.

 

S. Marcos, 14 de Junho de 1944

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