Jantar de Homenagem a Américo Peres
JANTAR DE HOMENAGEM A AMÉRICO NUNES PERES
Ontem a cidade de Chaves levou a cabo uma homenagem ao meu amigo, Américo Nune Peres, por altura em que passou à situação de aposentado de professor-educador na preparação, de mulheres e homens, que, como educadores, estão formando para a vida as nossas novas gerações.
A cidade, através dos seus representantes institucionais, amigos, colegas e aqueles que foram seus formandos, tendo por base uma Comissão Organizadora, fez uma justa homenagem a um homem que, não sendo flaviense de «gema», ao longo de toda uma vida ativa, foi um prestigiado investigador e professor universitário. Numa Universidade que sempre serviu com desvelo e competência. E que gostava, no âmbito de atuação territorial, tivesse raízes mais próximas e firmes com os territórios da sua proximidade, contribuindo, mais e melhor, como instituição de investigação e formação, para o seu desenvolvimento. Queria um Pólo de Chaves da UTAD à altura dos altos desígnios desta instituição, com um vínculo mais efetivo a esta terra flaviense, e todo o Alto Tâmega, chamando a uma participação, mais fecunda e profícua, as instituições de igual índole galegas, num trabalho em comum, em prole das gentes que, vivendo os mesmos problemas, e portadoras da mesma matriz cultural, jamais, ao longo da história, nenhuma fronteira as dividiu.
A falta de visão de futuro de uns e a mesquinhez de muitos outros não deixaram levar por diante esse sonho de um autêntico Pólo Universitário, com uma verdadeira Academia, em Chaves.
Ficou, porém a semente. Porque é isso que verdadeiramente importa. Mesmo que o terreno seja mesmo muito adverso. É este exemplo de perseverança, este legado de sonho e luta, de pessoa civilizada, mas sem tibiezas, que Américo Peres Nunes Peres nos deixa. Obrigando-nos a todos nós, flavienses, a refletir que desenvolvimento queremos e em que termos o queremos para a nossa terra.
Como amigo e colega e, mais tarde, como autarca, fui com ele cúmplice e interveniente em muitas iniciativas, projetos e ações que levámos a cabo em prole desta terra que trazemos no coração.
Por isso fiquei emocionado, no pequeno diaporama que a Organização produziu, ao ver desfilar quase trinta anos de trabalho em que as nossas vidas tantas vezes se entrecruzaram.
E não resisti em frisar essa circunstância, proferindo simples palavras que meu coração naquele momento especial me pedia para que as dissesse.
Não sei se foram breves. Sentidas, sem sombra de dúvida.
Como aliás foram as de todos que ontem à noite, pegando no microfone, disseram o que lhe estava na alma naquela ocasião.
Sem desprimor pelas palavras dos restantes intervenientes, e com a devida autorização do seu autor - Gastão Bianchi -, gostaria de deixar aqui expressas as suas palavras.
Porque proferidas por alguém que, para além de um bom colega e amigo, entende que a vida deve ser vivida como um ato de amor.
E, para o efeito, nada melhor do que a poesia, para expressar os sublimes sentimentos e afetos que nos vão na alma e nos unem.
Ei-las aqui, pois, à vossa partilha, mostrando que o mais importante, neste nosso breve caminhar que é a vida, é o companheirismo e o afeto que compartilhamos com o nosso colega, amigo, semelhante.
"AMÉRICO
Uma pessoa nem sempre é o que se pinta...
Se um dia me pedissem para te pintar, Américo,
mesmo que eu fosse um excelente pintor,
o que, como bem sabes, não é o caso,
iria ter muita,
muita dificuldade...
principalmente, nas cores...
Começaria pelo azul.
Azul dos mares, dos mares que navegas
nas viagens dos teus sonhos por um mundo melhor.
Azul do céu...
deste céu que nos cobre a todos como iguais,
como filhos da mãe natureza.
Mas, só azul era pouco, muito pouco.
A monocromia não se coaduna contigo,
com a pessoa que és.
Pintar-te-ia, então, com um pouco de branco,
não o branco da pele,
mas o branco da pomba e da bandeira,
o branco da paz.
Azul e branco, bonito digo eu!
Mas... continuaria a ser pouco.
Agora, utilizaria o verde.
Verde esperança...
da esperança na concretização dos teus ideais,
da igualdade, da fraternidade,
da interculturalidade...
Não precisaria de pensar muito,
para ver que ainda seria pouco...
Pouco Américo!
Passaria, então, para o amarelo.
O amarelo do sol,
do sol que nasce para todos,
que nos ilumina e aquece por igual,
o sol sem dono, livre e companheiro...
cúmplice de tantas cumplicidades.
Começaria a nascer o teu retrato, Américo,
a minha pintura de ti.
No peito, pintar-te-ia uma flor.
Uma flor?
Sim, uma flor com pétalas de todas as cores,
vermelhas, rosa, azuis, castanhas, laranja, amarelas, pretas,
brancas, verdes, roxas, violeta...
todas as cores possíveis e imaginárias,
que, assim juntinhas,
representariam o respeito por todos,
o teu respeito por todos,
o respeito que sempre demonstras
pelas ideias do outro,
pelas suas crenças,
pela sua maneira de ser e de estar...
Uma flor policromática, empática
e democrática!
Desenharia um balão,
que segurarias na tua mão.
Um balão cheio, bem cheio de amizade...
e branco.
Branco da paz, da calma e da pureza...
da pureza do Francisco e do Rafael.
Branco do homem puro que és!
Dar-te-ia uns retoques com outras cores.
Cores que simbolizassem a paciência,
a sabedoria, a cidadania,
a dignidade, a sinceridade...
Ainda não estarias totalmente pintado, Américo...
Uma pessoa como tu não é só o que se pinta."
Chaves, 15 de Maio de 2014
Gastão Bianchi
António de Souza Silva
16. Maio. 2014