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zassu

26
Mai13

Encontro(s) - Cena 11:- Conclusões do I Congresso Internacional realizado em Boticas

 

 

 

CONCLUSÕES FINAIS

 

A conferência inicial subordinada ao tema Saber Envelhecer dinamizada pelo professor doutor Pinto da Costa abriu de forma magistral o I Congresso Internacional de Animação Sociocultural, Gerontologia, Geriatria: a Intervenção Social, Cultural e Educativa na Terceira Idade, que teve como palco a vila de Boticas e lhe deu mais vida nos dias 23, 24,25 de Maio. Um congresso assumido por todos como necessário, urgente e de extrema importância no cenário actual em que os valores humanos são bruscamente substituídos pelos económicos.

 

De forma muito sintetizada estes serão alguns aspectos que poderemos concluir:

 

Abordando-se o tema do Envelhecimento Activo percebeu-se logo de início que neste congresso mais do que teorias seriam partilhadas experiências e debatidas as alternativas que se querem e necessitam num tempo de mudança global e especificamente na Pessoa Idosa.

 

Incidiu-se na distinção entre ser idoso e ser velho, definindo-se, logo à partida, que deve vigorar o ser idoso no sentido de ter um amanhã e não apenas um ontem.

 

No painel I- As artes no contexto da ASC na Terceira Idade, pelos professores doutores Agostinho Diniz Gomes, Manuel Vieites, Dantas Lima e Marichu Gonzalez, fizemos uma abordagem à música, ao cinema, às formas animadas como estratégias lúdicas e educativas ao serviço da Terceira Idade. Introduziu-se neste painel a ideia de que o idoso tem em si um poderoso e fortíssimo espólio cultural que urge partilhar com outras gerações, daí a passagem de testemunho de pais para filhos, de avós para netos. Deu-se especial ênfase ao papel activo do idoso como criador de projecto e não apenas destinatário do mesmo. O idoso músico, o idoso actor, o idoso realizador, o idoso artesão, aquele que tem o saber e deverá assumir também a função de o partilhar, de ser educador dos mais novos.

 

No painel II- A Animação Sociocultural na Terceira Idade e Educação Intergeracional, ao encargo da doutoranda Cristina Coelho, da mestre Alexandra Carneiro, do professor doutor Armando Loureiro e Mestre Teresa Esteves e Dr. Hugo Andrade, tivemos a oportunidade de colocar “o dedo na ferida”, perceber de forma clara e inequívoca que hoje o idoso é excluído da vida social e vítima de descriminação num contexto político em que o poder económico se sobrepõe até aos direitos humanos.

 

Reforçou-se e definiu-se a velhice como a alma da cultura, precisamente pelo saber que o idoso possui. Percebeu-se que a velhice só começa quando se perde o interesse e que cabe ao Animador Sociocultural ser um facilitador de processos que envolvem o idoso e o motivem. Exemplos: as Universidades Seniores, os grupos de teatro amador e os projectos dinamizados em escolas de forma a reforçar o vínculo familiar e levar os netos a descobrirem o avô para além da figura envelhecida.

 

No painel III- Animação Sociocultural e ócio na Terceira Idade, com a presença do doutorando José Filipe Pinheiro, Dr. António de Souza e Silva e professor doutor Vítor Ventosa, o ócio foi o mote para o debate. O ócio como um tempo livre de grande dimensão pedagógica, um tempo de descanso, diversão, desenvolvimento e em que há que dar primazia aos afectos. Aqui surge-nos o Animador Sociocultural uma vez mais como facilitador de processos de aprendizagem. Reforçou-se a necessidade de combater a infantilização do próprio idoso pela criação de projectos adaptados da Animação Infantil.

 

A Animação Turística surgiu pela primeira vez neste congresso como um âmbito de intervenção em que é o próprio indivíduo idoso aprofunda a sua identidade, comprometendo-se com tarefas que contribuam para o desenvolvimento da sua comunidade de inserção.

 

Surge-nos um novo paradigma em que o turista tem uma experiência que está intimamente relacionada com o seu próprio desenvolvimento pessoal.

 

Uma vez mais, e pelo professor doutor Vítor Ventosa, sublinhou-se a importância da música neste tempo de ócio, a música como uma metodologia para criar, perceber, sentir, fazer e reflectir.

 

Percebemos ainda que a Animação Sociocultural pode contribuir para diminuir o peso da descriminação. Será pela memória individual e colectiva que se fará uma ligação comunitária.

 

No painel IV, pelas comunicações da professora doutora Lurdes Bermejo, Dr. Luís Gomez Garcia, professor doutor Marcelino de Sousa Lopes e professora doutora Carla Cibele, e subordinado ao tema A Animação Sociocultural na Terceira Idade: Participação, Cidadania e Valores, percebemos que em tempos de mudança, em que vivemos mais (mas não necessariamente melhor) há que adoptar e adaptar um conjunto de boas práticas a nível institucional para que lares e residências seniores não sejam espaços frios, impessoais e de espera lenta pela morte, mas sim espaços para criar uma participação, para a continuação do exercer da cidadania e o aprofundar e/ou adquirir valores. Nem sempre a cidadania é reconhecida ao idoso por se ter tornado um agente não produtivo. Aqui temos um espaço de excelência para a intervenção do Animador promovendo relações inter-geracionais, estabelecendo um efectivo contrato social, abrindo as portas da instituição e levando o idoso a outros espaços.

 

As experiências partilhadas neste painel reforçaram precisamente a necessidade do Animador ver e analisar o Outro, reforçar a ligação com o meio.

 

Como foi dito, se sabemos, temos e cremos, logo poderemos e deveremos avançar.

 

Pelo professor doutor Marcelino de Sousa Lopes reforçou-se a necessidade do idoso interagir. A partir da génese dos étimos “comunidade” e “animação” relembrou-se precisamente a sua origem: os finais da Segunda Guerra Mundial e a necessidade de se recuperar dos escombros. E coube ai, nesse tempo já ido, à Animação Sociocultural a tarefa de dar vida.

 

Introduziu-se a temática da emergência de um novo perfil profissional do Animador Gerontológico, aquele que trabalha não apenas para, mas sobretudo com.

 

Animar definiu-se como incentivar o outro à acção, a ser autónomo e criativo.

 

E foi também o professor que nos deixou a frase: “O futuro para mim tem futuro porque eu acredito no ser humano”.

 

O painel terminou com a música que nos relembrou que não nos podem tirar as palavras e portanto há que (por parte dos Animadores) intervir de forma cirúrgica para que os idosos tenham o seu espaço na sociedade, e que seja um espaço de inclusão e não um que o condene à marginalização e exclusão.

 

No painel V- Animação Sociocultural na Terceira Idade: Educação para a Vida e Educação para a Morte, pelas intervenções da doutoranda Jenny Sousa, professor doutor Parra Marujo, reflectimos uma questão tradicionalmente incómoda: a morte.

 

Colocaram-se questões: em que mundo vivemos hoje? Que responsabilidade temos no tempo e o que fazemos com ele? Assumiu-se a Animação Sociocultural como uma pedagogia específica de reequilíbrio entre tempo e experiências vividas, dando-se ênfase ao papel do Animador como aquele que, também, deve ajudar o idoso a encontrar a sua saúde, levando-o a ver-se como responsável pelo seu corpo, alma e consciência.

 

No painel VI- Animação Sociocultural, Gerontologia, Geriatria, Voluntariado e Empreendedorismo Social na Terceira Idade, pelas comunicações do professor doutor Jacinto Jardim, Dr.ª Teresa Ferreira e professora doutora Maria Teresa Rey, reflectiram-se questões como ter uma atitude mental de cultura empreendedora, de ter capacidade para identificar uma oportunidade e acrescentar um novo valor. E reforçamos a palavra valor, presente na maioria dos painéis e que revela precisamente a necessidade de recuperar e trabalhar os mesmos, encaixando-os no contexto actual. Debateu-se a questão do voluntariado sénior, uma forma de fomentar o envelhecimento activo, na medida em que o idoso tendo terminado a sua fase laboral se sente e é de facto útil.

 

Percebeu-se ainda que até em projectos de intervenção juvenil é possível e necessário fazer-se o elo de comunicação com o idoso.

 

Pelo relato de experiências feito pela Dr.ª Marichu Gonzalez, Dr. Manuel Barros, Dr.ª Teresa Ribeiro e Dr. Jorge Rosado percebemos de forma prática, concreta como a Animação Sociocultural se assume também como uma pedagogia de aproximação de gerações.

 

Reforçou-se a necessidade de dar ao idoso o protagonismo, combatendo a tradicional mas cada vez mais ultrapassada visão paternalista da Terceira Idade e que frequentemente nos leva a nós, Animadores, a não sabermos bem qual o nosso papel e função específica e uma vez mais procurou-se dar voz a novos projectos ajustados às necessidades específicas do público visado neste congresso.

 

A intervenção do Dr. Jorge Rosado fez-nos ainda reflectir sobre os novos espaços de intervenção da Animação Sociocultural, como o contexto hospitalar. Novos espaços, novos públicos, novos valores que nos exigem uma actualização constante.

 

No painel VII- Animação Sociocultural, Geriatria, Saúde, Bem-estar e Envelhecimento Activo, a cargo do professor doutor Francisco Godinho e da doutoranda Patrícia Pires, entramos em contacto com novos termos como a gerontotecnologia e a engenharia da reabilitação e uma vez mais foi reforçada a necessidade de trabalho directo com o idoso, do contacto entre gerações que é promotor de experiências, saberes e fazeres.

 

No painel VIII- A Animação Sociocultural e Gerontologia Social, Cultural e Educativa, pelas comunicações da professora doutora Rosa Marina Afonso, professor doutor Manuel Loureiro, professora doutora Lucília Salgado, professor doutor Joaquim Escola, professora doutora Rita Barros, reflectimos sobre os estereótipos associados à velhice, concluindo que há que os desconstruir, precisamente pela interacção com as pessoas idosas.

 

A professora doutora Lucília Salgado lembrou a questão da prevalência do valor económico que reduz a pessoa a um recurso e não a dignifica enquanto ser.

 

A Animação Sociocultural vem lembrar à sociedade do conhecimento que temos que enriquecer os espaços de formação das pessoas idosas e assim promover efectivamente o envelhecimento activo.

 

As tecnologias de informação e comunicação foram trazidas ao debate como formas de promover o conhecimento e permitir a inclusão.

 

O professor doutor Joaquim Escola abordou a questão do ser estar reduzido à sua função, questionado sobre as medidas a tomar para promover a inclusão do idoso, dando ênfase à inclusão política. E pela segunda vez a música entrou nos ouvidos e na alma dos presentes como forma de despertar os sentidos e gerar a reflexão crítica. E como os idosos não estão “fora de moda” como nos cata Rui Veloso, é que este congresso fez, faz e fará todo o sentido para que este público tenha a atenção e os cuidados que necessita e merece.

 

Há que dar poder aos idosos, dar-lhes dignidade por uma escuta activa que lhes confira realmente o direito à escolha.

 

Terminou-se este congresso com uma mesa redonda subordinada ao tema O Perfil do Animador com os oradores doutorando Rui Fonte, Dr.ª Marina Maltez e mestre Fernanda Barroso.

 

Debateram-se as questões relacionadas com a promoção do encontro entre gerações, salientando-se o papel e perfil do Animador que se quer capaz no âmbito do envelhecimento activo e produtivo.

 

Pelo doutorando Rui Fonte a música entrou uma vez mais no auditório numa mensagem de se criar Tempo para o encontro entre as diferentes faixas etárias.

 

 

 

Boticas, 25 de Maio de 2013

25
Mai13

Encontro(s) - Cena 10:- "Envelhecer nas terras do Barroso" e outras considerações

 

 

 

SESSÃO DE ENCERRAMENTO

DO

I CONGRESSO INTERNACIONAL

 

A ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL, GERONTOLOGIA E GERIATRIA

A INTERVENÇÃO SOCIAL, CULTURAL E EDUCATIVA NA TERCEIRA IDADE

 

 

 

 

Foi com muito gosto que estive presente no I Congresso Internacional subordinado ao tema "A Animação Sociocultural, Gerontologia e Geriatria - A Intervenção Social, Cultural e Educariva na Terceira Idade" que decorreu na vila de Boticas, Trás-os-Montes, Barroso, nos dias 23, 24 e 25 do corrente mês de Maio.

 

Assisti à maior parte dos Painéis que constavam do Programa.

 

Temas candentes os que aqui se trataram, a necessitarem de uma profunda e profícua reflexão não só por parte dos investigadores, docentes e técnicos das áreas nele tratado, em especial dos que se dedicam à animação sociocultural, à gerontologia e à geriatria mas, e essencialmente, de uma consciencialização mais profunda da sociedade em geral.

 

Perante uma sociedade que, no futuro, contará com uma parcela importante, maior e significativa de gerontes, em comparação com as outras classes etárias, qual o papel que estes podem e devem desempenhar na sociedade do futuro?

 

Urge pensar em formas institucionais que, para além de se preocuparem com os cuidados ao idoso, em termos de concitar um melhor envelhecimento, de uma forma ativa, este também possa, e deva, ser produtivo, contribuindo, assim, para que esta fatia,  ou parcela cada vez mais significativa da sociedade, dê o seu contributo, alicerçada na experiência de toda uma vida, para a construção de uma sociedade mais solidária, mais justa, mais equitativa e mais ética, porque baseada numa profunda necessidade de uma efetiva relação e convivência intergeracional que conta com todos como iguais.

 

Neste sentido, há que revolucionar mentalidades, criando uma cultura social que olha para esta parcela cada vez mais significativa da população do fututro não com comiseração e benevolência, segregando-a, mas com atores, partícipes importantes na construção da sociedade do futuro.

 

Por isso, há que criar novos palcos, novos espaços de representação para estes importantes atores, a exigir uma alteração radical das políticas públicas seguidas até aqui.

 

Os idosos e reformados, não podem ser olhados, ou sequer tratados, pelos decisores políticos, como a parte mais fraca, com os quais se têm a maior falta de respeito e com os quais se cometem as maiores atropelias em termos dos seus direitos e dignidade, tal como infelizmente está a acontecer nos tempos que correm.

 

Há que contar com eles. Fazendo-os entrar na agenda política, não pelos piores motivos, outrossim, como um ativo importante da sociedade. Por tal fato não devem ser provocados, muito pelo contrário, devem ser apreciados, acarinhados, contando com eles para as novas tarefas do futuro. Porque, nos tempos da crise para a qual nos lançaram, eles têm sido, em grande medida, o suporte económico, moral, afetivo e efetivo das novas gerações.

 

É com o seu saber e experiência de vida, juntamente com as novas gerações, que uma outra sociedade será possível erguer-se. Uma sociedade sem exclusões e de partilha.

 

Deixo agora aqui as palavras sábias do Padre Fontes, proferidas na Sessão de Encerramento do Congresso. Palavras que ele tão bem soube apanhar da voz e extrair do sentir do povo do barroso com quem lidou e viveu uma vida inteira quando fala de:

 

ENVELHECER NAS TERRAS DE BARROSO

 

"Há uma arte de envelhecer, viver com regras ditadas pela tradição, da sabedoria popular barrosã. Vamos dar uma olhadela aos ditos e provérbios que andam de boca em boca e marcam a conduta geral de novos e velhos. Já que ditos velhos são evangelhos.

 

São muitos e valiosos os valores positivos,  apreciados pelas famílias dos nossos idosos e pela sociedade que os rodeia.

 

Velhos são os trapos, para dizer que ainda tem muito para dar. Quem de novo baila bem, de velho jeito lhe tem. Bailar cantar faz bem: quem canta seu mal espanta. Gostam de contar, cantar, rezar, ser ouvidos, orgulham-se até do sofrimento passado. Dizia uma idosa desgostosa da vida de emigrante: en France rien chante, au Portugal, tout le monde chante.

 

É triste ser velho, dizem em desabafo. Um velho triste é um triste velho. Para muitos é a única idade que não se recorda, nem deixa saudades. Bocage escrevia: já Bocage não sou, à cova escura, meu estro vai parar desfeito em vento…

 

São o equilíbrio e estabilidade da família, pelo saber de experiencia feito. Os avôs são pais duas vezes, além da genética, passam a tradição, a cultura barrosã, os contos, as lendas, as artes e ofícios, as rezas e mezinhas, a medicina ervanária, o cancioneiro e jogos infantis, a religiosidade popular, aos netos. Sentem-se válidos, com gosto e ilusão pela vida. Quem corre por gosto não cansa.

 

Têm o seu lugar de destaque na família, na mesa, e na comunidade da aldeia e é cabeça de casal, representa a família, conforme as posses ocupa o seu tempo, na agricultura, vai coas vacas, apoiado no cajato, com a rês, leva o burro a comer, vai à erva para os porcos de ceva, torna a água aos lameiros, vai à feira e as festas da sua devoção, cumpre promessas aos santos, vai aos velórios e funerais, cuida das campas dos seus.

 

O velho tinha razão. Atrás de mim virá, quem bom de mim fará. Serve de consolação para os mais velhos quando econhecidos. O velho e o menino vão para onde lhe fizerem carinho.

 

Envelhecer e viver no mundo rural Barrosão, na casinha pobre, mas cheia de memórias e vivências, com o seu pé-de-meia, a reforma poupada, para o fim da vida, ou para amimar filhos e netos, com nova ou velha profissão, prolonga a vida e dá-lhe sabor.

 

Hoje o telefone, substituiu as cartas. Muitos não sabem ler.  O Ipad, o skype, o facebook aproximam os avós dos netos e filhos distantes mantendo a proximidade e companhia, se iniciados e ensinados a descobrir esta nova tecnologia.

 

Gosta de regressar vivo ou morto ao seu torrão natal, onde é estimado, chorado e sufragado, onde repousam os antepassados. Ruim é o passaro que não volta à sua ribeira.  

 

São os idosos os mais resistentes povoadores, animadores e defensores enraizados, heróis vencedores,  combatentes na agricultura, defesa do ambiente, educadores, moradores, conservadores de cultura popular, jogos, medicina, religiosidade popular, que merecem carinho, dedicação, atenção, na esperança de um futuro promissor de bem estar com a natureza e a família. Em aldeias desertas restam eles como guias turísticos,  de rostos e mãos enrugadas, alvos de fotógrafos e cineastas, jornalistas. São enciclopédia aberta, inédita, neste Barroso  antigo, velho, paraíso a descobrir.

Cada idoso que morre é uma biblioteca que se enterra, e perde, se não for registada. Mais velho que a Sé de Braga, diz-se para valorizar o saber do idoso. O diabo sabe muito, porque é velho.

 

ASPETOS NEGATIVOS

 

A ameaça de maus tratos, a doença, a solidão, o abandono, a pressão para fazer testamento, escritura, doação, ou venda de bens, o perigo da braseira, de caírem ao lume de morrerem sem amparo, são muitas vezes pressões que aceleram o fim, o desgosto de viver, lagrimas de desconforto. Chegam a pedir a Deus que os leve, desabafam dizendo que são um estorvo, que já não servem para nada.

 

O que o berço dá a tumba o leva. Acabadas as obras da casa diz-se: ninho feito, pássaro morto. Velho mudado é velho enterrado. Alguns mudam cada mês, andam à roda pelos filhos, ou estranhos, muitas vezes no estrangeiro desgostosos, fechados, onde não conhecem nada nem ninguém. Pedra mudada não cria musgo. Nem sempre se adaptam ao novo ambiente, às noras ou sogras.   Filhos criados, trabalhos dobrados.

 

São muitas vezes os únicos moradores na aldeia, no bairro.

 

Lembramos a lenda do filho que leva o velho ao monte e ao deixa-lo lhe dá a capa, o velho lhe diz: leva metade da capa, para quando fores velho  te trouxerem para o monte.  Filho és pai serás como fizeres assim toparás. Casa de pais, escola de filhos. Cada um sair aos seus não é pecado.

 

Quem faz testamento, antes que morra, merece com uma cachaporra. Os novíssimos do velho são 4: Muita tosse, pouca posse, pingar-lhe o nariz, não saber o que diz. Cabra manca não tem sesta, e se a tem pouco lhe presta. Burro velho, erva tenra. Burro velho não aprende línguas. Burro velho não toma andadura e se a tem pouco lhe dura. Velhos ao canto.  Homem velho, mulher nova, filhos até à cova. Casamento e mortalha no céu se talham.

 

Em toda a Europa na terceira quarta da quaresma serrava-se a velha, avó. Em Vilar de Perdizes mantemos o ritual que consiste num cantar um responso em latim de noite à porta das avós, terminando com ruídos de latas, serras, gritos. Em Tourém é de dia que os rapazes da escola vão atormentar cada velha até lhe darem um pouco de palha que simboliza a velha e vão queimá-la com barulho de muitos chocalhos que abanam com gritos e choros: minha velhinha... Em S. António de Monforte os homens fazem sair de casa as avós, que vão todas juntas pela manhã passar o dia, fora da aldeia, no monte Pitorca, só regressando à noite.

 

Muitos são vítimas do abandono dos filhos, emigrados ou não. É melhor ser cão na vila, que velho em muitas aldeias, criticam algumas famílias. Outros ficam-lhes com as magras reformas, em troca ou promessa de cuidados, usando as economias dos pensionistas para combater a crise atual e o desemprego de filhos e netos.

 

O cancioneiro Barrosão está cheio de romances, cantigas  referindo-se aos defeitos e valores do idoso.

 

Hei-de amar-te até à morte

Até depois de morrer,

Até debaixo da terra,

Meu amor podendo ser.

 

Do tempo que já passou

Do tempo que já  lá vai.

Minha mãe já se não lembra,

Quando namorou meu pai.

 

 

Eu  casei-me com um velho

Hei-de me fartar de rir

Fiz-lhe a cama alta

Onde não possa subir.

 

Casei-me com uma velha

Por causa da filharada.

Pega o diabo da velha

Trás-me dez duma ninhada.

 

Minha sogra morreu ontem,

O diabo vá com ela.

Deixou-me a chave da adega

O vinho bebeu-o ela…

 

Eu hei-de morrer cantando,

Já que chorando nasci

Não tenho porque chorar

Chore o diabo por ti.

 

Bocage poeta de sonetos brilhantes, confessou:

Bocage não sou, à cova escura, meu estro vai parar desfeito em vento… eu me arrependo…. Oh se me creste gente impia, rasga meus versos cre na eternidade.

 

Citando Camões, grande Camões…só terei paz na sepultura."

 

Zassu

24
Mai13

Encontro(s) - Cena 9:- Animação Turística com a terceira idade

 

De 23 a 25 do corrente mês, Boticas está sendo palco do I Congresso Internacional de ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL, GERONTOLOGIA E GERIATRIA - A INTERVENÇÃO SOCIAL, CULTURAL E EDUCATIVA NA TERCEIRA IDADE.

 

Assistimos hoje de manhã ao Painel III subordinado ao tema "Animação Sociocultural e Ócio na Terceira Idade".

 

Deixo aqui um excerto da parte final da intervenção do meu amigo António Souza Silva que falou sobre «Recreação, Lazer, Animação Turística e Educação Intergeracional na Terceira Idade»:

 

 

Animação Turística com a Terceira Idade numa perspetiva de educação intergeracional

 

 

"As viagens, como experiências turísticas, deverão não só estar profundamente vinculadas ao espírito do lugar e das suas gentes como fomentarem, para além do gosto de viajar, a aprendizagem (cultural), nos lugares de destino, levando a cabo vivência de experiências significativas, em que a comunidade recetora evidencia o grau de participação e compromisso que tem com o seu ambiente (cultura, natureza, paisagem, gastronomia, etc.), sentindo-se protagonista, responsável por mostrar, manter e conservar um património que faz parte integrante da sua identidade e, com ele, ativamente, construir o seu próprio desenvolvimento.

 

Se tivermos em linha de conta a terceira idade como fonte de recursos, como um sujeito maduro, ativo, capaz de oferecer respostas criativas ao conjunto de mudanças sociais, não só daquelas que redefinem a experiência do envelhecimento como aquelas que contribuem para trazer à sociedade novas formas de sociabilidade e de lazer, com certeza nos daremos conta que a idade madura ou terceira idade é um potencial, uma fonte de recursos a não desperdiçar, fundamentalmente em termos educacionais, com grande proveito não só para o seu desenvolvimento pessoal como para o desenvolvimento local em geral e turístico, em especial.

 

O indivíduo da terceira idade (maduro ou idoso) é detentor de uma experiência única, de uma história que deve ser passada e ouvida com atenção pelos mais jovens, pois a memória, como bem valioso, deve ser preservada, revelando-se um extraordinário recurso para a dinamização e desenvolvimento da comunidade. É com ele (indivíduo da terceira idade), com todo o seu passado e com a sua dinamização para a ação, que a comunidade aprofunda a sua própria identidade, trazendo mais dinâmica e mais vida à sua existência, constituindo-se num fator dinâmico suscetível de aportar mais-valia à função turística, caso a comunidade assim a queira assumir.

 

Do nosso ponto de vista, as experiências turísticas que queiram estar vinculadas ao espírito do lugar e das suas gentes bem como à aprendizagem (cultural), nos lugares de destino, têm de contar com esta gente, sob pena de as experiências não serem verdadeiramente autênticas, específicas, por falta de um dos agentes na relação que explique o significado do discurso que foi vivido e que agora, se quisermos, deve ser reconstruído, e consequentemente partilhado, naquela comunidade.

 

Por isso valorizamos significativamente o papel das associações e de outras instituições, nomeadamente as Universidades da Terceira Idade, que trabalham na comunidade, apelando à participação empenhada das pessoas da terceira idade na sua construção, promoção e dinamização do desenvolvimento, numa perspetiva intergeracional.

 

[Por isso somos extremamente críticos quanto à forma como as instituições (associações, organismos públicos e empresas) encaram e tratam os seus ex-trabalhadores quando retirados para a idade da reforma ou aposentação, não cuidando, mais, desperdiçando, um potencial que contribuiu para a sua existência, preservação e manutenção!]

 

Sem estes elementos (associações e instituições socioculturais e com a terceira idade), caldo e cadinho onde se “apura” a cultura identitária de uma comunidade, não podem surgir experiências turísticas verdadeiramente significativas, valiosas e memoráveis (para os turistas).

 

Porque é, desta feita, que se pode dar um outro e autêntico sentido à vida dos idosos, tornando-os elementos úteis, dinamizadores e promotores não só da sua própria vida como da comunidade onde se inserem.

 

Lares de idosos, hotéis geriátricos, residências para a terceira idade, ou qualquer outro nome que queiram inventar? Sim! Unicamente na medida em que ao idoso lhe falte autonomia suficiente para saber dirigir a sua vida. E, mesmo aqui, ele tem ainda muita forma de ser útil!

 

Entretanto, a sua casa e a sua comunidade de inserção, e do seu viver quotidiano, devem ser o palco privilegiado da sua ação, da sua vida."

 

 

 

Zassu

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