Poesia e Arte 77
POESIA E ARTE
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
ABSOLVIÇÃO
Incendeiam-me ainda os beijos que me não deste
E cegam-me os acenos que me não fizeste
Da janela irreal onde o teu vulto
Era uma alucinação dos meus sentidos.
Mas, decorrida a vida, e o oculto
Nestes versos doridos,
A saber que não sabes que te amei
E cantei,
E nem mesmo imaginas quem eu sou
E como é solitária e dói a minha humanidade,
Em vez de te acusar
E me culpar,
Maldigo o arbítrio da fatalidade
Que cruelmente nos desencontrou.
Coimbra, 11 de Dezembro de 1992
(Salvador Dali - Mulher na janela em Figueres)