Poesia e Arte 73
POESIA E ARTE
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA
A ESFINGE
Sei a resposta inútil
Que também vou dar:
O enigma sou eu.
A criança, o adulto e o ancião
Que, sucessivamente,
Sem perder as feições de cada um,
Atónito, fui sendo pela vida fora.
Sempre a sonhar-me, candidamente,
Eterno e necessário
à cósmica harmonia,
E dia a dia
Mais triste e consciente
Que de modo nenhum o monstro desumano
Me pouparia,
Quando chegasse a hora
Do nosso encontro.
Quem se decifra
Dita a própria setença.
No caminho de Tebas principia a morte.
Coimbra, 1 de Junho de 1989