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15
Dez17

Poesia e Fotografia 535

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

HORÓSCOPO


É o teu dom:
Perpetuar
Cada hora da vida
Num poema.
O que já não perdura na lembrança
A pulsar ainda
Na beleza dum verso.
Mas serás infeliz,
Sempre adivinho a ler
E a entender
O que a letra não diz.


Coimbra, 25 de Julho de 1983

CRONICAS9.gif

14
Dez17

Poesia e Fotografia 534

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

PRESCRIÇÃO


Deixa passar as horas
Sem as contar.
Alheia a cada instante,
Vive, a viver a vida, a eternidade.
Feliz é quem não sabe
A própria idade
E em nenhum ano pode envelhecer.
Dura encantada na realidade.
Negar o tempo é o modo de o vencer.


Coimbra, 30 de Junho de 1983

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13
Dez17

Poesia e Fotografia 533

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

MALDIÇÃO


Do fundo do abismo onde caí,
Deste abismo que sempre pressenti
Que seria a voragem derradeira
Do meu caminho,
Levanto o pensamento.
E nenhum céu vislumbro lá no alto
Que me sirva de alento,
A encher de azul o poço de negrura.
Aqui hei-de morrer, assim hei-de morrer,
A saber
Que não terei mais luz na prévia sepultura.


Ah, deuses! Ah, mistérios! Ah, destinos!
Que fada má gizou um tal desfecho
A uma vida inocente de viver?!
Cumpri todas as leis da condição;
Comi o pão
Com o suor do rosto;
Dei a cada desgosto
As lágrimas devidas.
E agora este fim, esta agonia cega!
Estas horas vestidas
Dum luto que as renega!


Coimbra, 14 de Maio de 1983

1920062.jpg

12
Dez17

Poesia e Fotografia 532

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

SINA


Avivo na memória
A longa trajectória
Da minha vida,
Curva de um penitente
Impenitente
Que renega à chegada
Inconformada
A hora involuntária da partida.


O que pode um mortal!
Desafiar anos a fio o natural,
Por teimosia,
Rebeldia
E brio,
A saber
Que o destino é morrer
No fim do desafio…


Coimbra, 16 de Março de 1983

alone-wallpapers-6.jpg

11
Dez17

Poesia e Fotografia 531

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

ADÁGIO


Tão curta a vida e tão cumprido o tempo!...
Feliz quem o não sente.
Quem respira tão fundo
O ar do mundo,
Que vive em cada instante eternamente.


Coimbra, 21 de Fevereiro de 1983

Happiness-girl-rainbow-umbrella-warmth-nature-sky-

10
Dez17

Poesia e Fotografia 530

 

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

 

NATAL


Solstício de inverno.
Aqui estou novamente a festejá-lo
À fogueira dos meus antepassados
Das cavernas.
Neva-me na lembrança.
E sonho a primavera
Florida nos sentidos.
Consciente da fera
Que nesses tempos idos
Também era,
Imagino um segundo nascimento
Sobrenatural
Da minha humanidade.
Na humildade
Dum presépio ideal,
Emblematizo essa virtualidade.
E chamo-lhe Natal.


S. Martinho de Anta, 25 de Dezembro de 1982

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09
Dez17

Poesia e Fotografia 529

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

 

CILÍCIO


São tristes estes dias de velhice.
O sol já não aquece,
Nenhum sonho apetece,
Os versos desfalecem ao nascer.
Mas há não sei que sádico prazer,
Que infernal sedução,
Numa melancolia assim desamparada.
É como ter razão
Numa causa perdida, mal julgada.


Coimbra, 11 de Novembro de 1982

old-man-bg.jpg

08
Dez17

Poesia e Fotografia 528

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

 

RESSONÂNCIA


Desfaço com palavras o silêncio
Desta hora vazia.
E fico a ouvir, num desespero atroz,
A solfa ensandecida.
Serão versos que canto sem medida,
Ou ergo apenas a voz
Num túmulo de vida?


Coimbra, 29 de Setembro de 1982

Musik.jpg_1784211333.jpg

07
Dez17

Poesia e Arte 67

 

 

POESIA E ARTE

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

 

PÂNICO


Nestas horas sem versos,
É o silêncio da morte que adivinho.
Um silêncio maninho
Que entorpece os sentidos.
A vida
Anoitecida
Na lembrança,
Com todos os pecados cometidos
Já sem peso no prato da balança.

Assim são condenados os poetas
À visão do seu nada,
Quando as musas cruéis os emudecem.
Quando parecem
Múmias a apodrecer.
Quando em vão querem ter
A voz passada.
A voz insone que os fazia se
Os arautos da eterna madrugada.


Coimbra, 21 de Agosto de 1982

Terpischore,_the_muse_of_choir_lyric_poetry_by_Fra

 (Terpischore - The muse of choir lyric poetry, by François Boucher)

06
Dez17

Poesia e Fotografia 527

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

 

ALGARVE


O mistério do mar,
O milagre do sol
E a graça da paisagem
Na moldura dos olhos.
E a paz feliz de que tenho o que é meu.
Ah, terra bem-amada!
Bênção da natureza
Caiada
De pureza
E nimbada
De saudade.
Algarve. Liberdade
Dos sentidos.
Férias ao sul
Da imaginação.
Ainda a mesma nação,
Mas com outros sinais.
E a memória também
De que todo o além
Começa neste cais.


Albufeira, 27 de Julho de 1982

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