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zassu

30
Nov16

Poesia e Arte 43

 

 

POESIA E ARTE
 
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

EXORTAÇÃO


Em nome do teu nome,
Que é viril,
E leal,
E limpo, na concisa brevidade
_ Homem, lembra-te bem! -,
Sê viril,
E leal,
E limpo na concisa condição.
Traz à compreensão
Todos os sentimentos recalcados
De que te sentes dono envergonhado;
Leva, doirado,
O sol da consciência
Às íntimas funduras do teu ser,
Onde moram
Esses monstros que temes enfrentar.
Os leões da caverna só devoram
Quem os ouve rugir e se recusa a entrar...


Chaves, 27 de Setembro de 1960

O leão da caverna Vogelherd .jpg

(Escultura do leão extinto da caverna Vogelherd)

- https://arqueologiaupf.wordpress.com/2013/08/27/o-leao-da-caverna-vogelherd-recuperou-sua-cabeca/ -

 

27
Nov16

Poesia e Fotografia 349

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

REGRESSO


Pátria magra - meu corpo figurado...
Meu pobre Portugal de pele e osso!
Nada na tua imagem se alterou:
A casca e o caroço
Dum sonho que mirrou...


Vilar Formoso, 13 de Junho de 1960

ameixaseca.jpg

24
Nov16

Poesia e Fotografia 348

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA


POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

TEIA DE ARANHA


Teci durante a noite a teia astuciosa
Dum poema.
Armei o laço ao sol que há-de nascer.
Rede frágil de versos,
É nela que o meu sono se futura
Eterno e natural,
Embalado na própria sepultura.
Vens ou não vens agora, astro real,
Doirar os fios desta baba impura?


Coimbra, 7 de Junho de 1960

33069873.jpg

22
Nov16

Poesia e Arte 42

 

 

POESIA E ARTE
 
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

ANTÍFONA


Louvemos,
Exaltemos,
Glorifiquemos Pã, deus dos rebanhos.
Lanígeros na alma,
Reses por sujeição,
Do redil onde, mansos, ruminamos
E balimos,
Ergamos mais a voz e celebremos
O celeste patrono dos ovinos.
O Júpiter, o Pai, divino entre os divinos,
Que lhe levantem, sem humilhação,
Livres e altos hinos
Os homens dignos dessa condição.


Coimbra, 2 de Maio de 1960

pã-lenda.jpg

21
Nov16

Poesia e Fotografia 347

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA
 
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

PASMO


Alegria das Flores antes dos frutos...
Gratuita confiança...Quem te fez tão criança
Na Primavera,
Vida enrugada e triste?
A morte existe,
A razão desespera,
E tu, feliz, aberta num sorriso,
Como se o mundo fosse o paraíso!


São Martinho de Anta, 17 de Abril de 1960

P5020660.jpg

19
Nov16

Poesia e Fotografia 346

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA
 
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

DÚVIDA


O cético sorriso da paisagem
Quando, funéreo, o sino
Avisa o mundo de que vai cerrar-se
O véu das trevas da Semana Santa!
A seiva é tanta
A borbulhar nas vinhas,
Voam com tal volúpia as andorinhas
Rente ao chão semeado,
É tão fresco, ligeiro e perfumado
O ar que se respira,
Que tem de ser mentira
O negro pesadelo do anunciado.


S. Martinho de Anta, 12 de Abril de 1960

_NOC4909.jpg

19
Nov16

Poesia e Arte 41

 

 

POESIA E ARTE

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

PEDAGOGIA


Brinca enquanto souberes!
Tudo o que é bom e belo
Se desaprende...
A vida compra e vende
A perdição.
Alheado e feliz,
Brinca no mundo da imaginação,
Que nenhum outro mundo contradiz!


Brinca instintivamente
Como um bicho!
Fura os olhos do tempo,
E à volta do seu pasmo alvar
DE cabra-cega-tonta,
A saltar e a correr,
Desafronta
O adulto que hás-de ser!


Coimbra, 16 de Março de 1960

cabracega-goya-prado.jpg

 (Cabra-cega, de Francisco Goya/Museu do Prado)

18
Nov16

Poesia e Fotografia 345

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA
 
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

PRESERVAÇÃO


Chama-se liberdade o bem que sentes,
Águia que pairas sobre as serranias;
Chamam-se tiranias
Os acenos que o mundo
Cá de baixo te faz;
Não desças do teu céu de solidão,
Pomba da verdadeira paz,
Imagem de nenhuma servidão!


Serra da Estrela, 27 de Fevereiro de 1960

FB_IMG_1438811354002.jpg

17
Nov16

Poesia e Fotografia 344

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA
 
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

CIRCO


Lançado às feras, ei-lo ao sol da arena
A ser ativamente devorado.
Dia romano, imperial, sagrado,
De martírio e verbena.


Da tribuna, aclamado,
Nero, balofo, acena;
E o seu gesto condena
Toda a humana expressão do condenado.


Cortiço a ressoar, o Coliseu
Pede o nirvana, o breu
Da total embriaguez;


E a fúria mercenário dos leões
Sacia-se na carne e nas feições
Da vítima passiva do entremez.


Coimbra, 15 de Janeiro de 1960

Coliseu.jpg

 

16
Nov16

Poesia e Fotografia 343

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA
 
POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

ESTRELA DO OCIDENTE


Por teus olhos acesos de inocência
Me vou guiando agora, que anoitece.
Rei Mago que procura e desconhece
O caminho,
Sigo aquele que adivinho
Anunciado
Nessa luz só de luz adivinhada,
Infância humana, humana madrugada.


Presépio é qualquer berço
Onde a nudez do mundo tem calor
E o amor
Recomeça.
Leva-me, pois depressa,
Através do deserto desta vida,
À Belém prometida...
Ou é tu a promessa?


Coimbra, Natal de 1959

gruta.jpg

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