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zassu

25
Dez15

Poesia e Fotografia 215

 

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

NATAL


Foi tudo tão pontual
Que fiquei maravilhado.
Caiu neve no telhado
E juntou-se o mesmo gado
No curral.


Nem as palhas da pobreza
Faltaram na manjedoira!
Palhas babadas da toira
Que ruminava a grandeza
Do milagre pressentido.
Os bichos e a natureza
No palco já conhecido.


Mas afinal, o cenário
Não bastou.
Fiado no calendário,
O homem nem perguntou
Se Deus era necessário...
E Deus não representou.


S. Martinho de Anta, 25 de Dezembro de 1950

presepio.jpg

21
Dez15

Poesia e Fotografia 214

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

NANA


Poeta,
Criança,
Fecha os olhos, descansa!
Inquieta,
Que siga a tua alma,
Esse desesperado catavento...
Dorme!
Irreal e conforme,
O poema virá no seu momento.


Linha do Norte, 21 de Dezembro de 1950

FB_IMG_1445718704565.jpg

18
Dez15

Poesia e Fotografia 213

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

AGENDA


Ganhar terra nos sentidos,
Perder terra na memória...
Que história
Triste e mesquinha
A do homem que caminha!
Um palmo de descoberta,
Um metro de esquecimento...


Só na retina deserta
Cabe a luz do firmamento...


Penamacor, 10 de Dezembro de 1950

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17
Dez15

Poesia e Arte 21

 

 

POESIA E ARTE

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

CONDENAÇÃO


Tenho a semente, mas não tenho a terra
Da sementeira.
Nesta pequena leira
Portuguesa
Dá-se mal a beleza
Que me traria a paz do lavrador.
E a mão fecunda, a fustigar o vento,
Desenha-me somente o resplandor
Dum tágico e maninho sofrimento.


Coimbra, 6 de Novembro de 1950

FB_IMG_1442823871369.jpg

16
Dez15

Poesia e Fotografia 212

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

SILÊNCIO


É silêncio que pedes,
E é silêncio que peço.
Mas o poema é o som dos leves passos
De uma aventura.
Se nada ouves,
Se nada ouço,
É que não há Poesia.
E, então,
Ai de nós
E da nossa harmonia!

 

Coimbra, 22 de Outubro de 1950

FB_IMG_1443568096759.jpg

14
Dez15

Poesia e Fotografia 211

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

AGONIA


Quando virás, dia do meu sossego,
Domingo sem as mágoas da semana?
No calendário não, porque me engana
Sempre que lhe confio
Os secretos desejos
Do coração;
Mas na tenção do tempo,
Quando virás,
Hora feliz do grande esquecimento?
Morro, se for preciso...
De tal modo me rói o sofrimento,
Que te compro por tudo, paraíso!


Coimbra 12 de Outubro de 1950

sem nome 01.png

 

13
Dez15

Poesia e Fotografia 210

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

O QUADRANTE


Nas mãos do anjo, o mostrador das horas
Humanas
Continua a medir a eternidade
Da nossa transitória duração...
Divino e tolerante,
O coração,
Que por debaixo da sagrada lousa
Palpita,
Com infinita
Paciência
E compaixão,
Deixa-nos avaliar, como podemos,
A sombra que fazemos
No chão...


Chartres, 6 de Outubro de 1950

quadrnte.jpg

13
Dez15

Poesia e Fotografia 209

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

PARIS


Rosa-dos-ventos, abre os teus punhais!
Desembainha as pétalas em gume
Do falso resplendor de girassol
Que te debrua!
Nua,
Pode ter certa força a crueldade...
Se nas ondas do mar o marinheiro há-de
Morrer de solidão,
Mostra-lhe ao menos o que são
No malmequer postiço os pontos cardeais...
Quatro golpes a olhar o coração
De quem acreditou nos teus sinais,
Zodíaco da eterna perdição!


Paris, 30 de Setembro de 1950

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11
Dez15

Poesia e Fotografia 208

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

ADEUS


Cheio de uma certeza que não tinha,
Com mais calor e luz no coração,
Posso partir agora, minha
Pátria de artista!
Nada secou em ti. Onde floresce
A rama hostil do limoeiro,
Pode florir também o cativeiro
Dos homens...
Branda
Há-de ser sempre a voz da primavera;
Mas eriçada, como numa fera,
O grito que destina e que comanda!


Rasga!
Rasga o teu peito e abre o teu caminho!
O mundo que sonhou e recebeu
O teu pão e o teu vinho
Da cultura,
Pede neste momento a arquitetura
Duma Itália do tempo construída
Sobre a dura
Realidade dos pegões da vida!


Como quem deixa um dia a namorada
A sorrir na moldura do futuro,
E de alma enternecida e confiada
Salta as pedras do muro
Do quintal,
Assim te deixo, alegre e apaixonado...
Imortal,
O teu eterno corpo de mulher
Há-de parir o fruto desejado
Que o meu desejo quer!


Maloia (fronteira ítalo-suíça), 27 de Setembro de 1950

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10
Dez15

Poesia e Fotografia 207

 

POESIA E FOTOGRAFIA

 

POEMAS NOS DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA

 

ELEGIA SICILIANA


Grego não, que não sou, mas que saudades
Duma Grécia de artistas e de crentes
Em paisagens e formas permanentes
Onde se apaga a marca das idades!


Pobre latino, já cristão, perdido
Para os deuses pagãos, homem vencido
Pelo arrocho da cruz,
Não tenho olhos, nem serenidade,
Para olhar a verdade
Desta luz.


Taormina, 22 de Setembro de 1950

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