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zassu

29
Ago12

Encontro(s) - Cena dois:- Incursão no planeamento urbano [Largo das Freiras de Chaves]

ENCONTRO(S)

 

CENA DOIS - INCURSÃO NO PLASNEAMENTO URBANO

        O NOVO «ARRANJO» URBANÍSTICO 

                LARGO DAS FREIRAS 

 

Não nasci em Chaves. Nem tão pouco “vivo” naquela cidade. Tenho, contudo, alguns grandes amigos, nados e criados, naquela linda cidade fronteiriça do nosso Norte de Portugal.

 

Por isso, tenho vindo a seguir, com algum interesse, através do Facebook, no Grupo «Cidade Chaves», toda a discussão à volta do novo “arranjo” do Largo das Freiras. Bem assim aqueloutro realizado no Jardim Público.

 

Quando adolescente costumava ir, pelas férias grandes, a Chaves. E, com efeito, “deliciava-me” o palpitar que, naquela altura e naquele largo, se vivia. Era uma mistura interessante de estudantes, professores, tropa, forasteiros e flavienses comuns que, circulando entre o “Bar Aurora” e o “Café Sport”, tendo como linha de articulação a Rua de Santo António, davam movimento, cor e vida àquele local. Por ali, tudo quanto a Chaves dissesse respeito, acontecia.

 

Hoje, pelo que deduzo dos “desabafos” vertidos pelos intervenientes no diálogo naquele Grupo «Cidade Chaves», do Facebook, está tudo completamente mudado. E têm pena, nostalgia, saudade de um lugar que antes era a imagem de marca da sua cidade e que actualmente se encontra “despida” e sem vida. E apontam o dedo aos que, na sua opinião, são os causadores deste tamanho “assassinato” urbanístico – os senhores do poder local.

 

Gostaria de, por esta forma, “participar” nesta discussão, acareando para o debate a minha perspectiva. Por duas ordens de razões:

  • a primeira, porque sempre me interessaram as questões ligadas à geografia, urbanismo e planeamento. Por gosto e também por razões profissionais;
  • a segunda, porque os amigos que tenho em Chaves merecem que também, com eles, partilhe sobre um tema que lhes é tão caro.

Segundo suponho saber, a intervenção feita naquele local foi no âmbito do Programa Polis. Tenho para mim que, salvo raras e honrosas excepções, a grande maioria das intervenções deste Programa visa(ra)m aquilo a que designo como a obtenção da “cidade espectacular” ou “monumental”. As quais, muitas vezes, levam à perda da noção de lugar ou, como diz Carla Narciso, na sua obra “Espaço Público – Desenho, Organização e Poder”, do «genius locci», provocando a dispersão de grupos sociais que até ali exerciam as suas actividades.

 

Ou seja, não me pareceu ter ali havido uma intervenção urbana equilibrada, no pressuposto da “compreensão das diferentes escalas territoriais de inserção, nos processos de reestruturação, nos elementos arquitectónicos, na morfologia urbana existente e nas tradições” (Carla Narciso, ob. cit)

 

Estou de acordo ainda com aquela autora quando, no mesmo passo, diz que as intervenções urbanas não devem significar uma perda da cidade, mas sim uma melhoria social e estética. Na obtenção deste desiderato é igualmente necessário a participação das comunidades locais nas discussões e intervenções a serem implementadas.

 

Não sei se os meios de consulta pública, conforme prescreve a lei, foram implementados e levados a cabo, conforme refere um dos intervenientes Jb César. Pode acontecer que, tendo-o sido, não o fosse com efectiva participação.

 

Hoje em dia é frequente vermos uma cidade, e os seus espaços públicos, como se fossem uma simples mercadoria. Que é de todos, mas usufruído por muitos poucos. É uma lógica de produção e reprodução do sistema económico que aí está em vigor.

 

Os espaços públicos que antes eram destinados à sociabilização, o verdadeiro espaço vivenciado, como define Henri Lefebvre, convertem-se na representação de um espaço artificial, desligado dos residentes e usuários, onde não se considera as tradições e as identidades locais, onde a escala do projecto não corresponde à escala do ser humano.

 

As actuais estratégias de desenvolvimento compreendem a cidade como uma comunidade onde existe uma vida local e lugares requalificados. Infelizmente, o conceito utilizado tem sido o da requalificação através da arquitectura-espectáculo para ser exibida, gerando uma verdadeira teatralização do espaço público.

O que importa, nesta forma de “fazer cidade”,  é a diferenciação e a capacidade de “ilusão” que as “obras” provocam na sua passagem, desprendidas da  vivência e do quotidiana das pessoas que aí vivem, traduzindo-se, assim, num aniquilamento do lugar.

 

É certo, como dizem Borja & Forn, em “Políticas da Europa e dos Estados para as Cidades”, que o maior desafio do planeamento urbano contemporâneo é aumentar o potencial competitivo das cidades no sentido de responder às demandas globais e atrair recursos humanos e financeiros internacionais. Mas, de acordo com vários exemplos que temos assistido, o planeamento tem sido feito à margem da cidade, com total esquecimento das pessoas que ocupam e vivem nesses espaços.

 

O que, infelizmente, se pretende é construir uma cidade cujos seus espaços “cativem” o “olhar” do turista ou que, em termos mais gerais, propicie uma atractividade em termos económicos, no conserto de uma sociedade totalmente rendida ao mercado.

 

E é bem certo que muito políticos e técnicos se esquecem que o espaço público tem como objectivo principal a apropriação pelo ser humano.

 

O projecto de arquitectura deve dirigir-se aos anseios e aspirações da população que dele vai usufruir, optimizando características fundamentais à sua apropriação. Estes devem possuir características próprias e identitárias que mantenham relações de proximidade e até mesmo de afecto como os mesmos.

 

Desta forma, no que à intervenção do “arranjo” do Largo das Freiras diz respeito, sou a considerar que poderemos, eventualmente, estar não em presença da activação ou da (re)construção de um património dos flavienses. Pelo contrário, assistimos à  “morte” de um legado patrimonial, com fortes poderes de identificação simbólica. Que não lhe conferiu nova vitalidade, como seria de esperar. E presume-se que aquela intervenção tenha sido feita com base, quase exclusiva, na representação meramente económico-turístico, baseada na moda, e na redução dos espaços públicos a mera mercadoria, numa lógica neoliberal.

 

Mas, na minha modesta opinião, não se pode apenas apontar o dedo aos autarcas.

 

É certo que temos de debater e por em causa a visão que o poder político tem sobre o território sobre o qual exerce poder. O poder municipal é o principal impulsionador do espaço público e, em particular, ao nível das cidades pequenas e médias [pela “forte concentração do poder e/ou pela maior visibilidade que ele pode ter”] o resultado destas intervenções pode induzir a persuasão de voto. Basta considerarmos as sucessivas inaugurações de parques, praças e jardins em plena época eleitoral. Desta forma, o espaço público reflecte a corporificação da preocupação e da capacidade especial da autoridade e, deste ponto de vista, surge como um produto personalizado que compromete o voto. A pressão ao nível dos técnicos é claramente elevada ao conceito de arranjo e assim destitui o espaço de uma forma que o deve caracterizar e individualizar. (Sobarzo, in “A Produção do Espaço Público: da dominação à apropriação”).

 

Temos também que entender a dinâmica das cidades e dos seus ocupantes.

 

E de reflectir sobre a(s) nossa(s) identidade(s) e apropriação (ões) como cidadãos pertencentes a uma determinada comunidade.

 

As cidades não são estáticas. Têm espaços que desempenham funções. Funções que servem os seus habitantes e os quais delas se apropriam. A forma como as vivem, e delas se apropriam, distingue-as dos demais. E tornam-se, assim, elementos identificadores específicos de uma determinada comunidade. Que querem preservar pois são o seu selo, a sua marca distintiva. A circunstância deste “grito” ou desta “revolta”, que vejo espelhado neste debate, não reflecte assim esta dinâmica, ou seja, o ir às razões porque aqui chegámos.

 

E, chegado aqui, algumas perguntas deixo no ar:

  • Será que houve novas centralidades que desempenharam esta função?
  • Até que ponto o Largo das Freiras era efectivamente um verdadeiro espaço público de convívio, partilha, e porque não dizê-lo, de exercício efectivo de cidadania?
  • Porque os flavienses deixaram de se identificar com aquele lugar como património da sua cidade ao ponto de permitirem este estado de coisas?
  • Será que Chaves tem “massa crítica” suficiente para fazer face aos senhores todo poderosos do poder político-partidário autárquico, imbuídos de uma mentalidade mercantilizada da coisa pública?

Nas discussões, e em particular quando está em causa o bem público, não podemos ser redutores: temos de abrir o enfoque da nossa visão para ver as coisas. Não há apenas o eu e os outros. Há também o nós.

28
Ago12

Encontro(s) - Cena um:- À volta das amizades do Facebook

 

ENCONTRO(S)

 

CENA UM - À VOLTA DAS «AMIZADES DO FACEBOOK 

  

Faz hoje oito dias, que um dos meus «amigos» do Facebook “partilhava”, na sua página pessoal, uma ligação que tinha a ver com uma entrevista dada por Zygmunt Bauman, no âmbito da iniciativa “Fronteiras do Pensamento”, promovida, entre outros, pelas Universidades Federais, de São Paulo e Porto Alegre, Brasil.

 

Julgava eu que o visionamento daquele entrevista, de meia hora, abordando questões que hoje em dia se põem ao homem na sociedade actual, levaria a que alguns «amigos» “pegaria” em algum dos temas abordados e, a partir daqui, eventualmente, iniciar-se um diálogo e discussão profícua.

 

Puro engano!

 

Apenas uma pessoa «clicou» no «like».

 

Bem sei que estas «amizades» do Facebook são de outra ordem. Mesmo assim estava esperançado que alguém lhe "pegasse".

 

E veio-me à lembrança uma das passagens da entrevista de Bauman, quando se referia ao Facebook, e aos «amigos» desta «rede». Dizia ele tratar-se de uma pessoa solitária, numa multidão de solitários. Só?

 

Será como Bauman diz que a atractividade deste tipo de rede é que não cria compromissos, não estabelece verdadeiros laços humanos, ao não se efectuar uma conexão de verdade como aquela que põe face a face, corpo a corpo e olhos nos olhos as pessoas?

 

Que este tipo de relação não cria compromisso nenhum entre amigos?

 

Que é pura espetacularização da vida privada, em plena praça pública, promovida por esta «rede»?

 

Que a essência desta relação está só no «conectar» e «desconectar» do «amigo» conforme lhe der na “real gana”?

 

Não provocando, assim, situações difíceis que o «desconectar» real de uma amizade concita, na rotura da mesma, e que, até, pode ser traumática?

 

É certo que o Facebook está na moda. E que reflecte um dos “sinais dos tempos” propiciados pela novas tecnologias da informação e comunicação, no contexto de uma sociedade globalizada como aquela em que vivemos.

 

Uma sociedade em que se acentua, de forma cada vez mais clara, os sinais identificadores da perda das identidades e das raízes dos cidadãos. Uma sociedade em que assistimos ao paradoxo de sermos cidadãos do mundo, graças às fantásticas inovações tecnológicas e, ao mesmo tempo, sentimo-nos isolados diante de uma realidade que, muitíssimas vezes, nos escapa do controlo.

 

O homem globalizado do nosso tempo é um homem fragmentado e eticamente confuso, num processo acelerado de homogeneização e uniformização.

 

Sabendo embora tudo isto, pergunto-me:

  • Será que as «amizades», os diálogos e trocas de opinião que «a rede» estabelece e propicia podem-se entender como uma nova forma de “espaço público”, compreendido como ambiente de convívio e de formação da cidadania, sobretudo num momento histórico marcado pelo isolamento cada vez maior dos indivíduos, engaiolados em espaços privados, em nítida demonstração de retrocesso e de vitória do individualismo, em detrimento das conquistas colectivas?

Para mim a pergunta pode ter duas respostas.

 

Pela minha parte prefiro aquela que vê e se serve da «rede» como uma possibilidade de “alcance de campo” que esta propicia, ao ampliar as possibilidades de conhecimento e de “mobilização” do cidadão  em ordem à construção da “polis”. Pela convivência com os seus pares, integrantes da comunidade a que voluntariamente “aderiu” e/ou à qual pertence. Comunidade efectiva e afectiva de homens e mulheres livres. Solidários. Justos. Que procuram o contacto equilibrado e harmónico com a mãe-natureza.

27
Ago12

Encontro(s) - Cena zero:- Encontro prévio

Encontros(s)

 

Cena zero - Encontro prévio

 

 

 

Este é o blog da minha dissidência.

 

Das minhas noites de insónia.

 

E também dos meus sonhos, utopias.

 

Das minhas vigílias e dos meus, muitos, ocasos.

 

Da minha revolta. Das minhas contestações.

 

Da minha raiva.

 

Mais das razões que brotam do coração que da razão.

 

Do desabafo. Tentando deitar cá para fora tudo quanto lhe vai na alma.

 

Irreverente.

 

Contestatário.

 

Transgressor.

 

Inconformado.

 

Falando desta vida estuporada e dos “estupores” que dela se aproveitam.

 

Enfim, de um desenraizado que, na procura das raízes que o prendem a este «terrunho», berra, ameaça, grita, gesticula.

 

Mas que, no fundo, não passa de um ser à procura de sentido para tudo isto.

 

Por isso, este é o blog dos meus confrontos.

 

Voilá – é Zassu!

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